Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Ataque russo fecha porto de grãos da Ucrânia e intimida navios

Preços do trigo sobem após volta de bombardeios, ocorridos a 200 m de território da Otan

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São Paulo

A Rússia voltou a atacar a infraestrutura portuária de exportação de grãos da Ucrânia, elevando a pressão sobre a economia do país que invadiu e fazendo subir os preços do trigo no mercado internacional.

Mais relevante ainda, o bombardeio fechou o porto de Izmail, na região de Odessa. A cidade ucraniana é separada da Romênia pelo rio Danúbio —ou seja, fica a apenas 200 metros de um membro da Otan, a aliança militar ocidental. Navios que pretendiam aportar lá pararam ou reduziram sua velocidade durante a noite, cientes do risco. Foi a segunda vez que a área sofreu ataques.

Prédio de empresa de transporte marítimo em Izmail, na região portuária de Odessa, na Ucrânia, destruído após ataque de drones da Rússia - Nina Liachenko/Reuters

Desde segunda (31), a Ucrânia celebrava o fato de que três navios —vindos de Israel, Turquia e Grécia— haviam passado sem incidentes pela região, considerada passível de interceptação pelos russos no mar Negro. O motivo alegado era o fato de que a área internacional estava coberta por voos militares da Otan, notadamente um avião de patrulha P-8, um drone RQ-9 e um avião-tanque americanos.

Apenas a chegada de um dos navios, o AMS1, de bandeira de Serra Leoa, vindo do porto israelense de Ashdod, prevista no site Marine Traffic para as 14h (8h em Brasília) de terça (1º), seguia indefinida.

O bombardeio, provavelmente com drones e mísseis e que destruiu prédios e ao menos dois silos em Izmail, mostrou a disposição de Moscou em fazer valer seu bloqueio. "O mundo tem de responder. Quando portos civis são alvejados, é uma ameaça a todos os continentes", postou no Telegram Volodimir Zelenski.

Os preços futuros do trigo, produto do qual a Ucrânia tem cerca de 10% do mercado, subiram quase 5% na bolsa de commodities de Chicago (EUA), referência mundial, estabilizando-se em alta mais leve depois.

A ação é mais um capítulo, particularmente perigoso devido ao risco de entrechoques com a reforçada presença da Otan na região, da ativação do mar Negro como fronteira mais aguda da Guerra da Ucrânia.

Ela ocorre um dia após Kiev atacar simbolicamente Moscou com drones, além de tentar abalroar navios russos perto do Danúbio com barcos-robôs. Nesta quarta, o Ministério da Defesa russo disse que houve mais uma tentativa frustrada, desta vez contra um navio militar que escoltava um barco civil de seu país.

A nova frente de crise começou há duas semanas, quando Vladimir Putin suspendeu a participação russa no acordo que permitia o escoamento da produção de grãos ucranianos por um corredor marítimo unindo Odessa, o estuário do Danúbio e o estreito de Bósforo, na Turquia, de onde navios ganham o Mediterrâneo.

O arranjo, acertado em julho do ano passado, reverteu a escalada inflacionária de alimentos dos então cinco meses de guerra. Agora, a previsão do FMI é a de que a limitação da exportação faça os preços médios de trigo e outros produtos, como milho, subirem em até 20% —há compensações, como a supersafra brasileira e o aumento da produção russa, e agravantes, como o perigo de quebra climática na Argentina.

Ato contínuo ao anúncio do Kremlin, Putin ordenou o bombardeio de instalações portuárias do vizinho, poupadas sob o acordo. O estrangulamento de sua produção é um dos maiores problemas para Kiev, que já enfrenta um veto anterior às suas commodities pelo vizinho mais próximo que tem na Otan, a Polônia.

Ainda nesta quarta, Putin conversou ao telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, copatrocinador do acordo de grãos junto à ONU. O russo reiterou que voltaria imediatamente ao arranjo caso as contrapartidas de facilitação de exportação agrícola da Rússia fossem cumpridas por países do Ocidente.

Erdogan já havia dito que compreendia as razões de Putin, com quem mantém uma relação próxima a despeito de a Turquia ser um país membro da Otan. Ele reiterou que o chefe do Kremlin visitará Ancara em comunicado posterior —uma manobra diplomática ousada—, mas não há uma data definida.

Em terra, os ataques russos continuam. Segundo Kiev, a Força Aérea local abateu 23 drones kamikazes sobre a capital, que não causaram danos. Em Kherson, no sul, ao menos duas pessoas morreram em bombardeios oriundos do outro lado do rio Dnipro.

Por ora, a contraofensiva ucraniana, iniciada em 4 de junho, enfrenta dificuldades. O anunciado grande avanço do fim da semana passada ainda não logrou romper as camadas defensivas russas em Zaporíjia, no sul, apesar do emprego maciço de equipamento da Otan. Da mesma forma, o avanço russo ao norte, alardeado por Kiev como o maior desde a invasão, até aqui não mudou taticamente o rumo da guerra.

Rússia faz manobra militar no mar Báltico

Enquanto a tensão entre a Polônia e a Belarus aumenta, com Varsóvia enviando tropas para a fronteira após acusar uma breve invasão de seu espaço aéreo por dois helicópteros militares de Minsk, a Rússia anunciou exercícios militares no mar Báltico, no entorno estratégico da crise.

Segundo a Frota do Báltico, sediada no encrave de Kaliningrado, entre Polônia e Lituânia, são manobras de rotina envolvendo 6.000 soldados, 30 navios e 20 embarcações de apoio, além de 30 aeronaves. Ainda assim, como Belarus é a única aliada local de Putin e é vista como uma extensão do Estado russo em termos militares, a sinalização de apoio fica evidente.

Também está claro o natural aumento de risco de algum incidente, dado que a região é, com o mar Negro, o Pacífico, a Síria e o Ártico, ponto comum de interceptações mútuas de aeronaves russas e do Ocidente. O Báltico banha vários países da Otan, como Alemanha, Polônia, Lituânia, Estônia, Letônia e Finlândia, além da aliada e candidata a entrar no clube Suécia.

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