Descrição de chapéu África

Líderes africanos colocam forças em prontidão para intervenção no Níger

Em resposta, junta militar ameaça assassinar presidente eleito caso países façam operação armada

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São Paulo

A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) determinou nesta quinta-feira (10) a mobilização de uma "força de prontidão" para possível intervenção armada no Níger, onde militares aplicaram um golpe de Estado no último dia 26.

Omar Touray, presidente da Cedeao, limitou-se a dizer que a medida tem o objetivo de restaurar a ordem constitucional no país africano. A decisão foi tomada pelas lideranças do bloco durante um encontro de emergência na cidade de Abuja, capital da Nigéria.

"Não descartamos nenhuma opção, inclusive o recurso da força. Se não o fizermos, ninguém o fará", afirmou o presidente nigeriano, Bola Tinubu, acrescentando que a Cedeao prioriza as negociações diplomáticas. "Espero que, com esforço coletivo, possamos chegar a uma solução pacífica para restaurar a estabilidade e a democracia no Níger. Nem tudo está perdido ainda."

Militares das Forças Armadas do Senegal conversam durante encontro da Cedeao em Abuja
Militares das Forças Armadas do Senegal conversam durante encontro da Cedeao em Abuja - Kola Sulaimon/AFP

A Cedeao não especificou como a força seria financiada, quais países participariam ou quantos soldados seriam mobilizados. Tampouco estipulou datas. Ainda assim, a decisão escala a tensão na região. O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, disse que a organização africana deu um sinal verde para que as nações iniciem uma intervenção militar no Níger "o mais rapidamente possível".

"Os chefes de Estado-Maior vão realizar outras reuniões para acertar os detalhes, mas têm o aval [...] dos chefes de Estado para que a operação comece o mais brevemente possível", disse Ouattara.

Analistas de segurança disseram à agência de notícias Reuters que a mobilização de uma força regional pode levar semanas, abrindo espaço para novas tentativas de negociações. Por ora, porém, os idealizadores do golpe em Niamey não dão sinais de disposição para fazer concessões significativas.

Em resposta ao anúncio da mobilização, líderes da junta militar no Níger ameaçaram assassinar o presidente eleito, Mohamed Bazoum, caso países vizinhos façam qualquer intervenção armada para restabelecer o governo deposto, segundo a agência de notícias Associated Press.

A mensagem teria sido transmitida à subsecretária de Estado americano, Victoria Nuland, durante visita ao país africano nesta semana. Desde que foi deposto, Bazoum está detido no palácio presidencial.

Ainda no fim de julho, o líder do Chade, Mahamat Idriss Deby, publicou o que seriam as primeiras imagens do líder nigerino após o golpe. Nas fotos, ele aparece sorrindo e aparentemente sem ferimentos.

Dos 15 países-membros da Cedeao, quatro estão suspensos devido a golpes militares —Guiné, Burkina Fasso, Mali e, mais recentemente, Níger. O bloco afirmou que não toleraria novas derrubadas de governos na região e deu um ultimato aos militares nigerinos para que devolvessem o poder a Bazoum, sob ameaça de intervenção no país. O prazo expirou no domingo (6).

O ultimato havia recebido o apoio da União Europeia e dos EUA. Numa tentativa de coibir possíveis ações armadas, a junta militar no Níger disse que iria repelir quaisquer ataques estrangeiros e determinou também no domingo o fechamento do espaço aéreo.

Nesta quarta (9), os militares acusaram a França de violar o espaço aéreo como parte de um suposto plano para desestabilizar o país. A declaração foi feita em vídeo pelo coronel Amadou Abdramane, um dos líderes do golpe, que não forneceu provas. Paris negou ter feito ações provocativas.

Líderes de países ocidentais temem que o golpe no Níger possa aumentar a influência do grupo paramilitar Wagner na região. Ievguêni Prigojin, chefe da força mercenária que liderou um fracassado motim contra o governo Putin em junho, celebrou o golpe e ofereceu os serviços de seus combatentes.

Apesar de ser um dos países mais pobres do mundo, o Níger tem importância estratégica para países como França e EUA, que usam o território da nação africana como base para combater a insurgência de grupos terroristas jihadistas nas áreas oeste e central da região do Sahel.

Desde que o Níger se tornou independente da França, em 1960, diversas tentativas de golpes de Estado ocorreram no país. Quatro delas foram exitosas, a última em fevereiro de 2010, quando Mamadou Tandja foi deposto. Bazoum assumiu a Presidência em abril de 2021. À época, militares tentaram tomar o palácio presidencial, mas a ordem foi restaurada, na primeira transferência de poder democrática no país.

Em represália ao golpe de julho, a Cedeao já havia anunciado a imposição de uma série de sanções contra líderes do movimento, como o congelamento de ativos e a suspensão de transações financeiras.

As medidas, porém, provocaram poucos efeitos práticos, segundo analistas. Horas antes da reunião da Cedeao nesta quinta, o regime militar anunciou a formação de um governo em Niamey, em movimento que buscou sinalizar a consolidação do golpe. O novo Executivo possui 20 ministros.

Com AFP e Reuters

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