Descrição de chapéu China

Fundador da Foxconn sai candidato para Taiwan 'não ser a próxima Ucrânia'

Terry Gou divide ainda mais a oposição; atual vice, Lai Ching-te, está à frente nas pesquisas para eleição de janeiro

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Taipé

Fundador da Foxconn, conhecida mundialmente por montar celulares da Apple, o bilionário Terry Gou, 72, anunciou nesta segunda-feira (28) sua candidatura independente à Presidência de Taiwan. A eleição está marcada para janeiro.

No evento de lançamento da candidatura, o empresário prometeu recuperar o crescimento econômico da ilha, que está em recessão técnica, e citou um prazo de 20 anos para levar sua economia a superar a de Singapura, país com o maior PIB per capita da Ásia. "Se Singapura pode fazê-lo, Taiwan também pode", disse.

Terry Gou, usando boné com a bandeira de Taiwan, no evento em que anunciou sua candidatura a presidente, em Taipé
Terry Gou, usando boné com a bandeira de Taiwan, no evento em que anunciou sua candidatura a presidente, em Taipé - Ann Wang/Reuters

Ele ainda criticou a administração taiwanesa atual devido ao risco de guerra —a China considera Taiwan uma província rebelde, parte inalienável de seu território, e tem exibido de modo cada vez mais incisivo seu descontentamento com a aproximação entre o governo de Tsai Ing-wen e os Estados Unidos.

Gou, que administra fábricas na China continental, afirmou que não permitirá que "Taiwan se torne a próxima Ucrânia". "Posso garantir que trarei 50 anos de paz ao estreito", declarou, prometendo levar a ilha "de volta ao caminho da paz e da prosperidade" por meio da eleição.

Questionado sobre a pressão que o regime chinês poderia exercer sobre um eventual governo seu, por exemplo com a tomada de fábricas no continente, o empresário argumentou que, caso isso acontecesse, ninguém "mais ousaria investir" na China. Afinal, acrescentou, suas montadoras não têm só a Apple como cliente, mas também outros gigantes mundiais de tecnologia, como Tesla e Nvidia.

Gou ou Guo Tai-ming, seu nome em chinês, é o terceiro homem mais rico de Taiwan, com uma fortuna de US$ 7,4 bilhões (R$ 36 bilhões), segundo a revista Forbes. Três meses atrás, ele tentou pela segunda vez ser nomeado pelo partido oposicionista Kuomintang para concorrer à Presidência pela sigla. Foi derrotado por Hou Yu-ih, prefeito de Nova Taipé, mas se viu estimulado a voltar à disputa diante do baixo desempenho do escolhido nas pesquisas de intenção de voto.

Gou chegou a defender nas últimas semanas que Hou e outro candidato a presidente, Ko Wen-je, ex-prefeito de Taipé, do Partido Popular, negociassem com ele uma candidatura única de oposição, sem sucesso. O líder nas pesquisas é o candidato do governo, o atual vice-presidente Lai Ching-te, também conhecido como William Lai, do Partido Democrático Progressista.

Analistas acreditam que, com três nomes, a oposição perderá ainda mais força. Segundo levantamento da empresa taiwanesa Newtalk divulgado no início de agosto, uma corrida com os quatro mostra Lai com 30%, Ko com 25%, e Gou e Hou com 17% cada um. Nesta segunda, Gou voltou a pedir uma conversa com Ko e Hou. "Se não houver união, isso só beneficiará Lai", disse.

O governista Lai é considerado ainda mais favorável à independência do que Tsai, que está em seu segundo mandato e não pode concorrer. O vice-presidente taiwanês esteve há duas semanas nos EUA, mas não foi recebido por nenhuma autoridade do governo americano, que tenta diminuir as tensões com a China após meses de escalada.

Pequim afirmou durante a viagem que o político era "um encrenqueiro" e programou em seguida novos exercícios militares ao redor da ilha. Nesta semana, após a suspensão da importação de mangas de Taiwan pelo regime chinês, Lai prometeu reduzir a dependência econômica da ilha em relação à China continental, reforçando que este será um dos focos de sua candidatura.

Boa parte da campanha se dá nos EUA. Ko acaba de anunciar, também ele, uma viagem ao país. O próprio Gou, que já esteve em solo americano duas vezes neste ano, escreveu há um mês no jornal The Washington Post que Lai e Tsai, "ao abandonarem a política de Uma Só China, agravaram muito a ameaça de guerra, prejudicaram a economia, afastaram os investidores e tornaram Taiwan menos segura".

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