Descrição de chapéu África terrorismo

Países africanos ameaçam intervenção militar no Níger se junta golpista não largar poder

Ministra da França se encontrou neste sábado (5) com primeiro-ministro nigerino e reforçou advertência

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São Paulo

Parece improvável que a cúpula militar que assumiu o poder do Níger abra mão dos poderes tomados à força até este domingo (6). Mas é esse o prazo estipulado pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental para que o grupo reintegre o presidente eleito do país, Mohamed Bazoum, ao posto. Caso contrário, a Cedeao, como a comunidade é chamada, promete intervir militarmente no país.

Se a promessa vai ser cumprida não é possível ainda saber. Fato é que a França anunciou, neste sábado (5), que apoiará os esforços do grupo africano contra a cúpula militar. A chanceler do país europeu, Catherine Colonna, reuniu-se com o primeiro-ministro do Níger, Ouhoumoudou Mahamadou, e citou o prazo estipulado pela Cedeao. Segundo ela, a ameaça deveria ser levada muito a sério.

Manifestantes entoam palavras de ordem durante protesto contra as sanções de países africanos, em Niamey, no Níger - Issifou Djibo - 3.ago.23/EFE/EPA

Não ficou claro, porém, até quando os franceses apoiarão o grupo africano e tampouco se estariam dispostos a fazer parte da eventual intervenção militar. A França tem entre 1.000 e 1.500 soldados no Níger, apoiados por drones e aviões de guerra, ajudando grupos de combate ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico. Estados Unidos, Alemanha e Itália também têm tropas estacionadas no país.

Os americanos, aliás, já criticaram publicamente a cúpula militar do país africano. Na quinta, por exemplo, o presidente Joe Biden pediu a libertação de Bazoum, que está desde o final de julho detido no palácio presidencial, e afirmou que a manifestação da população em eleições livres deve ser respeitada.

Além disso, doadores ocidentais cortaram parte do apoio financeiro enviado ao Níger, o que representa cerca de 40% do orçamento do país. Paralelamente, outras nações africanas impuseram sanções econômicas que, segundo os moradores, já são sentidas.

As grandes potências têm interesse no Níger. Afinal, o país possui reservas de urânio e petróleo e exerce papel central na guerra com os rebeldes islâmicos na região do Sahel. China e Rússia também estão de olho na nação.

Ao menos publicamente, Moscou defende que o Níger volte a seu estado constitucional. Mas Bazoum, o chefe de Estado eleito que hoje está detido no palácio presidencial, disse que o golpe ajudará o Grupo Wagner, formado por mercenários russos, a ganhar mais espaço na região. "Com um convite aberto dos golpistas e seus aliados regionais, toda a região central do Sahel pode cair sob a influência russa por meio do Grupo Wagner, cujo terrorismo brutal está em plena exibição na Ucrânia", escreveu ele em um artigo de opinião no jornal americano The Washington Post.

Ievguêni Prigojin, chefe do Wagner, disse que suas forças estavam disponíveis para restaurar a ordem no Níger. É incerto, porém, o nível de apoio que o grupo teria do Kremlin –principalmente depois do motim fracassado na Rússia no final de junho. Apoio, de fato, está nas ruas do Níger, onde várias pessoas carregam bandeiras da Rússia e gritam palavras contra a França, que colonizou o país até 1960.

A tomada militar tem um forte componente antifrancês, e a junta disse que reagiria à interferência externa, incluindo dos países africanos da Cedeao. Segundo o plano de intervenção da comunidade, a decisão de quando e onde atacar será feita pelos chefes de Estado e não será divulgada aos golpistas. "Todos os elementos que entrarão em qualquer eventual intervenção foram elaborados aqui, incluindo os recursos necessários e como e quando vamos enviar a força", disse Abdel-Fatau Musah, comissário da Cedeao para assuntos políticos, paz e segurança após o grupo se reunir.

O presidente nigeriano, Bola Tinubu, disse a seu governo para se preparar para opções. O Senegal também disse que enviaria tropas. Já Burkina Fasso e Mali, que sofreram seus próprios golpes nos últimos dois anos e também são membros da Cedeao, advertiram que qualquer movimento do tipo seria entendido como uma "declaração de guerra".

Seja como for, qualquer que seja a opção que o corpo de 15 nações escolha, uma intervenção militar no país acentuaria os riscos em uma das regiões mais pobres do mundo, onde grupos ligados ao Estado Islâmico e à Al Qaeda prosperam no caos.

Com Reuters

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