Descrição de chapéu União Europeia

Manifestante cai de telhado e morre em ato na França; ao menos 2 policiais são espancados

Atos se espalham pelo país em memória de Nahel, 17, morto pela polícia em abordagem de trânsito

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São Paulo

Um manifestante de 20 anos morreu nesta sexta-feira (30) ao cair do telhado de uma loja em Petit-Quevilly, comuna no noroeste da França, durante a onda de protestos que convulsiona o país desde que um policial matou um adolescente de origem argelina numa abordagem de trânsito, na terça-feira (27).

Segundo o jornal francês Le Figaro, uma fonte policial afirma que o supermercado era saqueado no momento do acidente, embora o Ministério Público da região tenha dito que a loja não estava sob ataque de manifestantes. As autoridades investigam os motivos da queda.

Manifestantes entram em confronto com a polícia em Marselha, no sul da França - Christophe Simon/AFP

O manifestante que morreu estava acompanhado. "O segundo indivíduo, que foi detido, explica que ambos subiram no telhado por volta das 5h [horário local] para tentar entrar na loja e recuperar um objeto, sobre o qual não deu detalhes, e que eles teriam caído", afirmou o procurador Frédéric Teillet. O homem foi para o hospital, mas morreu horas depois, na tarde desta sexta.

Os protestos começaram na noite da terça-feira (27), após Nahel, 17, ser atingido por um disparo à queima-roupa efetuado por um agente durante uma blitz. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra o momento em que o policial aponta uma arma para o motorista e atira à queima-roupa quando ele acelera o veículo. A fuga do adolescente terminou poucos metros à frente, quando o carro bateu num poste. Ele morreu pouco depois devido ao disparo.

A Justiça francesa decretou a prisão preventiva por homicídio doloso do policial suspeito de ter atirado em Nahel —o Ministério Público considerou que o uso de sua arma não foi legalmente justificável.

Novas medidas para tentar reprimir os protestos foram anunciadas após o presidente francês, Emmanuel Macron, deixar antecipadamente a cúpula de chefes de Estado e Governo da União Europeia, que ocorre em Bruxelas, para se reunir com seus ministros e falar sobre as manifestações.

Pelo menos três cidades próximas à capital francesa estão com toque de recolher noturno, e, na região de Paris, ônibus e bondes deixam de circular às 21h locais. A expectativa é que outras medidas sejam tomadas nos próximos dias. "Não é porque não estamos em estado de emergência que não temos meios excepcionais. Esta noite, haverá meios excepcionais", afirmou o ministro do Interior, Gérald Darmanin.

O político disse que 45 mil policiais estão mobilizados para esta noite —5.000 a mais do que no dia anterior, quando quase mil pessoas foram presas, de acordo com a última atualização. A idade média dos detidos é 17 anos, e alguns têm até 13, segundo Darmanin, algo que preocupa as autoridades. Macron, por exemplo, pediu que os pais mantenham seus filhos em casa para que fiquem afastados das ruas. "Peço a responsabilidade de mães e pais de família, esse é um lugar que o Estado não pode ocupar."

A prefeitura de Colmar, no nordeste da França, decretou toque de recolher para menores de idade. Crianças e adolescentes não poderão sair desacompanhadas entre as 21h e as 5h até a próxima quinta (6), pelo menos. Além disso, as linhas que ligam a França à Suíça foram interrompidas a partir das 19h30.

Os protestos são marcados por episódios de violência. Cenas de carros virados e saques a lojas tomaram as ruas nas cidades que tiveram atos, em diversas partes do país. Os jornalistas não foram poupados da revolta —de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras, pelo menos cinco profissionais de diferentes meios de comunicação foram agredidos enquanto cobriam os protestos.

Um fotógrafo da revista Le Point, por exemplo, está com uma lesão no joelho e vários hematomas após ser alvo de manifestantes. "Khanh Renaud foi violentamente atacado e roubado por uma dúzia de manifestantes enquanto fazia seu trabalho cobrindo os eventos em Nanterre", afirmou o comunicado. Foi nessa cidade da região metropolitana de Paris que aconteceu a abordagem a Nahel.

Um dos casos mais extremos aconteceu em Marselha, onde dois agentes da polícia judiciária de folga foram espancados, segundo informações confirmadas por pelo menos dois veículos franceses. Um dos agentes foi reconhecido pelos manifestantes quando desceu de seu carro para afastar latas de lixo incendiadas que impediam a sua passagem, de acordo com o jornal Le Figaro.

Ele e o outro funcionário que o acompanhava foram agredidos por cerca de 20 pessoas —um dos agentes teve a mandíbula fraturada e o outro foi ferido com facadas, afirmou a publicação. Os agressores estão sendo procurados.

"Eles foram agredidos e espancados no chão como cachorros, não há outras palavras", afirmou Darmanin durante entrevista ao canal TF1, na qual saiu em defesa da corporação. "Não é porque um policial é indiciado que todos os policiais são indiciados."

Confrontos já aconteceram na noite desta sexta, de acordo com informações preliminares. Até as 22h, 49 pessoas haviam sido detidas em Marselha, onde manifestantes franceses saquearam uma loja de armas e levaram rifles de caça. Segundo a polícia, nenhuma munição foi levada e um indivíduo foi preso com um rifle. O estabelecimento passou a ser vigiado pela polícia. Em Lyon, onde carros foram incendiados, 19 pessoas foram presas, enquanto em Paris cerca de 300 ativistas foram dispersados pela polícia na praça da Concórdia.

Esta é a segunda onda de protestos do ano —a primeira, motivada por uma impopular reforma da Previdência, fez diversos países expressarem às Nações Unidas preocupação com a violência policial no país, em maio.

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