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Junta militar do Níger expulsa embaixador da França um mês após golpe

Paris afirma que permissões do diplomata dependem apenas de decisões das autoridades 'eleitas legitimamente'

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São Paulo

A junta militar que tomou o poder no Níger há um mês aumentou a tensão que se acumula no noroeste africano nesta sexta-feira (25) ao dar 48 horas para que o embaixador da França deixe o país.

Em nota, a chancelaria nigerina justificou o ultimato com uma suposta recusa do embaixador de Paris a se apresentar a uma reunião e com "outras ações do governo francês contrárias ao interesse do Níger". O Ministério das Relações Exteriores da França respondeu que "os golpistas não têm autoridade para fazer esse pedido" e que "a permissão do embaixador depende apenas das autoridades do Níger eleitas legitimamente".

Apoiadores da junta militar se reúnem em praça de Niamey - 20.ago.23/AFP

Comunicados obtidos pela agência de notícias AFP posteriormente indicavam que o prazo se estendia a Alemanha, Nigéria e EUA —cuja embaixadora, Kathleen Fitzgibbons, chegou ao país no começo do mês. As autoridades nigerinas, porém, afirmaram horas depois que tais documentos são falsos e a agência corrigiu a declaração.

Declarações e manifestações antifrancesas se multiplicaram no país desde a deposição do presidente Mohamed Bazoum, eleito democraticamente e mantido em prisão domiciliar desde o golpe. Ao lado de outras potências ocidentais e vizinhos africanos, a França tem pedido pela libertação do líder.

O novo regime nigerino acusa seu ex-colonizador de preparar uma intervenção militar para devolver o poder a Bazoum e de manipular a Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), bloco do qual agora o Níger é um membro suspenso.

A organização impôs duras sanções econômicas e financeiras ao país e tem priorizado a diplomacia, mas também ameaça usar a força para retomar a institucionalidade no país desde o golpe de Estado, no final de julho.

Na última sexta-feira (18), por exemplo, o bloco regional disse que estava pronto para iniciar uma intervenção armada. Na terça (22), porém, o mediador da Cedeao Abdulsalami Abubakar, ex-líder militar nigeriano, disse que sua visita ao Níger no fim de semana foi "muito frutífera" e que ainda tinha esperança de uma solução pacífica. "Ninguém quer ir para a guerra", disse ele a repórteres.

A opção pela via diplomática é apoiada ainda pelo Parlamento da Cedeao, uma das instituições do bloco. O ultimato, porém, representa uma escalada na tensão.

Após rupturas em Guiné, Burkina Fasso e Mali, a Cedeao afirmou que não toleraria mais novas derrubadas de governos entre seus membros —veio, então, o golpe no Níger, o sétimo na África Ocidental e Central desde 2020.

A sequência de golpes na região causou preocupação também no Ocidente, que teme pelo aumento da presença de grupos armados islâmicos no Sahel, onde o país está localizado —cerca de 1.500 soldados franceses estão no Níger para combater grupos jihadistas que operam na região.

O empenho internacional na normalização democrática reflete, aliás, sua importância geopolítica: além de ter reservas de urânio e petróleo significativas, sua instabilidade pode contribuir para aumentar a influência da Rússia no continente.

Na quinta-feira (24), os militares nigerinos anunciaram que vão permitir intervenção das forças armadas de seus vizinhos Burkina Fasso e Mali "em caso de agressão". O comunicado foi feito após uma visita dos chefes da diplomacia desses dois países à capital do Níger, Niamey, para uma reunião com o novo líder do país, o general Abdourahamane Tiani. Pouco depois do golpe, ambas as nações aliadas alertaram que uma intervenção seria entendida como "uma declaração de guerra".

Com Reuters e AFP

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