Placa na embaixada do Brasil no Chile reconhecerá apoio da ditadura a Pinochet

Ação é iniciativa de movimento de ex-exilados em Santiago e recebeu aval do governo Lula

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Brasília

O Itamaraty autorizou a instalação de uma placa na embaixada do Brasil em Santiago, no Chile, para homenagear militantes que foram torturados e mortos pela ditadura de Augusto Pinochet (1915-2006).

Além dos nomes dessas vítimas, a placa trará dizeres em defesa da democracia, reconhecendo em tom crítico a participação de agentes da repressão brasileira nos crimes cometidos.

"Muitos foram presos e torturados pelas forças golpistas, com a participação de agentes da repressão brasileira", afirma o texto. A iniciativa foi divulgada inicialmente pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Cartazes com fotos de desaparecidos durante a ditadura são exibidas no memorial José Domingo Cañas, em Santiago
Cartazes com fotos de desaparecidos durante a ditadura são exibidas no memorial José Domingo Cañas, em Santiago - Ivan Alvarado - 16.ago.23/Reuters

O governo do presidente Lula (PT) concordou com a instalação da placa, uma iniciativa articulada pelo coletivo Viva Chile, formado por amigos que se exilaram no país durante a ditadura militar brasileira.

Esses ex-militantes organizam agora uma caravana de cerca de cem pessoas para ir ao Chile participar dos eventos em torno dos 50 anos da derrubada de Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973.

Um dos organizadores é o sociólogo Ricardo Azevedo, que foi militante da organização de esquerda Ação Popular.

Ele afirma que se trata de uma "ação entre amigos", que não contará com patrocínio ou apoio de partidos ou de outras instituições —os participantes, segundo ele, vão arcar com os custos da caravana.

Azevedo viveu no Chile entre janeiro de 1972 e outubro do ano seguinte, o do golpe. Antes de ser expulso do país, foi preso e ficou um mês no Estádio Nacional, transformado em uma cadeia da ditadura chilena.

Os membros do Viva Chile ficarão em Santiago de 9 a 12 de setembro, participando das cerimônias locais e visitando museus e centros históricos relacionados ao golpe militar e ao período de Pinochet. Também haverá um jantar de confraternização —alguns dos participantes não se veem há 50 anos.

O sociólogo afirma que a iniciativa de colocar a placa na representação diplomática não só não enfrentou oposição do Ministério das Relações Exteriores como teve, em sua articulação, o envolvimento das pastas dos Direitos Humanos e da Cidadania e da Assessoria Especial da Presidência da República.

"É a primeira vez que o Estado brasileiro reconhece e pede perdão [pelo apoio ao golpe de Pinochet], porque até agora não tinha nada oficial. Era conhecido que o Brasil teve participação, que o [Câmara Canto] embaixador brasileiro à época era chamado de quinto membro da junta [militar], porque articulava, negociava. Isso corria, mas não havia nada da parte do Estado brasileiro reconhecendo", afirma Azevedo.

A participação no golpe chileno foi descrita no livro "O Brasil contra a Democracia: a Ditadura, o Golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul" (Companhia das Letras), de Roberto Simon, que, com base em uma extensa pesquisa em documentos oficiais e entrevistas, mostrou como a ditadura brasileira tentou minar o governo de Allende, patrocinou sua derrubada e apoiou o novo regime militar em várias frentes.

De acordo com o Itamaraty, serão colocadas duas placas, uma em português e a outra em espanhol. A primeira ficará na embaixada brasileira em Santiago, e a segunda, na Plaza Brasil, também na capital.

Segundo o Viva Chile, elas trarão os nomes de seis militantes que foram torturados e mortos pelo regime de Pinochet: Jane Vanini, Luiz Carlos de Almeida, Nelson de Souza Khol, Nilton da Silva, Túlio Quintiliano Cardoso e Wâbanio José de Matos. Além da inscrição reconhecendo a responsabilidade do Brasil nos crimes cometidos na repressão chilena, a placa afirmará que, "no Brasil e no Chile, ditadura nunca mais".

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