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Governo do Senegal dissolve partido da oposição e prende líder em escalada de crise

Acusação contra Ousmane Sonko motiva novos protestos no país africano, e autoridades respondem restringindo internet

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São Paulo

A crise política no Senegal escalou nesta segunda (31), após o governo informar que um dos três principais partidos de oposição, o Pastef (Patriotas do Senegal), foi dissolvido por reunir apoiadores em atos violentos durante protestos em junho. Trata-se da primeira vez que uma legenda é banida desde que o país da África Ocidental conquistou a independência da França, em 1960.

Em junho, o Senegal registrou alguns de seus piores tumultos dos últimos anos, depois de o líder opositor Ousmane Sonko ser condenado a dois anos de prisão em um caso de suposto "comportamento imoral".

O político foi detido na sexta (28), mas por outras acusações, que incluem a de planejar uma insurreição. "Vamos atacar esta decisão, o povo senegalês vai resistir", disse um porta-voz do Pastef.

Apoiadores de Ousmane Sonko queimam ônibus em protesto contra sua detenção - Ngouda Dione/Reuters

Há um mês, Sonko foi absolvido da acusação de estupro, mas a Justiça o condenou por outro delito descrito no Código Penal senegalês como comportamento imoral contra menores de 21 anos. A decisão o deixa fora das eleições de fevereiro de 2024 —em 2019, ele ficou em terceiro lugar no pleito presidencial.

Na sexta-feira passada, Sonko foi detido após uma discussão com as forças de segurança em frente à sua casa, onde cumpria prisão domiciliar desde o final de maio. O político estaria voltando de uma oração —evento que voltou a frequentar desde que lhe foi permitido sair de casa— quando notou que a polícia tentava filmá-lo, afirmou um de seus advogados à rede Al Jazeera.

Sonko, então, teria pedido que as imagens fossem apagadas, o que não foi atendido. De acordo com os relatos, o político tomou o celular da mão do policial e, em seguida, foi preso. O advogado disse que o líder estaria preso no porão de um tribunal. De acordo com a Al Jazeera, as novas acusações incluem tentativas de minar a segurança nacional, comprometer a segurança pública e criar agitação política, além de associação criminosa com grupo terrorista e roubo.

O episódio foi o último em uma longa disputa entre o governista APR (Aliança pela República), do presidente Macky Sall, e o Pastef. Apoiadores do líder da oposição acusam Sall de forjar acusações para deixar de lado seu popular oponente antes da eleição.

Nesta segunda, antes mesmo da declaração do governo, manifestantes foram mais uma vez às ruas da capital, Dacar. Em Ziguinchor, cidade no sudoeste de Senegal onde Sonko é prefeito, dois homens morreram nos atos, segundo o Ministério do Interior, que pediu "calma e serenidade" em um comunicado.

O medo de tumultos levou gerentes de postos de gasolina da empresa TotalEnergies em todo o país a iniciar uma greve de 72 horas a partir de terça-feira (1º). A empresa disse que informaria qualquer interrupção de abastecimento e buscaria minimizar o impacto da greve.

Manifestantes bloquearam estradas com pneus e caminhões queimados, e repórteres da agência de notícias Reuters viram pequenos grupos em confronto com a polícia, que disparou gás lacrimogêneo. As autoridades suspenderam um serviço de trem que liga a capital à vizinha Diamniadio e restringiram o acesso à internet devido à disseminação do que chamam de "mensagens odiosas e subversivas".

A restrição da internet já havia ocorrido em junho, quando protestos violentos eclodiram em todo o Senegal após a condenação de Sonko e deixaram 16 pessoas mortas, segundo o governo; 24, segundo a Anistia Internacional, e 30, segundo o Pastef. Na ocasião, houve presença forte em torno de bancos, supermercados e postos de gasolina de propriedade francesa. A relação entre a elite senegalesa e a França, antiga colonizadora do país africano, é um dos alvos do opositor.

O discurso tem tração especialmente entre jovens urbanos, uma das bases de apoio do político que se vê insatisfeita com os rumos econômicos do país. O ex-funcionário público de 49 anos já foi eleito deputado da Assembleia Nacional em 2017 e prefeito de Ziguinchor em 2022.

Seus críticos desaprovam a sua postura durante o processo que culminou na condenação por comportamento imoral e a sua linguagem, considerada beligerante. Sonko nega irregularidades e alega que o atual presidente é um aspirante a ditador. Sall, por sua vez, já disse que não vai buscar um terceiro mandato nas eleições de 2024, o que seria inconstitucional.

Com Reuters e AFP

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