Descrição de chapéu África violência

Conflito no Sudão mata ou fere uma criança a cada hora e chega ao 100º dia

Combates levam país a cenário de guerra civil e deixam 435 menores mortos e 2.025 feridos, em balanço subestimado

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São Paulo

O conflito civil que assola o Sudão chega ao seu centésimo dia nesta segunda (24) com 435 crianças mortas e 2.025 feridas, segundo o Unicef, agência da ONU para a infância. É como se uma criança tivesse sido morta ou ferida pelos confrontos a cada hora, em um balanço considerado bastante conservador.

As disputas, que estouraram na capital Cartum em 15 de abril, alastraram-se para Darfur, no oeste do país, deixando um rastro de destruição. Desde então, 3.900 pessoas morreram e 3,3 milhões tiveram de abandonar suas casas —dessas, mais de 700 mil fugiram para o exterior, também de acordo com a ONU.

Sudaneses que fugiram do conflito em Geneina, na região de Darfur, são transferidos em um caminhão para um campo de refugiados no Chade - Zohra Bensemra - 23.jul.23/Reuters

Um dos últimos casos de morte de civis foi registrado no sábado (22), quando 16 pessoas morreram após suas casas serem atingidas por foguetes em Darfur, segundo o sindicato dos advogados locais.

Também neste mês, uma vala comum foi encontrada na região com corpos de ao menos 87 pessoas supostamente mortas em junho por forças paramilitares. Mulheres e crianças estavam entre as vítimas.

O Unicef registrou 2.500 violações graves aos direitos das crianças durante o período. "Como esses são só os números relatados a fontes da agência, o número real provavelmente é muito maior", afirmou o órgão.

"A escala do impacto que esse conflito teve sobre as crianças do Sudão nos últimos cem dias está quase além da compreensão", disse Ted Chaiban, vice-diretor executivo do Unicef para ações humanitárias. "Pais e avós que viveram ciclos anteriores de violência agora veem filhos e netos passarem por experiências horríveis semelhantes. Todos os dias crianças estão sendo mortas, feridas, sequestradas e vendo as escolas, os hospitais e a infraestrutura vital do país serem danificados, destruídos ou saqueados."

Mais da metade dos cerca de 48 milhões de sudaneses precisa de ajuda humanitária para sobreviver, em um contexto em que as ONGs enfrentam bloqueios das autoridades e falta de financiamento internacional para atuar. No começo do conflito, as Nações Unidas chegaram a suspender temporariamente suas operações no país africano após a morte de cinco trabalhadores humanitários.

"O Sudão está à beira de colapsar, afetado por uma série de crises que, combinadas, são inéditas", disse o Conselho Norueguês para Refugiados. "Os primeiros cem dias de guerra trouxeram terror e desolação, e os próximos cem seguramente serão piores. A violência não se enfraquece, e as próximas semanas poderão trazer algumas inundações devastadoras, deslocamentos e epidemias."

Com os saques a suprimentos e ataques a instalações essenciais, ao menos 690 mil crianças estão expostas à desnutrição aguda grave e 1,7 milhão de bebês menores de um ano correm risco de perder vacinas importantes, segundo o Unicef.

Desde 15 de abril, as tropas do general Fatah al-Burhan estão em confronto com os paramilitares das RSF (Forças de Apoio Rápido, em português), lideradas por Mohamed Hamdan Daglo, o Hemedti.

Após derrubarem a ditadura de 30 anos de Omar al Bashir em 2019, os antigos aliados deram um golpe de Estado em 2021 e ocuparam os dois principais cargos de um conselho que deveria promover a transição para um governo civil e planejar a fusão das duas forças que eles lideram.

Em vez disso, porém, al-Burhan e Hemedti enterraram a esperança de uma transição democrática nos próximos meses após discordâncias mergulharem o Sudão no caos.

Com AFP

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