Descrição de chapéu Governo Biden

Agentes dos EUA são instruídos a empurrar crianças migrantes em rio, diz jornal

Funcionário relata 'práticas desumanas' contra quem tenta atravessar fronteira de forma ilegal

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São Paulo

Agentes dos EUA que trabalham na fronteira com o México foram instruídos a empurrar crianças migrantes no Rio Grande, que divide os países, e a negar água para pessoas que tentam entrar no território americano de forma ilegal, segundo emails obtidos pelo jornal britânico The Guardian.

Em mensagem enviada a supervisores, o policial Nicholas Wingate, do Departamento de Segurança Pública do Texas, denuncia o que chama de "ações desumanas" na fronteira e pede mudanças nas políticas para os migrantes. O caso foi revelado inicialmente pelo jornal americano Houston Chronicle.

Soldado da Guarda Nacional do Texas fica de vigília em um acampamento improvisado de migrantes perto da cerca entre EUA e México, em El Paso
Soldado da Guarda Nacional do Texas fica de vigília em um acampamento improvisado de migrantes perto da cerca entre EUA e México, em El Paso - John Moore - 11.mai.23/Getty Images via AFP

O agente narra situações que aconteceram na semana de 24 de junho a 1º de julho. No dia 25, por exemplo, os policiais encontraram um grupo de 120 pessoas tentando cruzar o rio, incluindo crianças e bebês de colo. Eles estavam exaustos e com fome, segundo o relato, mas o comandante ordenou que os agentes da patrulha "empurrassem as pessoas na água, de volta para o México".

No dia 30, os policiais encontraram uma menina de quatro anos que desmaiou devido ao calor de 38º C. Ela e o grupo que a acompanhava também foram empurrados para o rio. No mesmo dia, Wingate relata que uma migrante grávida ficou presa em uma cerca de arame farpado e teve um aborto espontâneo.

No email, o policial pede a retirada de algumas das cercas e mudanças na conduta dos agentes. "O fio [...] não passa de uma armadilha desumana em águas altas e com baixa visibilidade", escreveu. "Devido ao calor extremo, a ordem para não dar água às pessoas também precisa ser revertida imediatamente. Acredito que ultrapassamos a linha do desumano", acrescenta Wingate no email.

Travis Considine, porta-voz do Departamento de Segurança do Texas, afirmou que as alegações do funcionário estavam sob investigação. Ele negou que o departamento tenha como política rejeitar água para os migrantes ou empurrar as pessoas no rio. Já Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, disse à agência de notícias Associated Press que, se verdadeiro, o relato configura ações "horríveis" e "perigosas".

"Estamos falando sobre valores fundamentais do nosso país e a indecência humana que estamos vendo", disse Jean-Pierre. "Se isso for verdade, está completamente errado."

Só em 2022, 2,6 milhões de pessoas foram flagradas atravessando para os EUA de maneira irregular pelo México, número sem precedentes na história americana recente. O fluxo é formado em grande parte por migrantes que fogem da crise na América Latina após a pandemia, acentuada em regiões que já viviam emergências humanitárias, como Venezuela, Haiti e áreas dominadas por criminosos na América Central.

Em maio, o fim da vigência da política batizada de Título 42 fez crescer o temor de uma escalada na crise, com a expectativa de aumento no fluxo de migrantes. A regra havia sido implementada pelo governo Donald Trump, sob a justificativa de crise sanitária na pandemia, e mantida pelo governo de Joe Biden.

Em sentido oposto ao esperado principalmente por republicanos, junho registrou queda na cifra de migrantes flagrados em travessias ilegais —211.575 pessoas foram abordadas, segundo menor número do ano, de acordo com a CBP (Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, na sigla em inglês).

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