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Alemanha muda tom e manda recados para China

Edição da newsletter China, terra do meio aborda documento alemão que questiona Pequim

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Igor Patrick
Washington

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O governo da Alemanha divulgou um documento de 64 páginas que promete sacudir a forma como Berlim se relacionará com Pequim. Com o título "Estratégia para a China", ele marca uma posição bastante distinta da que o país teve quando Angela Merkel era primeira-ministra, de 2005 até 2021.

Aprovado pelo gabinete do atual premiê, Olaf Scholz, após meses de discussão, o documento afirma que Pequim quer "perseguir seus próprios interesses de forma muito mais assertiva e tentando, de várias maneiras, remodelar a ordem internacional existente".

O chanceler alemão, Olaf Scholz, durante encontro com o líder chinês, Xi Jinping, em Pequim, no dia 4 de novembro de 2022 - Kay Nietfeld/Pool via Reuters

O texto indica que os alemães estão mais cautelosos e querem reduzir a dependência econômica e ajudar a consolidar uma postura unificada da União Europeia em relação ao gigante asiático. Destaco pontos elencados pelo governo de Scholz:

  • Em citação velada à Rússia, argumenta que "a UE não deve se tornar dependente de tecnologias de países que não compartilham nossos valores fundamentais";

  • Sugere uma defesa da revisão dos controles de exportação e importação vigentes relacionados à China, sobretudo nas áreas de cibersegurança e vigilância;

  • Promete investimentos em "setores cruciais", como insumos para medicamentos, baterias de lítio para carros elétricos e elementos para a fabricação de chips;

  • Propõe uma abertura para maior cooperação na área de mitigação da crise climática e conservação da biodiversidade global.

O choque causado pela crise energética desencadeada pelas sanções contra a Rússia certamente catalisou a nova abordagem alemã para a China. É notável que as estratégias diplomáticas adotadas pelos chineses —especialmente o apoio velado aos russos na Guerra da Ucrânia— melindram Berlim, que agora quer reduzir riscos.

Por que importa: a China é o principal parceiro comercial da Alemanha. Em 2022, o fluxo comercial foi de US$ 335 bilhões (R$ 1,6 trilhão). O documento não fecha as portas para as trocas com os chineses, mas reafirma que elas acontecerão seguindo "interesses alemães".

As necessidades diplomáticas e o lobby empresarial, porém, nem sempre andam juntos. O governo precisará vencer a resistência dos industriais alemães, para os quais a China é um mercado essencial. Montadoras como Volkswagen e BMW, por exemplo, estão bem mais relutantes em acompanhar o governo no antagonismo a Pequim.


o que também importa

O líder dos democratas no Senado dos EUA, Chuck Schumer, disse que vai incluir sanções contra a China no projeto do orçamento de Defesa devido à suposta responsabilidade do país na produção do opioide sintético fentanil. O senador acusa o governo chinês de fazer vista grossa à produção do composto, um analgésico forte ligado a inúmeras mortes por overdose nos EUA. Schumer afirmou que vai levar o projeto de lei ao plenário ainda nesta semana, prevendo apoio bipartidário para a medida. A embaixada chinesa em Washington não comentou as acusações.


O enviado especial do clima dos EUA, John Kerry, visitou a China no domingo. Ele tenta descongelar a cooperação entre os países em relação à crise climática.A viagem foi uma preparação para a COP 28, conferência da ONU para o clima. Kerry é o terceiro alto funcionário do governo Biden a visitar Pequim nas últimas semanas. Antes, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, e o secretário de Estado, Antony Blinken, estiveram no país. As negociações sobre o clima foram interrompidas no último ano devido às tensões políticas e retomadas há três meses.

Emissário do clima dos Estados Unidos, John Kerry, e o seu homólogo chinês, Xie Zhenhua, trocam um aperto de mãos antes da reunião desta segunda-feira (17), em Pequim - Valerie Volcovici/Reuters

Fique de olho

A economia chinesa no segundo trimestre cresceu 6,3% em comparação ao mesmo período do ano passado, impulsionada pela recuperação no varejo e no setor de serviços.

A alta ficou abaixo do que o mercado esperava –havia a expectativa de um crescimento de até 7,3%. As projeções levavam em consideração que a base de comparação é baixa, já que pega o período dos rigorosos bloqueios em Xangai e outras grandes cidades em 2022 em razão da Covid.

Por que importa: a China tem enfrentado dificuldades para recuperar os prejuízos da pandemia. O crescimento aquém do projetado expõe problemas macroeconômicos como a queda nos investimentos estrangeiros diretos, atividade industrial em contração, alta no desemprego de jovens nas áreas urbanas e taxa de inflação beirando os 0% (ou seja, muito próximo da deflação).


para ir a fundo

  • O Global Taiwan Institute realiza na quinta um webcast para discutir como a mídia taiwanesa manteve-se resiliente mesmo com fortes investimentos da máquina de propaganda da China continental. É possível receber notificações sobre o evento inscrevendo-se aqui. (Gratuito, em inglês)
  • Nesta reportagem, o South China Morning Post resgata a história da racista lei imigratória canadense que separou crianças chinesas dos seus pais no início do século 20. (Paywall poroso, em inglês)
  • Continuam abertas as inscrições para quem quiser enviar resumos e apresentar trabalhos acadêmicos no seminário "Pesquisar a China", que neste ano acontece presencialmente em outubro, na UFABC. Informações aqui. (Gratuito, em português)
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