França tem 1.300 prisões em atos contra morte de adolescente em noite 'mais calma' segundo governo

Multidão acompanha funeral de Nahel, 17, morto por policial durante abordagem de trânsito

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Paris | AFP e Reuters

A quarta noite de protestos contra a violência policial na França foi aquela que registrou o maior número de detenções desde o seu início, segundo as autoridades —na madrugada deste sábado (1º), 1.311 pessoas haviam sido presas, contra 875 na véspera. Mesmo assim, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, afirmou que a violência foi menos intensa do que aquela registrada nos dias anteriores.

A revolta, vista em várias cidades do país, foi deflagradas depois que Nahel, 17, de origem argelina, foi morto por um tiro disparado por um policial em Nanterre, município a noroeste de Paris, no início da semana.

Público da 110ª edição do Tour de France de ciclismo estende faixa, pedindo justiça após morte de adolescente de origem argelina por policial francês - Marco Bertorello/AFP

Filmagens que rapidamente ganharam o noticiário e as redes sociais mostram o momento em que dois agentes de capacete se aproximam da janela do Mercedes AMG que o adolescente dirigia —após alguns segundos, o jovem, que supostamente teria cometido várias infrações de trânsito, acelera, e um dos oficiais reage atirando. Poucos metros à frente, sem direção, o carro sobe numa calçada e bate num poste. Nahel morreu uma hora depois.

O funeral do adolescente foi realizado no sábado, também em Nanterre. Uma multidão se reuniu no cemitério e o clima foi tenso, segundo relato de repórter da agência de notícias AFP. "Que ele descanse em paz e a justiça seja feita", disse ao veículo uma mulher no local. "Eu vim para apoiar a mãe. Ela não tinha ninguém além dele, pobrezinha."

Um grupo de 30 jovens que atuava na entrada do evento pediu às pessoas que não tirassem fotos da cerimônia. "Não fazemos parte da família e não conhecíamos Nahel, mas ficamos muito comovidos com o que aconteceu em nossa cidade. Por isso, queremos expressar nossas condolências", explicou um deles à Reuters.

Antes, durante os protestos da madrugada, 1.350 viaturas e 234 edifícios foram incendiados ou danificados, de acordo com o governo francês. Ele também registrou 2.560 incêndios em vias públicas, além de 79 agentes de segurança feridos –45 mil estavam de prontidão para uma nova rodada de manifestações à noite.

As autoridades ainda impuseram toque de recolher em pelo menos três cidades ao redor da capital francesa e em outras localidades. Mesmo assim, atos de vandalismo foram vistos em Marselha, no sul do país, Lyon e Grenoble, no centro-leste, e em Paris, onde 406 pessoas foram presas.

Alguns dos detidos são acusados de invadir estabelecimentos comerciais. "Na segunda-feira ligo para a imobiliária e ponho tudo à venda, já chega", disse o dono de um comércio situado numa rua repleta de entulho no centro de Lyon. Segundo o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, mais de 700 lojas, supermercados, restaurantes e agências bancárias foram saqueados desde terça.

Durante um protesto na sexta (30) em Petit-Quevilly, no noroeste do país, um manifestante de 20 anos morreu ao cair do telhado de uma loja. Um policial afirmou ao jornal francês Le Figaro que o local estava sendo saqueado no momento do acidente, informação que o Ministério Público da região negou.

Em meio à violência, o presidente francês, Emmanuel Macron, adiou uma visita à Alemanha para a qual partiria no domingo (2). O governo francês ainda suspendeu grandes eventos, convocou uma reunião do comitê de crise e orientou todos os ministros a permanecer em Paris durante o fim de semana.

Paralelamente, a ONU pediu às autoridades francesas que abordem seriamente o que chamou de "profundos" problemas de "racismo e discriminação racial" em suas forças de segurança, acusações que o Ministério das Relações Exteriores descreveu como "totalmente infundadas".

Numa tentativa de apaziguar a situação, a seleção de futebol francesa emitiu na sexta um comunicado dizendo que "o tempo da violência tem de parar" e dar lugar a "maneiras pacíficas e construtivas de se expressar".

"Desde este trágico evento, testemunhamos a expressão de raiva popular que no fundo entendemos, mas não podemos aceitar", escreveram. O principal jogador de futebol do país, Kylian Mbappé, publicou a nota em seu perfil no Instagram –a mãe dele, aliás, também é de origem argelina.

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