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Junta militar no Níger prende ministros de governo destituído após golpe

Ações aumentam turbulência no país africano; golpistas acusam possibilidade de intervenção da França

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São Paulo

A junta militar que tomou o poder no Níger prendeu nesta segunda-feira (31) um dirigente e dois ministros do governo destituído, aprofundando assim o golpe militar que derrubou o presidente Mohamed Bazoum na semana passada sob a alegação de que a segurança do país africano estava comprometida.

Os ministros Sani Mahamadou (Petróleo) e Ousseini Hadizatou (Mineração) foram detidos em condições não esclarecidas, segundo o Partido para a Democracia e Socialismo do Níger (PNDS, na sigla em francês), de Bazoum. O ex-presidente da legenda Foumakoye Gado também foi capturado pelos golpistas.

Manifestantes exibem bandeira da Rússia e protestam contra a França no Níger
Manifestantes exibem bandeira da Rússia e protestam contra a França no Níger - Souleymane Ag Anara - 30.jul.23/Reuters

As prisões aumentam a tensão no país africano, em ebulição após manifestações violentas, imposição de sanções internacionais e ameaças de intervenção militar externa. Em nota, o partido de Bazoum instou a população a proteger a democracia e disse que as detenções confirmam a natureza "repressiva e ditatorial" da junta militar. Segundo a legenda, outros dois ministros (Interior e Transportes) e um deputado já haviam sido detidos pelos golpistas. As acusações contra eles tampouco foram divulgadas.

As prisões foram anunciadas um dia após o líder do Chade, Mahamat Idriss Deby, chegar ao Níger para tentar mediar um diálogo entre os militares e o governo deposto. No domingo (30), ele postou o que seriam as primeiras imagens de Bazoum após golpe —acredita-se que o presidente esteja confinado no palácio presidencial. Nas fotos, o nigerense aparece sorrindo e aparentemente sem ferimentos.

As Forças Armadas declararam na quinta (27) apoio ao golpe de Estado que derrubou Bazoum, diminuindo as chances de que o presidente eleito democraticamente retome o poder. A União Africana, a ONU, a União Europeia e outras potências globais condenaram os militares.

Pressionada, a junta militar acusou o governo deposto de autorizar a França a realizar ataques para tentar libertar Bazoum e restabelecer a Presidência. Os comentários foram feitos pelo coronel do Exército Amadou Abdramane, um dos conspiradores do golpe, em pronunciamento na televisão estatal.

"Em busca de formas e meios para intervir militarmente, a França, com a cumplicidade de alguns nigerinos, realizou uma reunião com o Estado-Maior da Guarda Nacional do Níger para obter autorizações políticas e militares necessárias [para restabelecer Bazoum]", reiterou nota divulgada pelos militares.

A chancelaria francesa não confirmou nem negou a acusação, mas disse que Paris só reconhece Bazoum como líder legítimo e que o Palácio do Eliseu foca a proteção de seus cidadãos e interesses na região.

O líder do Chade, Mahamat Idriss Deby (à esq.), ao lado do presidente do Níger, Mohamed Bazoum
O líder do Chade, Mahamat Idriss Deby (à esq.), ao lado do presidente do Níger, Mohamed Bazoum - Reprodução Facebook/ via AFP

Milhares de pessoas protestaram neste domingo em Niamei, a capital do Níger, contra a influência de Paris no país africano, uma ex-colônia francesa. Os manifestantes depredaram a embaixada da França durante o ato, que ainda contou com gritos a favor do presidente russo, Vladimir Putin.

Em outra mensagem divulgada nesta segunda, os golpistas acusaram os "serviços de segurança" de uma "chancelaria ocidental", cujo país não foi identificado, de utilizarem gás lacrimogêneo contra pessoas que apoiavam a junta militar no protesto. A ação deixou seis manifestantes feridos, segundo os militares.

Após o ataque à representação, a França, que tem 1.500 soldados no Níger, voltou a condenar o golpe, descrito por Paris como perigoso para a região. O presidente Emmanuel Macron disse ainda que ordenaria "represálias imediatas" em caso de ataques a cidadãos franceses ou contra os interesses do país.

Antes, no sábado (28), Paris e a UE anunciaram a suspensão da cooperação de segurança e da ajuda financeira para o desenvolvimento do Níger. A chancelaria da França lembrou que as autoridades do país são obrigadas a garantir a segurança de missões diplomáticas de acordo com a lei internacional.

A UE voltou a alertar nesta segunda que os golpistas podem ser responsabilizados por "qualquer ataque contra civis, funcionários ou instalações diplomáticas". Em resposta, a junta militar no Níger disse que quaisquer tentativas de restabelecer Bazoum no poder resultariam em derramamento de sangue e caos.

Um dos países mais pobres do mundo, o Níger é um parceiro de segurança de França e EUA, que usam o território da nação africana como base para combater a insurgência de grupos terroristas jihadistas nas áreas oeste e central da região do Sahel.

Em represália ao golpe, a Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Ecowas, na sigla em inglês) anunciou no domingo a imposição de sanções e deu aos chefes do golpe militar uma semana para recolocar Bazoum de volta à Presidência, sob ameaças do uso de força para normalizar a situação.

Reunidos em Abuja, capital da Nigéria, os líderes regionais disseram que as punições contra a nova junta militar incluem sanções financeiras e de movimento, além de restrições ao espaço aéreo do país. O premiê nigerino, Ouhoumoudou Mahamadou, que estava fora do país no momento do golpe militar e não pôde retornar, disse ao canal France24 que as sanções serão uma "catástrofe econômica e social".

Desde que o Níger se tornou independente da França, em 1960, diversas tentativas de golpes de Estado ocorreram no país. Quatro delas foram exitosas, a última em fevereiro de 2010, quando Mamadou Tandja foi deposto. Bazoum assumiu a Presidência em abril de 2021. À época, militares tentaram tomar o palácio presidencial, mas a ordem foi restaurada, na primeira transferência de poder democrática no país.

Com AFP e Reuters

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