Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia avança, e Ucrânia admite situação difícil no leste do país

Ação de Moscou pegou ucranianos, que enfrentam dificuldades em sua contraofensiva, de surpresa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Forças russas avançam no leste da Ucrânia, naquilo que a Defesa de Kiev admitiu ser uma "situação complicada" enquanto tenta crescer sua própria contraofensiva em territórios ocupados por Moscou.

A ação pegou os ucranianos de surpresa. Ela está concentrada no eixo Liman (Donetsk)-Kupiansk (Kharkiv), cidades que já estiveram sob controle russo e foram retomadas no final do ano passado.

Mulher compra produtos na rua, em frente a prédio destruído por ataque russo em Liman, em Donetsk
Mulher compra produtos na rua, em frente a prédio destruído por ataque russo em Liman, em Donetsk - Genia Savilov - 17.jul.23/AFP

A região não era uma prioridade da contraofensiva lançada por Volodimir Zelenski em 4 de junho: as ações se concentram mais ao sul de Donetsk e em Zaporíjia, no sul do país. "A situação é complicada, mas está sob controle", disse o comandante das forças terrestres de Kiev, o general Oleksandr Sirskii, no Telegram.

Um dia antes, na segunda-feira (17), o comando ucraniano na região afirmou ter monitorado a concentração de 100 mil soldados e 900 tanques russos naquele eixo de ação, o que, se confirmado, configura a maior ofensiva desde que Vladimir Putin usou 200 mil homens para tentar dobrar a Ucrânia no ano passado.

À época, a maior crítica foi a dispersão de forças em três frentes autônomas, além de erros táticos, como a falta de proteção de infantaria a colunas blindadas. Ao que tudo indica, a lição foi aprendida agora, e, se o contingente for o estimado, trata-se talvez de um terço dos homens em território ocupado na Ucrânia.

Após dois dias em silêncio, a Defesa russa confirmou que está em uma ofensiva. Disse ter avançado 1,5 km numa frente de 2 km de largura, o que não é aferível neste momento. Se retomar as duas cidades, importantes centros ferroviários, Moscou cortaria os suprimentos para as forças ucranianas mais ao sul.

Uma opção tática, em caso de êxito, seria fechar o cerco sobre os 45% restantes da região de Donetsk que ainda estão sob controle de Kiev. Junto com a vizinha Lugansk, a área compõe o Donbass, o leste russófono da Ucrânia cuja "defesa" está no coração dos motivos anunciados por Putin para a guerra.

Isso ainda é especulativo, em especial com o ritmo lento da guerra. Mas é péssima notícia para Zelenski, que passou a semana passada pedindo mais armas e um cronograma de adesão à Otan, a aliança militar do Ocidente liderada pelos EUA que fez sua reunião anual de cúpula.

Algumas autoridades se queixaram do que chamaram de falta de gratidão do ucraniano, que rebateu. Seja como for, os tanques e os blindados ocidentais empregados na contraofensiva até aqui não conseguiram penetrar as defesas russas ao longo da frente de batalha, que tem cerca de 1.000 km.

Houve ganhos incrementais, com Kiev alegando ter recuperado 210 km quadrados de área desde junho, mas sem uma ação decisiva: supõe-se que o principal objetivo dos ucranianos é cortar a chamada ponte terrestre que liga Rússia e Donbass à Crimeia, anexada em 2014, via o sul ocupado da Ucrânia.

Putin disse no domingo que a contraofensiva não estava dando efeitos. Na segunda, os ucranianos conseguiram um golpe simbólico ao alvejar com um drone marítimo a ponte que liga a Crimeia à região russa de Krasnodar, interditando parcialmente a vital linha de suprimentos às tropas na península.

Toda essa dinâmica, ainda muito fluida, pode favorecer o estabelecimento de novas fronteiras provisórias da guerra, o que analistas e políticos especulam poder desaguar em negociações.

Por ora, nenhum dos lados as admite, mas o Kremlin já afirmou mais de uma vez que conversaria com base na "nova realidade geográfica", eufemismo para os 20% de área que ocupa na Ucrânia. Kiev, claro, não topa.

Mas há uma janela geopolítica a ser considerada: o calendário eleitoral americano. O presidente Joe Biden começará sua campanha à reeleição de 2024 com a sombra de enfrentar o antecessor, Donald Trump, visto como pró-Putin. Caso consiga sacar um acordo que ao menos congele o conflito, que drena bilhões de dólares do contribuinte dos EUA, poderá ter um trunfo na mão.

Há fatores outros, como o cansaço ocidental com a guerra e a renovada pressão sobre os preços de alimentos no mundo devido à suspensão da presença russa no acordo que viabilizou o escoamento da produção de grãos da Ucrânia pelo mar Negro, anunciada na segunda-feira.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.