Novos atos envolvendo queima de Alcorão pressionam países nórdicos

Suécia e Dinamarca estudam como proibir manifestações em meio a tensões com Estados muçulmanos e receio de terrorismo

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Estocolmo | AFP e Reuters

Novos atos envolvendo a queima de cópias do Alcorão na Suécia e na Dinamarca nesta segunda (31) aumentaram a pressão para que os países nórdicos imponham freios legais a manifestações do tipo.

A discussão se dá em um momento em que as duas nações enfrentam crescentes tensões diplomáticas com Estados de maioria muçulmana, que as acusam de conivência com os repetidos ataques ao livro sagrado do islã ocorridos em Estocolmo e Copenhague nas últimas semanas.

Ativista exibe bandeira do Iraque na praça Mynttorget, em Estocolmo, em protesto contra queima de exemplar do Alcorão - Oscar Olsson/AFP

A cena se repetiu em ambas as cidades nesta segunda. Enquanto na capital sueca o refugiado iraquiano Salwan Momika, 37, autor de outros dois protestos similares, teria queimado uma cópia do texto sagrado em frente ao Parlamento local, na cidade dinamarquesa, ativistas incendiaram um exemplar do livro em frente à embaixada saudita.

No centro dos debates está a liberdade de expressão, assegurada constitucionalmente também em casos de protestos de cunho antirreligioso. Governantes afirmam não poder intervir sobre a realização de atos como os desta segunda porque isso é uma decisão das forças de segurança, baseada em quesitos técnicos. Estas, por sua vez, argumentam que apenas obedecem à lei ao aprovar aglomerações do tipo e que as licenças que concedem se referem aos eventos em si, não às atividades que eles envolvem.

À medida que aumentam as tensões diplomáticas com países muçulmanos, porém, assim como o receio de casos de terrorismo, as administrações da Suécia e da Dinamarca têm discutido como promover mudanças na legislação de modo a impedir a realização dos protestos. No domingo, o chanceler dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, afirmou que o governo busca uma "ferramenta legal" que permita às autoridades intervir.

O chanceler voltou a tratar do assunto em encontro com jornalistas nesta segunda-feira. "Esperamos que o fato de estarmos sinalizando tanto na Dinamarca quanto no exterior que estamos trabalhando nisso ajude a reduzir os problemas que enfrentamos", disse.

"Não é que nos sintamos pressionados [a vetar os atos], mas nossa análise política é de que isso seria do melhor interesse de todos nós. Não devemos apenas sentar e esperar que isso exploda", concluiu. Já o governo sueco declarou, semanas atrás, que analisava solução parecida.

Também nesta segunda, a Organização de Cooperação Islâmica convocou um encontro entre chanceleres dos países-membros para discutir a crise. O grupo exigiu que seus Estados-membros tomem as "ações apropriadas, sejam elas políticas ou econômicas", para lidar com países em que o Alcorão é de alguma maneira profanado.

A reunião sucede uma série de ações pontuais de países como Arábia Saudita, Qatar e Irã, que convocaram os diplomatas suecos em seus respectivos territórios depois de um protesto envolvendo a queima de um Alcorão em meados de julho. No Iraque, o episódio levou centenas de manifestantes a invadirem e atearem fogo à embaixada da Suécia e terminou com a expulsão da embaixadora da nação escandinava.

O chanceler sueco, Tobias Billstrom, afirmou ter enviado uma carta para os integrantes da OCI explicando que a aprovação ou veto da polícia à realização de atos públicos ocorre de maneira independente, sem intervenção do governo. Dos 57 países que compõem o grupo, o que mais preocupa a Suécia é a Turquia, já que seu voto é essencial para a entrada da nação na aliança militar ocidental, a Otan.

No domingo (30), quando a notícia de que haveria um novo ato em Estocolmo se espalhou, o chanceler turco, Hakan Fidan, teria pedido a seu homólogo sueco que a Suécia fizesse ações concretas para evitar novos episódios de profanação do Alcorão, segundo a agência Reuters. Fidan teria dito ainda que era inaceitável que ações vis prosseguissem sob o argumento da liberdade de expressão.

Com AFP e Reuters

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