Descrição de chapéu África

Biden pede liberação de líder deposto do Níger em meio a apagões após golpe militar

Nação é pressionada por EUA, Europa e bloco da África Ocidental enquanto chefe da guarda fala em 'batalha final'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um dia após o Níger lidar com uma série de apagões elétricos, uma retaliação ao golpe de Estado dado há uma semana por militares do país do Sahel africano, o líder dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a libertação do presidente destituído, Mohamed Bazoum, que está desde o final de julho detido no palácio presidencial.

"Peço a libertação imediata do presidente Bazoum e de sua família, assim como a preservação da duramente conquistada democracia no Níger", afirmou Biden nesta quinta (3), dia em que a nação celebra 63 anos de independência. "Neste momento crítico, os EUA estão com o povo do Níger para honrar nossa parceria de décadas, enraizada em valores democráticos e no apoio a um governo liderado por civis."

Manifestantes levantam bandeira do Níger durante manifestação em Niamei em celebração do Dia da Independência do país - AFP

O presidente americano afirmou ainda que a população expressou sua vontade em eleições livres e justas e que essa manifestação deve ser respeitada.

Bazoum, 63, foi derrubado há uma semana em um golpe de Estado condenado por diversos membros da comunidade internacional. No último dia 26, membros da Guarda Presidencial prenderam o líder africano no palácio do governo e tomaram a capital, Niamei, antes de anunciar a ruptura democrática na TV.

A junta militar disse que a tomada de poder visava a "colocar um ponto final no regime que deteriorou a segurança nacional devido à má gestão", referência a ataques jihadistas que assolam o território.

Nos dias que se seguiram, a União Europeia e a França cortaram apoio financeiro ao país, e os EUA ameaçaram tomar a mesma atitude —o Níger recebe cerca de US$ 2 bilhões (R$ 9,5 bilhões) por ano em assistência ao seu desenvolvimento. A Cedeao (Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental), por sua vez, anunciou um bloqueio econômico ao território e cortou o fornecimento de energia ao país.

O bloco tem procurado conter o retrocesso democrático na região, e os chefes de Defesa dos países do grupo devem encerrar nesta quinta uma reunião de dois dias em que discutem uma possível intervenção para restaurar a democracia no país.

Burkina Fasso e Mali, que sofreram seus próprios golpes nos últimos dois anos e também são membros do Cedeao, advertiram que qualquer movimento do tipo seria entendido como uma "declaração de guerra".

A repreensão estrangeira parece não ter sido suficiente para inibir os militares nigerinos, que prenderam um dirigente e dois ministros na segunda. Na noite da quarta, Abdourahamane Tiani, ex-chefe da Guarda Presidencial que se declarou chefe de Estado, prometeu não ceder à pressão em discurso na TV.

Tiani chamou as sanções da Cedeao de desumanas e disse rejeitar qualquer interferência estrangeira. "Se eles perseguirem sua lógica destrutiva até o fim, que Alá cuide do Níger e garanta que essa seja a grande batalha final que lutaremos juntos pela verdadeira independência de nossa nação", afirmou. Embora tenha mencionado eleições num prazo "relativamente curto e razoável", ele não apresentou um cronograma.

O general conta com o apoio de parte da população, que marchou em Niamei nesta quinta para protestar contra as sanções —no dia do golpe, apoiadores de Bazoum foram dispersos com tiros de advertência.

Um dos manifestantes segurava uma placa em que se lia: "Viva Níger, Rússia, Mali e Burkina. Abaixo a França, Cedeao e UE". O protesto, que causa preocupação às potências ocidentais, não foi uma exceção nos últimos dias. A tomada militar tem um forte componente antifrancês, e ocorre num momento em que a população se diz insatisfeita com as interferências do país europeu que colonizou o Níger até 1960.

A França tem entre 1.000 e 1.500 soldados no país para combater grupos jihadistas ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico que se espalharam pela região. Burkina Fasso e Mali já expulsaram as tropas francesas.

Nesta quinta, a França disse ter concluído a repatriação de 1.079 cidadãos europeus, dos quais 577 são cidadãos franceses, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores. Mas a retirada dos soldados "não está na ordem do dia", segundo o Estado-Maior do Exército francês.

Após a embaixada francesa no país ser alvo de protestos, Paris pediu às forças de segurança do Níger que tomem as medidas necessárias para garantir a integridade do prédio. "A França lembra que a segurança da sede diplomática é uma obrigação, conforme o direito internacional", disse a pasta em comunicado.

O temor se alastrou também no Reino Unido, que reduzirá temporariamente o número de funcionários da embaixada britânica no Níger, segundo o Ministério das Relações Exteriores da nação europeia.

Com Reuters e AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.