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Trump pode ser preso? Saiba impactos de 3ª acusação contra ele na Justiça

Novo processo difere dos demais por se referir a crimes supostamente cometidos quando ele ocupava Presidência

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Washington

Donald Trump tornou-se réu pela terceira vez nesta terça-feira (1º), no mais novo caso de uma série de processos criminais contra o ex-presidente americano. Engana-se, porém, quem pensa que esta é apenas mais uma denúncia contra ele.

Diferentemente das acusações anteriores, os crimes pelos quais o republicano responderá agora supostamente foram cometidos enquanto ele era presidente. Tão importante quanto isso, as violações creditadas a Trump versam sobre o desrespeito a princípios básicos da democracia: o direito ao voto e o cumprimento do resultado das urnas por parte de todos os candidatos envolvidos.

O ex-presidente americano Donald Trump após discurso em Iowa em julho - Sergio Flores/AFP

No entanto, assim como nos outros casos em que ele é réu, este também não tem nenhum impacto legal para a sua tentativa de voltar à Presidência –os Estados Unidos não possuem uma legislação como a Lei da Ficha Limpa, o que significa que mesmo uma pessoa presa pode disputar um cargo público.

Chama a atenção que um dos candidatos à Presidência do país que se arroga o maior bastião da democracia no mundo seja acusado de violar os fundamentos do sistema.

A defesa do republicano, por sua vez, invoca outro pilar da democracia para justificar suas ações: o da liberdade de expressão. O argumento é que Trump não cometeu nenhum crime ao questionar, sem provas, a vitória de Joe Biden, já que ele teria genuinamente acreditado que uma fraude eleitoral ocorreu.

Entenda a denúncia mais recente contra o ex-presidente e suas possíveis consequências.

Pelo que Trump tornou-se réu em 1º de agosto?

O ex-presidente foi denunciado por quatro crimes no contexto de uma investigação sobre sua tentativa de reverter o resultado da eleição de 2020 e a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. São eles:

  1. Conspiração para defraudar os Estados Unidos;
  2. Conspiração contra direitos;
  3. Conspiração para obstruir um procedimento oficial;
  4. Obstrução e tentativa de obstrução de um procedimento oficial.

A acusação contra Trump afirma que ele se valeu de "desonestidade, fraude e engano" com o objetivo de obstruir o processo "de coletar, contar e certificar os resultados das eleições presidenciais".

Os procedimentos oficiais aos quais o texto se refere são o processo de confirmação do vencedor das eleições, no caso Biden, pelo Congresso. Os direitos que teriam sido atacados são o de votar e o de ter o voto contado. A denúncia sustenta ainda que Trump sabia que suas alegações eram falsas.

Quem acusou Trump?

A denúncia foi apresentada pelo conselheiro especial do Departamento de Justiça Jack Smith, após o aval de um grande júri em Washington. Esse grupo, composto por pessoas comuns, vinha se reunindo nas últimas semanas. Sua tarefa era avaliar as evidências apresentadas pela Procuradoria e, a partir disso, votar para que o alvo da investigação virasse réu ou não.

Ele pode ser preso? Quais são as penas previstas?

Sim. Os crimes de conspiração para defraudar os Estados Unidos e conspiração contra direitos preveem até cinco anos de prisão. A punição para conspiração para obstruir um procedimento oficial e obstrução ou tentativa de obstrução de um procedimento oficial preveem até 20 anos de prisão.

Quando ele pode ser preso, se condenado?

Ainda não há data para um julgamento. O próximo passo do processo é uma audiência em Washington na tarde desta quinta (3), em que as denúncias contra ele serão lidas. A expectativa é que ele compareça à audiência e responda se se declara culpado ou não.

Ele pode concorrer à Presidência mesmo respondendo a um processo?

Sim. A legislação americana não impede que alguém que responde a um processo legal ou mesmo que já tenha sido condenado e preso concorra a um cargo público –Joe Exotic, da série da Netflix "A Máfia dos Tigres", por exemplo, já anunciou seu plano de concorrer à Presidência no próximo ano. Ele está preso.

Apesar de o processo não impactar legalmente a tentativa do ex-presidente de voltar à Casa Branca, ele pode desgastar ainda mais a figura do político, que já responde a outras duas acusações. Embora as pesquisas mostrem enorme apoio a Trump entre o eleitorado que se identifica como republicano, americanos que não se vinculam a nenhum partido podem se afastar mais do ex-presidente.

