Israel encerra operação na Cisjordânia ocupada, mas avisa que não será a última

Residentes do campo de refugiados de Jenin protestam contra Autoridade Palestina e a colocam em xeque

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Jerusalém | AFP e Reuters

Israel anunciou nesta quarta-feira (5) o fim de sua incursão ao campo de refugiados Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada, iniciada no começo da semana. A operação, a maior do tipo em quase 20 anos, resultou na morte de 12 palestinos e de um soldado israelense e se desdobrou em confrontos na Faixa de Gaza e num ataque terrorista do grupo islâmico radical Hamas em Tel Aviv.

Pessoas caminham em meio a destroços no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, após operação do Exército de Israel - Ahmad Gharabli/AFP

Segundo um porta-voz do Exército israelense, as tropas do país começaram a deixar a região ainda na noite desta terça-feira (4). O campo abriga cerca de 18 mil palestinos, dos quais cerca de cem ficaram feridos nos enfrentamentos, de acordo com o Ministério da Saúde da Autoridade Nacional Palestina.

O órgão, concebido como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado na área, foi alvo de protestos após a saída dos israelenses. Três membros da administração foram expulsos pela multidão que participava do funeral de dez dos mortos aos gritos.

Vídeos nas redes sociais mostraram centenas de manifestantes lançando pedras contra o muro de cinco metros de altura que cerca a sede local da autoridade em Jenin, no início da manhã.

Os protestos chamam a atenção para a falta de protagonismo da entidade que, estabelecida há quase 30 anos como parte dos Acordos de Oslo, parece não fazer frente nem aos militantes de Jenin e Nablus, outro grande reduto de grupos armados na Cisjordânia, nem a Israel.

Pesquisas indicam que cerca de 80% dos palestinos são a favor da renúncia de Mahmoud Abbas, 87, atual líder da Autoridade Palestina. Ele também é constantemente criticado por Tel Aviv, que o acusa de ser incapaz de controlar as facções armadas de seus territórios —a entidade retruca dizendo que isso é impossível com Israel desrespeitando-o constantemente.

Ao mesmo tempo, eleições não são realizadas há quase 20 anos, e ninguém se apresentou como um possível sucessor de Abbas.

A quarta-feira foi usada pelos locais para avaliar os danos gerados pelas ações dos últimos dias, com casas destruídas, carros queimados e ruas cobertas de escombros, cacos de vidro e cápsulas de balas.

Residente do acampamento, Mohammad Mansour relatou à agência de notícias Reuters ter ficado sem eletricidade e água durante a incursão —retroescavadeiras do Exército israelense foram rasgando as ruas na tentativa de expor minas, cortando cabos de energia e tubulações de água à medida que avançavam. "Acabamos sem pão ou suprimentos, estávamos famintos. Nunca tinha passado por isso", disse ele.

Siham al Naaja contou à AFP que nem água nem a eletricidade tinham voltado à sua casa mesmo após a saída das tropas. Suas janelas estavam quebradas, os móveis, tombados, e o piso, coberto de destroços. Ela ainda acusou membros do Exército israelense de terem roubado dinheiro e ouro que pertenciam à sua família —contatadas pela agência de notícias, as forças não se pronunciaram sobre as acusações.

O governo de Binyamin Netanyahu, o mais à direita da história de Israel, defende que a operação militar era necessária para desmantelar o que chama de "ninho de vespas" do campo de Jenin, em que militantes palestinos conduziriam atividades criminosas livremente.

O Exército israelense diz ter atingido o centro de operações de um grupo armado local e unidades de fabricação de explosivos, além de ter detido 30 suspeitos e apreendido armas e dinheiro destinados ao financiamento de atividades terroristas.

Na terça, Bibi, como o premiê é conhecido, disse que a incursão não era um evento isolado e a operação do início da semana representava o "início de incursões regulares". As Brigadas de Al-Quds, braço militar da facção Jihad Islâmico, reagiram afirmando que "cada beco e rua logo virarão campos de batalha".

A incursão ainda reverberou na Faixa de Gaza, de onde os palestinos lançaram uma rajada de foguetes contra Israel à noite, no mesmo momento em que as tropas do Estado hebreu deixavam Jenin. Os mísseis foram derrubados pela Força Aérea israelense, que por sua vez atingiu alguns alvos do Hamas, grupo islâmico extremista que controla a área —nenhuma morte foi registrada.

Balanço da AFP a partir de fontes oficiais indica que, desde o início do ano, a violência ligada ao conflito já matou ao menos 190 palestinos, 26 israelenses, uma ucraniana e um italiano.

Equipes de segurança e emergência de Israel no local em que ocorreu ataque em Tel Aviv; autor do atentado foi baleado e morreu - Jack Guez/AFP
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