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Expansão dos Brics é capitaneada pela China e ganha fôlego em reunião

Newsletter China, terra do meio explica possíveis adesões de países ao grupo

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Igor Patrick
Washington

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O tamanho do Brics

Começa nesta terça-feira (22) a cúpula do Brics, sediada neste ano em Joanesburgo, na África do Sul. Esta pode ser a última vez que o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e os anfitriões sul-africanos se reúne neste formato: a expectativa é a de que o bloco se expanda. A questão é saber de que maneira e em que ritmo.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o líder da China, Xi Jinping, durante cúpula do G20 em Bali, na Indonésia - Shen Hong - 15.nov.22/Xinhua
  • Conversas sobre a ampliação do Brics começaram em 2021, lideradas sobretudo pela China, que tem interesse em ver o grupo se tornar um fórum de países em desenvolvimento no qual possa exercer mais influência;
  • A Rússia se juntou na defesa pela adesão de novos membros e, após a Guerra da Ucrânia, passou a ver a estratégia como forma de romper o isolamento diplomático em que se encontra;
  • Brasil e Índia foram inicialmente contra a proposta, temendo que a inclusão desordenada de países párias no Ocidente, como Irã e Venezuela, transforme o grupo em uma espécie de "movimento dos não alinhados", bloco formado na Guerra Fria por aqueles que se recusavam a estar ao lado de EUA ou da União Soviética;
  • No início do mês, porém, Lula se manifestou a favor de adesões de novos países. Em café com jornalistas estrangeiros realizado no Planalto, chegou a expressar nominalmente o apoio às entradas de Arábia Saudita, Argentina e Emirados Árabes Unidos.

A cúpula na África do Sul terá de definir agora como será a adesão de novos membros. Fontes com quem conversei se dividem entre os que apostam em uma expansão imediata, como a China quer, ou na criação de um mecanismo de entrada mais lento, com a necessidade de aprovação por consenso de todos os membros.

Lula, veste um paletó azul-marinho, camisa azul clara. O presidente também usa um óculos escuro. Na foto, ele está no centro da imagem sendo recepcionados por militares sul-africano enfileirados dos seus dois lados. Ao fundo, o grupo segura uma bandeira do Brasil e outra da África do Sul.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou nesta segunda-feira (21) na África do Sul para participar da cúpula de líderes dos países do Brics - Ricardo Stuckert/PR/Divulgação

Por que importa: o Brics era até pouco tempo atrás quase integralmente ignorado pelo Ocidente e considerado um grupo de união sem consistência ou pautas em comum. Isso começou a mudar com a proposta de realizar o comércio entre os países do clube por meio de uma moeda própria, algo que no longo prazo pode diminuir a importância do dólar e tornar China e Rússia menos suscetíveis a sanções dos EUA.

A adesão de novos membros pode contar com países importantes para o comércio internacional, como a Arábia Saudita, hoje a principal exportadora de petróleo no mundo (comercializado na moeda americana), o que também ampliaria o significado da estratégia.


o que também importa

Pela segunda vez apenas em 2023, o Banco Popular da China decidiu cortar sua taxa de juros prime de um ano (LPR), de 3,55% para 3,45%, em mais uma tentativa de estimular o crescimento econômico. A taxa de cinco anos permaneceu inalterada em 4,2%. A redução era esperada, mas a falta de mudança na taxa de cinco anos surpreendeu os economistas. A cautela indica que Pequim está ciente dos desafios macroeconômicos que precisa enfrentar, mas não está disposta a movimentos bruscos para estimular o consumo.

O líder chinês, Xi Jinping, pediu que jovens dos EUA e da China "se conheçam e "avancem juntos". A informação é da CGTN. Segundo o canal estatal de TV, o apelo foi dirigido à Associação de Intercâmbio de Jovens e Estudantes entre China e EUA, que teria antes enviado uma carta a Xi parabenizando-o pela realização dos Jogos Mundiais Universitários de Verão, realizado neste ano em julho e agosto na cidade de Chengdu, no sudoeste da China.

O Ministério da Segurança do Estado chinês acusou um homem de 39 anos de espionar o governo para a CIA, a agência de inteligência dos EUA. Segundo a denúncia, o suspeito, identificado apenas pelo sobrenome Hao, é chinês e teria sido recrutado enquanto estudava no Japão. Ele seria remunerado com presentes e dinheiro por um oficial da embaixada americana. Hao teria retornado China para trabalhar num "departamento central e importante" e seguir repassando informações. Os EUA não responderam à acusação.


fique de olho

Joe Biden assinará um acordo de parceria estratégica com o Vietnã em setembro, publicou o Politico na sexta. Segundo fontes consultadas pelo site, a iniciativa deve se concretizar durante uma visita de Estado do presidente americano ao país e busca aproximar Hanoi de Washington num momento em que os EUA tentam aumentar a presença no Indo-Pacífico.

Se for levado a cabo, o acordo fará mais que apenas adicionar um selo bonito às relações diplomáticas entre os dois países: a ideia dos americanos é aumentar a colaboração em áreas como produção de semicondutores e inteligência artificial.

Por que importa: os americanos querem aproveitar as rusgas entre os vietnamitas e os chineses pelo controle de porções do mar do Sul da China para ampliar o leque de parcerias na região –e estrangular a China no processo.

  • Recentemente, a agência de notícias Associated Press reportou que Pequim ordenou a construção de uma pista de pouso em uma ilha sob soberania do Vietnã, o que desagradou o país do Sudeste Asiático e acelerou planos para deslocar infraestrutura militar vietnamita para a região;
  • Mesmo assim, e a despeito da crescente melhora das relações entre EUA e Vietnã, uma possível elevação das relações ao nível de parceria estratégica apenas reforçaria um entendimento tácito entre as elites políticas vietnamitas: jogar com ambos os lados e permanecer firme no princípio de não alinhamento;
  • É pouco provável que Biden convença Hanói a cortar vínculos comerciais e diplomáticos com os chineses no curto ou no médio prazo, mesmo com tantas desavenças militares.

para ir a fundo

  • Termina em 19 de setembro o prazo para inscrições no mestrado de Assuntos Globais do Schwarzman Scholars, programa sediado na Universidade Tsinghua. Selecionados estudam um ano na universidade chinesa com tudo pago (passagens, mensalidade, alimentação, plano de saúde e ajuda de custo mensal). Informações aqui. (gratuito, em inglês).
  • A Huawei abriu inscrições para o Seeds for the Future, programa de intercâmbio online que treina estudantes de graduação e pós em temas como inteligência artificial, 5G, computação na nuvem e big data. Selecionados recebem certificado de participação e permanecem em contato com lideranças da empresa. Informações aqui. (gratuito, em inglês).
  • O Grupo de Estudos Asiáticos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) recruta coordenadores voluntários em várias áreas de atuação. Podem participar alunos de jornalismo, relações internacionais, direito, economia, ciências políticas, filosofia e áreas afins com interesse na Ásia, além de matriculados em qualquer instituição de ensino do país. Informações aqui. (gratuito, em português).
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