Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Polônia acusa Belarus de violar espaço aéreo e reforça fronteira

Aliada da Rússia, Minsk diz que afirmação é exagerada; tensão cresce no flanco leste da Otan

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São Paulo

A Polônia acusou nesta terça (1º) a Belarus de ter invadido seu espaço aéreo com dois helicópteros. Como reação, afirmou que irá enviar mais tropas para a fronteira entre os dois países, já reforçada desde que Minsk abrigou os mercenários russos do Grupo Wagner após motim fracassado contra sua aliada Rússia.

O incidente ocorreu durante um exercício militar. Segundo mapas de monitoramento aéreo, um aparelho de ataque Mi-24 e um de transporte Mi-8 invadiram brevemente o céu polonês, fazendo uma curva sobre o parque nacional de Bialowieza. O Ministério da Defesa belarrusso disse que "as acusações de violação são exageradas e usadas para justificar o envio de mais forças para a fronteira".

Helicóptero belarrusso Mi-8, modelo igual a um dos que invadiram o espaço aéreo da Polônia, segundo Varsóvia
Helicóptero belarrusso Mi-8, modelo igual a um dos que invadiram o espaço aéreo da Polônia, segundo Varsóvia - Serguei Kholodilin - 28.fev.22/BelTA via Reuters

Na semana retrasada, a Polônia já havia enviado mais soldados à região fronteiriça devido à presença dos mercenários. O ditador belarrusso, Aleksandr Lukachenko, atiçou o fogo ao dizer que estava "contendo" os membros do Wagner, em tese presentes para treinar seu exército, pois queriam "passear em Varsóvia".

Nesta terça, ele voltou a fazer comentários nesse sentido. Na sexta retrasada, o russo Vladimir Putin havia dito sem provas que a Polônia pretendia intervir na Guerra da Ucrânia e, de quebra, ocupar militarmente territórios historicamente ligados a si na região oeste do vizinho. E ameaçou atacar quem se metesse com a Belarus, que forma com a Rússia uma entidade chamada Estado da União desde 1999.

Criação de Putin como premiê, o Estado nunca decolou como repetição pálida da União Soviética, como alguns temiam. Mas a pressão após os protestos maciços contra Lukachenko em 2020 levaram Minsk de vez à órbita de Moscou, tanto que o país permite o uso de seu território pelos russos contra a Ucrânia.

Desde a invasão russa do vizinho, foram estabelecidas unidades únicas russo-belarrussas, e Putin estacionou armas nucleares táticas no país de Lukachenko. O movimento alarmou a Otan, a aliança militar liderada pelos EUA que tem na Polônia, vizinha direta de Belarus, um de seus mais aguerridos membros.

Por mais que Putin considere a Guerra da Ucrânia um conflito de procuração do Ocidente, que arma e apoia Kiev, poucos analistas afirmam que ele arriscaria um confronto direto com a Otan. O clube de 31 países tem como base a defesa mútua, e um embate com poloneses poderia escalar à Terceira Guerra.

Assim, a agitação dupla em fronteiras novas do conflito, com a militarização do mar Negro após o fim do pacto de exportação de grãos de Kiev e a tensão na Belarus, serve para pulverizar os flancos de temores do Ocidente enquanto crescem preocupações com o rumo da contraofensiva de Volodimir Zelenski.

Em casa, Putin deu outra sinalização de pressão ao subir de 27 para 30 anos a idade máxima de serviço militar sem mobilização, o que lhe assegura mais mão de obra em caso de guerra mais longa ou ampla.

Já a Polônia tem mantido o alerta máximo. Pediu aos EUA que estacionem armas nucleares no país, como resposta ao movimento na Belarus, e está em meio a uma compra enorme de equipamento militar: quer gastar 4% de seu PIB neste ano com defesa, o maior nível entre todos os colegas de Otan.

Os EUA estão fortemente implicados na Polônia, com 10 mil soldados, forças mecanizadas e aviação de combate, além de operar o polêmico sistema de defesa antimíssil em solo polonês, gerando acusações de intenções agressivas por Moscou. A base aérea polonesa de Minsk Mazowiecki fica a apenas 190 km do ponto invadido de fronteira.

Apesar do apoio mútuo, há ruídos na relação ucraniano-polonesa. Nesta terça, um assessor do governo polonês, Marcin Przydacz, disse que Kiev deveria ter mais "apreço" pelo apoio de Varsóvia na guerra e que seu país tinha direito de defender seus interesses ao banir a importação de commodities do vizinho.

O Ministério das Relações Exteriores em Kiev disse que a alegação sobre ingratidão, que já havia sido feita por outras autoridades ocidentais como o ministro britânico Ben Wallace (Defesa), eram "falsas e inaceitáveis". Ambos os países chamaram para conversar os embaixadores do vizinho.

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