Diretor de emergências no Havaí renuncia após críticas por resposta ao incêndio

Ao menos 111 pessoas morreram na tragédia do tipo mais letal dos Estados Unidos em cem anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Alvo de críticas pela resposta ao incêndio mais letal do Havaí, também o mais mortífero em cem anos nos Estados Unidos, o diretor da Agência de Gestão de Emergências da ilha de Maui, Herman Andaya, renunciou ao cargo nesta quinta-feira (17) alegando motivos de saúde. Ao menos 111 pessoas morreram devido às chamas, e as buscas de desaparecidos continuam.

A demissão, com "efeito imediato", foi anunciada em nota divulgada pela administração de Maui, a região mais devastada pelo fogo. Os problemas de saúde apontados na renúncia não foram detalhados.

Herman Andaya, que renunciou ao posto de diretor da Agência de Gestão de Emergência após críticas
Herman Andaya, que renunciou ao posto de diretor da Agência de Gestão de Emergência após críticas - Condado de Maui - 17.ago.23/AFP

Andaya disse na última quarta (16) que não se arrependia de não ter acionado a ampla rede de sirenes enquanto as chamas se propagavam em Lahaina, onde moram aproximadamente 12 mil pessoas.

Ele alegou que os equipamentos são reservados para alertas de tsunamis e que os moradores são orientados a buscar áreas mais altas quando o mecanismo é acionado. Assim, usá-los durante o incêndio poderia ter levado a população a se deslocar em direção ao perigo, disse.

"Se tivéssemos tocado a sirene naquela noite, temíamos que as pessoas fossem para a encosta da montanha e, se fosse esse o caso, teriam ido para o fogo", disse Andaya.

A decisão provocou revolta entre os sobreviventes, que apontam lentidão e dizem que vidas poderiam ter sido salvas. O Havaí tem o maior sistema de sirenes de alerta de segurança pública ao ar livre do mundo, mas nenhum dos 80 equipamentos instalados ao redor de Maui foi ativado enquanto o fogo se alastrava.

O incêndio começou na terça (8) e tomou a região rapidamente devido a fortes ventos. Na semana passada, o chefe dos bombeiros, Bradford Ventura, disse que a agência de resposta a emergências não teve tempo suficiente para alertar os funcionários e enviar ordens para a retirada das pessoas.

Assim, moradores relatam que tiveram pouco tempo para reagir. A ilha de Maui sofreu várias interrupções de energia durante a crise, impedindo que muitos habitantes recebessem alertas nos celulares. Surpreendidas, algumas pessoas tiveram que se jogar no mar para escapar das chamas.

Dos 111 corpos encontrados, poucos puderam ser identificados, segundo as autoridades, e as equipes de resgate continuam procurando desaparecidos. Após a renúncia de Andaya, o prefeito de Maui, Richard Bisse, prometeu medidas ágeis. "Dada a gravidade da crise, minha equipe e eu vamos nomear alguém para esta posição-chave o mais rapidamente possível", disse.

Nesta quinta (17), o presidente Joe Biden prometeu que o governo dos EUA "permanecerá firme" em seu compromisso de ajudar a população de Maui a se recuperar. À imprensa americana o democrata disse que o governo federal já enviou para as regiões atingidas centenas de socorristas, toneladas de alimentos e suprimentos essenciais, incluindo berços e cobertores.

"Estaremos com vocês pelo tempo que for necessário, prometo", disse Biden, que deve viajar ao Havaí na próxima segunda (21) para avaliar a devastação e se encontrar com socorristas e sobreviventes.

Já a procuradora-geral do Havaí, Anne Lopez, disse que contratará uma agência privada para investigar a resposta das autoridades estaduais e municipais ao incêndio. Segundo ela, o governador da região, Josh Green, a encarregou de realizar uma revisão abrangente das ações tomadas antes, durante e depois da tragédia, e a investigação de terceiros fará parte desse esforço. O processo deve levar meses, disse ela.

O incêndio já é considerado o mais letal dos EUA em um século. As autoridades confirmaram no dia 12 que o número de vítimas ultrapassou as 85 provocadas por uma tragédia semelhante em Paradise, na Califórnia, em 2018.

O desastre ocorreu no Havaí depois de a América do Norte sofrer os impactos de vários fenômenos climáticos extremos nos últimos meses, de incêndios recorde no Canadá a uma extensa onda de calor que castigou o sudeste dos Estados Unidos e o México. A Europa e algumas regiões da Ásia também sofreram com ondas de calor, inundações e incêndios alimentados pela crise climática, segundo especialistas.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global.

Com Reuters e AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.