Moradores de NY, sob calor extremo, buscam torneiras públicas e camisetas extras

Mais da metade dos EUA está sob alerta de altas temperaturas, que prejudicam cotidiano de trabalhadores nas cidades

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Nova-iorquinos enfrentaram nesta sexta-feira (28) o segundo dia de uma onda de calor que atingiu a Costa Leste dos Estados Unidos e colocou 170 milhões de americanos, mais da metade da população do país, em alerta de altas temperaturas —termômetros passaram dos 38°C em diversas partes.

O aviso se estende até a noite deste sábado (29) e engloba grande parte da região metropolitana de Nova York, onde a sensação térmica chegou perto dos 39°C. Na quinta-feira (27), a cidade mais populosa dos EUA estava sob alerta de calor excessivo, o que indica perigo para qualquer pessoa devido ao clima. Nesta sexta (28), porém, o aviso foi rebaixado para um alerta de calor —quando as condições são perigosas apenas para idosos e outras pessoas vulneráveis.

-
Homem vende garrafas de água em um engarrafamento no Bronx - Gregg Vigliotti/The New York Times

Na prática, moradores ainda penam com as altas temperaturas. Moradores se prepararam para o clima adverso com garrafas de água geladas na bolsa e camisetas extras para o caso de transpiração excessiva. Eslam Abdelgawad, 29, que trabalha dentro de um carrinho de comida no Central Park, esqueceu da última recomendação e trabalhava com o uniforme ensopado na tarde desta sexta.

"Eu trabalho em calor duplicado aqui", disse ao jornal americano The New York Times. "Se lá fora faz 40°C, aqui faz 80°C." Mesmo em dias normais, o calor faz Abdelgawad ficar tonto no carrinho.

Kevin Trent, 32, sofria sob o sol. O entregador fez pequenas pausas ao longo do expediente para refrescar-se nas torneiras dos banheiros de cafeterias e supermercados enquanto esperava ansiosamente para entrar em saguões com ar-condicionado. "Sinto-me no paraíso", disse ele sobre ir a um local com temperaturas mais amenas.

Os centros de resfriamento, como são chamados os locais para a população se refrescar, foram reunidos em um mapa pelas autoridades, alarmadas com a possibilidade de mais vítimas das altas temperaturas. O calor extremo é a principal causa de mortes relacionadas ao clima nos EUA, de acordo com o Bureau of Labor Statistics: 436 trabalhadores morreram devido ao clima desde 2011.

Há 500 desses espaços em Nova York, segundo o prefeito Eric Adams, que incluem piscinas públicas, bebedouros, chafarizes, parques com sombra e bibliotecas. "O acesso a locais para se refrescar é questão de vida ou morte", disse o democrata em uma entrevista na quinta.

Outras das maiores cidades do país, como Chicago e Filadélfia, também abriram centros de resfriamento. "O calor extremo pode ser perigoso para a saúde e até fatal", lia-se nesta sexta no site da Prefeitura de Boston, que declarou emergência de calor. Equipes forneceram água aos moradores nas ruas durante o dia.

Na Filadélfia, sob alerta de calor excessivo assim como partes do centro-leste e do sudoeste dos EUA, autoridades estenderam os horários de funcionamento das piscinas públicas na sexta e no sábado, quando as temperaturas devem dar trégua e tempestades provavelmente ocorrerão.

O Hemisfério Norte tem registrado diversas ondas de calor nas últimas semanas. A Grécia, por exemplo, castigada por incêndios florestais desde a metade de julho, finalmente conseguiu controlar as chamas, de acordo com atualizações desta sexta. A situação, porém, permanece crítica, já que ventos podem espalhar novos focos de incêndio.

O Vaticano disse que o papa Francisco está "profundamente preocupado com as ameaças à vida e os danos gerados pelos inúmeros incêndios em várias regiões da Grécia e em outros lugares, causados pelas ondas de calor que atingem muitos países europeus".

Antes da contenção do fogo, cinco pessoas morreram na Grécia —o mesmo número de vítimas da Itália, que enfrentou tempestades no norte e incêndios na Sicília ao longo do mês.

A OMM (Organização Meteorológica Mundial), órgão das Nações Unidas, e o observatório europeu Copernicus acreditam ter dados suficientes para afirmar que julho deve ser o mês mais quente já registrado. Se confirmado, o recorde desbancará julho de 2019 e pode não ter precedentes em milhares de anos, disseram as instituições.

"Os extremos climáticos sofridos por milhões de pessoas em julho nada mais são do que a dura realidade da mudança climática e uma prévia do que o futuro nos reserva", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, nesta quinta-feira.

A temperatura da superfície do norte do oceano Atlântico também bateu recorde. Nesta sexta, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, agência dos EUA que acompanha o índice desde a década de 1980, disse que o oceano bateu o recorde de setembro de 2022 e chegou a 24,9°C. O dado é alarmante porque as temperaturas mais altas do ano costumam ser registradas em setembro.

A mudança climática causada pelo homem foi decisiva nas ondas de calor no Hemisfério Norte, segundo um estudo publicado na terça-feira (25) pela World Weather Attribution, equipe global de cientistas que examina o papel desempenhado pelo aquecimento global em eventos extremos.

"As temperaturas registradas na Europa e na América do Norte seriam impossíveis sem os efeitos das mudanças climáticas", disse Izidine Pinto, do Instituto Meteorológico da Holanda, um dos autores do estudo, durante uma entrevista coletiva. Segundo ele, na China, a possibilidade de haver ondas de calor é 50 vezes maior este ano em comparação com o passado.

Apesar dos dados alarmantes, a reunião de ministros do Meio Ambiente dos países do G20 na Índia foi encerrada nesta sexta-feira sem um acordo para limitar as emissões de gases de efeito estufa. Delegados das 20 maiores economias do mundo também fracassaram no objetivo de aumentar o uso de energias renováveis.

"Estou muito decepcionado", disse à agência AFP o ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu. Segundo ele, não houve acordo sobre o aumento do uso de energias renováveis e tampouco sobre a redução de combustíveis fósseis, especialmente o carvão. "Há temperaturas recordes, catástrofes, incêndios gigantescos e não conseguimos chegar a um acordo para limitar as emissões até 2025."

Com Reuters, AFP e NYT

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.