Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia lança livro didático com narrativa favorável à invasão da Ucrânia

Material destinado a adolescentes ecoa discurso de que ofensiva tem objetivo de 'desnazificar' país vizinho

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São Paulo

O governo da Rússia apresentou novos livros didáticos voltados a alunos do ensino médio com narrativa favorável à invasão da Ucrânia, iniciada em fevereiro do ano passado. O material ecoa o discurso adotado pelo presidente russo, Vladimir Putin, de que a ofensiva tem o objetivo de "desnazificar" o país vizinho.

As apostilas são direcionadas a estudantes de 17 anos e serão incluídas nas escolas russas a partir de setembro, segundo o jornal britânico The Guardian. Os livros reúnem informações históricas de 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, até os dias atuais. A Guerra da Ucrânia é mencionada como "operação militar especial", forma como o Kremlin ainda se refere ao conflito em curso há 18 meses.

O ministro da Educação da Rússia, Serguei Kravtsov, apresenta novo livro didático para alunos do ensino médio
O ministro da Educação da Rússia, Serguei Kravtsov, apresenta novo livro didático para alunos do ensino médio - Iuri Kadobnov - 7.ago.23/AFP

O ministro da Educação da Rússia, Serguei Kravtsov, disse que o material foi escrito em pouco menos de cinco meses. "Após o fim da operação militar especial [na Ucrânia] e da nossa vitória, complementaremos este livro", afirmou ele no evento de lançamento, de acordo com o Guardian.

As apostilas acusam o Ocidente de tentar desestabilizar a Rússia e retratam Moscou como vítima de agressões. Por isso, o país precisa "lutar pela própria existência". Ao descrever as origens da Guerra da Ucrânia, os livros reforçam argumentos de Putin de que o conflito foi provocado por países ocidentais.

A Ucrânia é descrita como um "Estado artificial", classificação que também ecoa declarações de Putin sobre a história comum de russos e ucranianos —o presidente já disse que a Rússia foi "roubada" quando Kiev declarou independência. O país invadido ainda é mencionado várias vezes como um "Estado nazista" —analistas refutem a acusação, ainda que admitam a presença de grupos de extrema direita e com inclinações nazistas, como o Batalhão Azov, conhecido por participar da resistência em Mariupol.

Os livros ainda mencionam soldados russos "salvando a paz" em 2014, quando Moscou anexou a península da Crimeia. Já as sanções impostas à Rússia são descritas como atos piores dos que os determinados por Napoleão Bonaparte (1769-1821), líder francês que ordenou a invasão russa em 1812.

Após a invasão da Ucrânia, a Rússia instaurou censura à imprensa e a opositores. Ainda no começo da guerra, Putin chancelou uma lei que prevê até 15 anos de detenção a quem divulgar o que o governo considerar fake news sobre o conflito no Leste Europeu.

A repressão se estende ao setor da educação. Em maio, um tribunal russo condenou um ex-professor de história a cinco anos e meio de prisão por criticar a guerra na internet. Antes, em abril, uma menina russa foi separada de seu pai na cidade russa de Iefremov após fazer um desenho crítico à ofensiva na Ucrânia.

No front, a guerra de Vladimir Putin contra o vizinho está em uma nova fase, marcada pelas dificuldades de Kiev em sua contraofensiva e pela ampliação dos impactos do conflito no mar Negro.

Após intensificar a contraofensiva, a Ucrânia teve ganhos tímidos. No geral, a Rússia está dando conta de absorver as ondas de ataques até aqui. As forças ucranianas não conseguiram romper as camadas defensivas russas, apesar do emprego de equipamento da Otan. Da mesma forma, o avanço russo ao norte, alardeado por Kiev como o maior desde a invasão, não mudou, ao menos por ora, o rumo da guerra.

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