O que Trump diz sobre as acusações?

Assim como no caso das outras denúncias, ele afirma estar sendo alvo de perseguição política. A alegação decorre do fato de que esse processo, assim como o que ele responde por supostamente ter retirado documentos secretos da Casa Branca e os guardado consigo ilegalmente após deixar a Presidência, é conduzida pelo Departamento de Justiça –órgão do governo federal, sob gestão de Biden.

Na terça, a campanha do republicano chegou a comparar a atuação do governo àquela das autoridades da Alemanha nazista e da Rússia soviética.

Trump e seus apoiadores ainda têm afirmado que a denúncia é uma tentativa de desviar a atenção de Hunter Biden, filho do presidente, que também vem sendo alvo de investigações.

Qual é sua estratégia de defesa?

À CNN o advogado de Trump John Lauro afirmou que a liberdade de expressão está sendo criminalizada pela administração atual, o que sugere que a defesa do ex-presidente deve argumentar que ele estava apenas exercendo esse direito quando questionou as eleições.

A defesa também deve sustentar que o republicano acreditava, sim, que uma fraude ocorreu.

Esse ponto é complicado, porque a acusação precisa provar que Trump sabia estar mentindo. Não à toa, na denúncia apresentada nesta terça, Smith cita diversas situações em que o ex-presidente teria ouvido de pessoas próximas que não havia nenhuma razão para questionar a eleição.

Um dos casos mais emblemáticos teria ocorrido com o então vice-presidente, Mike Pence, após ele ter afirmado que não tinha autoridade constitucional para rejeitar resultados de eleições estaduais. Trump teria retorquido: "Você é honesto demais".

Quais as chances de Trump ser preso?

É impossível prever, mas alguns fatores já podem ser levados em consideração. Se, por um lado, pode ser difícil para a acusação provar que o republicano sabia que estava mentindo, por outro, a juíza sorteada para o caso, Tanya S. Chutkan, foi nomeada por Obama e tem sentenciado participantes da invasão do Capitólio com penas rígidas.

A juíza Tanya S. Chutkan, responsável pelo caso mais recente contra Donald Trump
A juíza Tanya S. Chutkan, responsável pelo caso mais recente contra Donald Trump - Justiça dos EUA via Reuters

Ela também já decidiu contra Trump em um processo anterior, envolvendo a manutenção do sigilo de documentos da Casa Branca. Outro problema para o republicano é que o caso transcorre em Washington, cidade de tendências democratas, o que significa um júri potencialmente mais à esquerda.

Há mais pessoas acusadas nesse processo?

O texto da acusação fala em seis co-conspiradores, mas sem nomeá-los. Eles podem ou não virar réus no processo nos próximos dias. A imprensa americana tem especulado sobre a identidade dessas pessoas.

Até agora, as principais apostas são:

  1. Rudy Giuliani, ex-advogado de Trump e ex-prefeito de Nova York;
  2. John Eastman, advogado de Trump, que teria pressionado Pence a não confirmar a vitória de Biden;
  3. Sidney Powell, também advogada de Trump, que teria feito alegações infundadas sobre as eleições;
  4. Jeffrey Clark, oficial do Departamento de Justiça que teria tentando usar o órgão para abrir investigações falaciosas e pressionar câmaras estaduais;
  5. Kenneth Chesebro, advogado que teria ajudado Trump no suposto plano de apresentar listas fraudulentas de eleitores ao Congresso;

Há ainda um sexto conspirador, supostamente um consultor político, mas ainda não há apostas fortes de quem ele possa ser.

Da esquerda para a direita, em sentido anti-horário, John Eastman, Jeffrey Clark, Sidney Powell e Rudy Giuliani - Jim Bourg, Elijah Nouvelage, Yuri Gripas/Reuters e Divulgação

Quais são os outros casos em que Trump é réu?

O republicano tornou-se réu pela primeira vez em abril, em um caso que corre na Justiça de Nova York que investiga a compra do silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016. O julgamento está marcado para março do ano que vem.

Em junho, houve a segunda acusação, esta pela Justiça federal, por ter supostamente guardado consigo documentos secretos após deixar a Casa Branca. Ele nega ser culpado nos dois casos.

Há ainda uma investigação na Geórgia que também pode resultar em uma acusação formal contra Trump. A expectativa é que a denúncia seja apresentada até o final de agosto.

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