Descrição de chapéu China

Por que viagem de vice-presidente de Taiwan aos EUA incomodou a China

Newsletter China, terra do meio explica movimentação do líder taiwanês pela independência da ilha

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Igor Patrick
Washington

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Pequim voltou a acusar os Estados Unidos de usar Taiwan para provocar e conter a ascensão da China.

O assunto voltou aos holofotes com a visita de William Lai —atual vice-presidente da ilha e principal candidato à Presidência nas eleições de janeiro do ano que vem—, que decidiu parar nos EUA durante dois dias antes de seguir viagem para o Paraguai, onde participará da posse do presidente eleito Santiago Peña na tarde desta terça-feira (15).

O vice-presidente de Taiwan, Lai Ching-te, esteve em um jogo de beisebol em Nova York, nos Estados Unidos - Gabinete Presidencial de Taiwan - 14.ago.2023/Reuters

"Opomo-nos firmemente a qualquer visita dos separatistas de Taiwan aos EUA […] sob qualquer pretexto e opomo-nos firmemente que o governo dos EUA mantenha qualquer forma de contato oficial com a região de Taiwan", declarou a porta-voz da chancelaria chinesa Mao Ning durante entrevista coletiva realizada no domingo.

"Lai Ching-te [nome chinês de William Lai] se apega obstinadamente à posição pela independência de Taiwan. Ele é um completo arruaceiro", acrescentou.

O vice-presidente taiwanês escreveu em seu perfil no X, o ex-Twitter, que estava "feliz por chegar à Big Apple [apelido de Nova York], ícone de liberdade, democracia e oportunidades". Na cidade, participou de um almoço organizado pelo Instituto Americano em Taiwan (AIT), mas não se encontrou com políticos americanos.

Antes de seguir viagem, comentou as declarações da China: "Não teremos medo nem vamos nos acovardar. Defenderemos os valores da democracia e da liberdade".

Ainda não está claro se, a exemplo de como reagiu diante da visita de Nancy Pelosi a Taiwan, no ano passado, a China realizará exercícios militares ao redor da ilha.

Lai retorna aos EUA logo após participar da posse em Assunção. Ele deve ficar um dia em São Francisco, na Costa Oeste americana, antes de tomar o último voo de volta a Taipé.

Por que importa: apoiado pela atual presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, e pela liderança do Partido Democrático Progressista, Lai é incisivo na defesa da independência da ilha que Pequim considera uma província rebelde.

  • Ele tem tentado se aproximar do Japão, histórico rival chinês que colonizou Taiwan por 50 anos (1895-1945);
  • Chegou a visitar Tóquio durante os ritos fúnebres do ex-premiê Shinzo Abe.

Se cumprir as expectativas e vencer as eleições, é possível que Pequim aumente a pressão sobre o território para demonstrar que não aceitará tentativas separatistas.

Pare para ver

“Lotus”, arte do pintor chinês Bada Shanren. Nascido em uma família de nobres, ele foi perseguido por oficiais da dinastia Qing devido à proximidade entre o pai e Chongzhen, último imperador Ming e que se matou em 1644. O pintor desenvolveu problemas mentais e, mais tarde, tornou-se um monge.
'Lotus', arte do pintor chinês Bada Shanren - Reprodução

Autor: "Lotus", arte do pintor chinês Bada Shanren. Nascido em uma família de nobres, ele foi perseguido por oficiais da dinastia Qing devido à proximidade entre o pai e Chongzhen, último imperador Ming e que se matou em 1644. O pintor desenvolveu problemas mentais e, mais tarde, tornou-se um monge.

O que também importa

Cientistas chineses podem ter encontrado indícios de uma nova espécie humana. Os pesquisadores disseram ter identificado deformações nunca antes vistas na mandíbula de um crânio de 300 mil anos encontrado em Hualongdong, no leste da China. A descoberta foi publicada na revista Journal of Human Evolution, mas a confirmação da nova linhagem precisará ser validada por mais evidências e escavações no local.

O ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, partiu nesta segunda para uma visita de seis dias à Rússia e a Belarus. Li vai discursar na Conferência de Moscou sobre segurança internacional e deve se encontrar com oficiais de defesa da Rússia. De lá, ele viaja a Minsk, onde deve visitar instalações militares. A chancelaria chinesa se recusou a confirmar se discussões sobre a Guerra da Ucrânia estarão na pauta do ministro e declarou que a visita atende à necessidade de "comunicação estratégica de diferentes maneiras e sobre vários assuntos" entre Pequim e Moscou.

A jornalista Cheng Lei relatou em uma carta aberta que só tem direito a "dez horas de banho de sol por ano" no local onde está detida desde 2020. Nascida chinesa e naturalizada australiana, Lei trabalhava para o canal estatal CCTV quando foi presa e condenada, em um julgamento a portas fechadas, sob a acusação de ser uma "espiã estrangeira". No texto, divulgado pela família da jornalista, ela disse sentir falta dos filhos e renovou os pedidos por uma sentença transparente. O premiê australiano, Anthony Albanese, voltou a pedir que Pequim libertasse a jornalista, insistindo que "os direitos humanos dela precisam ser respeitados".

Cheng Lei, jornalista australiana detida em Pequim, em vídeo divulgado pelo governo da Austrália - Departamento de Relações Exteriores e Comércio da Austrália/Divulgação/AFP

Fique de olho

O Conselho de Estado da China divulgou no domingo um documento com 24 diretrizes para otimizar investimentos e atrair mais capital estrangeiro para o país.

  • O plano apresentou incentivos fiscais, como a isenção temporária ao imposto de renda retido na fonte desde que os lucros fossem reinvestidos na China;
  • Também prevê facilitação para a concessão de vistos e autorizações de residência temporária para funcionários de empresas estrangeiras.

O Conselho de Estado também prometeu incentivar a criação de centros de pesquisa e desenvolvimento nas áreas de biomedicina, ensaios clínicos de terapia genética e celular, manufatura e economia digital.

Os legisladores reafirmaram ainda o compromisso em "fortalecer a proteção administrativa dos direitos de propriedade intelectual", uma promessa antiga de Pequim.

Por que importa: a iniciativa tenta reverter uma tendência perigosa para a macroeconomia nacional.

Dados divulgados no início de agosto pela Administração Estatal de Câmbio da China mostraram que o investimento direto de empresas estrangeiras no país fechou o segundo trimestre de 2023 com uma queda de 87% em relação ao ano passado, totalizando US$ 4,9 bilhões.

O Ministério do Comércio também apontou que os estrangeiros estão reinvestindo seus lucros em menor proporção: a taxa nos seis primeiros meses do ano está em -2,7% na comparação com o mesmo período em 2022.

A política de Covid zero e a dificuldade governamental em prosseguir com as reformas estruturais (sobretudo na regulação fiscal, cambial e imobiliária) são alguns dos fatores que ajudam a explicar os dados ruins.

Para ir a fundo

  • O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) abriu inscrições para seu seminário executivo na China. O programa acontece na Universidade Tsinghua, em Pequim, entre 17 e 22 de setembro, com aulas e visitas a empresas e centros de pesquisa. Interessados devem enviar email para cursos@cebri.org.br. (pago, em inglês, português e chinês)
  • Estão abertas as inscrições para a Escola de Verão do Brics, programa de treinamento para jovens pesquisadores vindos dos cinco países membros do grupo. O curso acontecerá na África do Sul, e os selecionados receberão isenção nas taxas acadêmicas, hospedagem e alimentação. Informações aqui. (Gratuito, em inglês)
  • O China Project traz um texto recontando a fracassada missão diplomática portuguesa ao Cantão em 1517, a primeira à época em mais de 200 anos. (Paywall poroso, em inglês)
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