Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia tentou atrair diplomatas na Ucrânia com anúncio falso de BMW barata

Hackers pretendiam invadir computadores e roubar dados, diz relatório de empresa de cibersegurança

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Bruxelas (Bélgica) | Reuters

Hackers suspeitos de atuar para a inteligência da Rússia tentaram invadir computadores de diplomatas em embaixadas na Ucrânia usando como isca um anúncio falso de um carro BMW que seria vendido a preço abaixo do valor de mercado, segundo relatório da empresa de cibersegurança Palo Alto Networks.

O documento, obtido pela agência de notícias Reuters, afirma que ao menos 22 das cerca de 80 representações estrangeiras localizadas em Kiev, a capital ucraniana, foram alvos da ação. Os criminosos pretendiam roubar dados para possíveis atividades de espionagem.

Anúncio falso criado por hackers mostra BMW com preço abaixo do valor de mercado
Anúncio falso criado por hackers mostra BMW com preço abaixo do valor de mercado - Unit 42 via Reuters

Os hackers, conhecidos como APT29 ou "Cozy Bear", interceptaram e copiaram um anúncio real divulgado por um diplomata da Polônia e adicionaram ao arquivo um software malicioso. Depois, eles enviaram o conteúdo para o email de dezenas de funcionários estrangeiros na Ucrânia.

"A campanha começou como um acontecimento inócuo e legítimo", diz trecho do relatório, que chama a ação de impressionante. "Em meados de abril, um diplomata da chancelaria da Polônia enviou por email um panfleto legítimo a várias embaixadas anunciando a venda de um BMW série 5 usado, em Kiev."

Segundo especialistas, trata-se de um método conhecido como "phishing", cujo objetivo é "pescar" vítimas para que cliquem em links e baixem arquivos maliciosos, que ficam "escondidos" no computador.

Em 2021, as agências de inteligência dos EUA e do Reino Unido acusaram o grupo APT29 de trabalhar para o Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia. O órgão russo não respondeu a pedidos de comentários feitos pela Reuters. Em abril, autoridades polonesas de contraespionagem e segurança digital alertaram que o mesmo grupo havia conduzido uma "campanha de inteligência generalizada" contra os Estados que fazem parte da Otan, a aliança militar ocidental, e da União Europeia.

"As missões diplomáticas sempre serão um alvo de espionagem de alto valor", diz o relatório. "Dezesseis meses após a invasão russa, a inteligência em torno da Ucrânia e os esforços diplomáticos aliados são quase certamente uma alta prioridade para o governo russo."

O diplomata polonês que espalhou o anúncio original disse ter recebido ligações de pessoas interessadas em comprar o veículo. Ele não quis se identificar alegando questões de segurança. "Quando verifiquei, percebi que eles estavam falando sobre um preço mais baixo [para a compra do carro]", disse à Reuters.

Na versão falsa, a BMW era vendida por € 7.500 (R$ 40,3 mil). O software malicioso, segundo o relatório, estava em um álbum de fotos do veículo. Tentativas de abrir o arquivo poderiam infectar a máquina do alvo, segundo o documento. "Em ótimas condições. Baixo consumo de combustível", diz o anúncio falso.

A Reuters entrou em contato com 21 das 22 embaixadas visadas pelos hackers, mas as representações não comentaram. Não há informações sobre funcionários que tiveram dados roubados. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse estar ciente da atividade e, com base na análise da equipe de Segurança Cibernética e Tecnológica, concluiu que a ação "não afetou os sistemas ou contas da pasta".

A Polônia tem sido um dos principais fornecedores de suprimento militar à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Em razão disso, o país se tornou um dos principais alvos de espiões russos. Na segunda (10), o Ministério do Interior polonês anunciou que os serviços de segurança do país prenderam mais um membro de uma rede de espionagem russa, elevando o número de detidos na investigação para 15.

Emails falsos, com links ou arquivos maliciosos usados no phishing, são cada vez mais personalizados. É comum o hacker estudar a característica da empresa e da vítima antes de agir. As mensagens podem ter nomes de pessoas com cargos de confiança e serem redigidas da maneira como elas se expressam.

Já o veículo BMW continua à venda, disse o diplomata polonês. "Vou tentar vender na Polônia, provavelmente", disse à Reuters. "Depois dessa situação, não quero mais ter problemas."

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