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Chefe-executivo de Hong Kong reforça imagem de líder implacável com ameaças a dissidentes

John Lee afirmou que ativistas 'serão procurados para sempre e terão que viver com medo'

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Igor Patrick
Washington

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"Vamos persegui-los pelo resto das nossas vidas, mesmo que corram até os confins da Terra. (...) Eles serão procurados para sempre e terão que viver com medo, preocupando-se diariamente com a possibilidade de serem presos."

Foi assim que o chefe-executivo de Hong Kong, John Lee, comentou o mandado de prisão emitido a oito dissidentes por supostas violações à lei de segurança nacional.

O chefe-executivo de Hong Kong, John Lee, durante entrevista coletiva na sede do governo do território chinês - Peter Parks - 30.mai.23/AFP

No início da semana, o território chinês divulgou que estava oferecendo recompensa de HK$ 1 milhão (pouco mais de R$ 630 mil) por informações que levassem à captura de cidadãos ligados aos protestos pró-democracia de 2019.

  • Os acusados são advogados, ativistas dos direitos humanos, pesquisadores e ex-políticos que vivem exilados em países como Austrália, EUA e Reino Unido;
  • Hong Kong diz que eles trabalharam em conluio com forças estrangeiras para colocar em risco a segurança da cidade e advogar pela secessão.

O valor pela captura impressionou observadores por ser significativamente maior que o oferecido para quem fornecer informações sobre assassinos e pedófilos que figuram hoje na lista de mais procurados da região.

A jornalistas Lee deu a entender que a alta recompensa fará com que parentes e amigos dos procurados entreguem informações úteis à polícia. Ele afirmou que vai buscar a cooperação da Interpol na captura e na extradição dos acusados, incentivando-os a se entregarem se quiserem reduzir suas penas.

Por que importa: a ordem de prisão dos ativistas tem efeito mais propagandístico que prático. A maior parte deles é residente permanente ou se naturalizou nos países de refúgio, tornando praticamente impossível uma extradição e um envolvimento da Interpol.

O caso não ajuda Lee a melhorar a imagem diante do Ocidente. Ex-responsável pela segurança pública de Hong Kong, ele foi alvo de sanções dos EUA pela participação direta na violenta repressão policial aos protestos de 2019.

As recompensas, somadas às falas interpretadas como cruéis em vários países ocidentais, devem cristalizar a imagem de líder implacável que ele desfruta fora do território chinês.

O que também importa

O ministério da Educação chinês anunciou que vai alocar mais recursos para formar profissionais em áreas-chave para o país. Sem mencionar números, o ministro Huai Jinpeng disse que Pequim planeja concentrar investimentos em ciências avançadas e tecnologias. A ideia é construir 18 novas escolas de engenharia e medicina, 12 dedicadas à pesquisa de "tecnologias futuras" e 50 para o desenvolvimento de "indústrias modernas".

O Vietnã anunciou que vai banir o filme "Barbie". As autoridades do país alegam que uma cena da produção mostra a região do mar do Sul da China como área de soberania chinesa. O jornal estatal Vietnam Plus justificou a medida dizendo que ela é um repúdio a fronteiras que "distorcem a verdade, violam a lei e a soberania territorial vietnamita". Pequim afirmou que vizinhos não deveriam envolver política em "assuntos restritos à troca cultural".

Fique de olho

Xi Jinping escolheu seu novo diretor do Banco Central chinês. Segundo a mídia estatal, Pan Gongsheng, um tecnocrata experiente, será o responsável por guiar a instituição. Conhecido pelo perfil moderado, Pan tem doutorado em economia pela Universidade do Povo, pós-doutorados em Oxford e Harvard e passou boa parte da carreira trabalhando em bancos estatais como o ICBC e ABC.

Sua indicação foi recebida pelo mercado como um sinal de que o Banco Central chinês vai manter uma postura conservadora e, ao contrário dos rumores de possíveis estímulos políticos, seguirá apenas com cortes marginais nas taxas de juros no médio prazo.

Por que importa: A indicação de Pan foi bem recebida pelo mercado, mas foi um choque para observadores políticos.

O tecnocrata não é um "homem de Xi Jinping", ou seja, não é automaticamente alinhado ao líder do país e não trabalhou com ele em setores-chave antes de sua ascensão;

Esses pontos são considerados essenciais no currículo de qualquer alto oficial em Pequim após o congresso do partido no ano passado.

Para ir a fundo

  • O centro de pesquisas carioca BRICS Policy Center lançou uma série de policy papers sobre a economia política no Sul Global. Os textos publicados neste mês tratam das relações de investimento e desenvolvimento entre Brasil, China e África do Sul. Disponível aqui. (gratuito, em inglês)
  • O LabChina (UFRJ) realizou um webinar para discutir a segurança alimentar na China. Com a presença de professores das universidades de Londres, Clark, além da UERJ, no Rio, e da própria UFRJ, a conversa foi gravada e está disponível no YouTube. (gratuito, em português)

  • A Rede Brasileira de Estudos da China abriu inscrições para quem quiser enviar resumos e apresentar trabalhos acadêmicos no seminário "Pesquisar a China", que neste ano acontece presencialmente em outubro na UFABC. Os trabalhos selecionados serão publicados nos anais da Unicamp. Informações aqui. (gratuito, em português)
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