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Vice de candidato assassinado disputará presidência do Equador

Ambientalista Andrea González concorrerá pelo Construye após morte de Fernando Villavicencio

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Quito | AFP

A companheira do candidato à Presidência assassinado no Equador, Andrea González, assumirá seu lugar nas eleições de 20 de agosto. O anúncio foi feito neste sábado (12) pelo partido pelo qual a dupla concorria, o Movimiento Construye.

Horas antes da declaração, numa demonstração de força do presidente Guillermo Lasso, cerca de 4.000 soldados e policiais entraram na prisão em Guayaquil onde está detido Fito, chefe do cartel Choneros, o mais poderoso do país. O grupo é acusado de ter ameaçado o presidenciável morto, Fernando Villavicencio durante sua campanha.

Andréa González, companheira de chapa de Fernando Villacencio, candidato à Presidência do Equador assassinado, usa colete à prova de balas ao participar de cerimônia em homenagem ao político morto - Cesar Pasaca/API/AFP

Villavicencio, 59, foi morto a tiros por homens armados na quarta-feira (9), ao sair de um comício em Quito. O episódio chocou o país, e mergulhou as iminentes eleições no país, marcadas para 20 de agosto, em incerteza. Ao menos três do total de oito candidatos suspenderam suas campanhas após o crime —um deles, Jan Topic, foi ameaçado publicamente pela facção que reivindicou a autoria do atentado. Até agora, não se sabia se a candidatura do titular passaria para a sua vice, algo permitido pela legislação do país.

Villavicencio estava entre os cinco presidenciáveis favoritos do eleitorado, mas suas chances variavam bastante a depender da pesquisa analisada. Levantamento do instituto Cedatos de 20 de julho indicava, por exemplo, que o representante do partido Movimiento Construye estava em segundo lugar na corrida, com 13,2% das intenções de voto, atrás apenas de Luisa González, candidata apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa, com 26,6%. Já um estudo da agência ClickReport em 5 e 6 de agosto mostrava Villavicencio em quinto, com 7,5% da preferência.

Gonzáles ainda manteria a dianteira, com 29,3% das intenções, seguida por Yaku Pérez, líder indígena de esquerda, com 14,4%; Otto Sonnenholzner, vice-presidente na gestão do direitista Lenín Moreno (2017-2021), com 12,7%; e o ex-empresário da área de segurança Jan Topic, com 9,6%. Na pesquisa do Cedatos, eles apareciam com 12,5%, 7,5% e 4,4% das intenções de voto, respectivamente.

Os três últimos foram os que anunciaram uma pausa em suas campanhas na quinta-feira. "O mínimo que posso fazer é expressar minha solidariedade a seus familiares e apoiadores", afirmou Pérez. "Convido os candidatos a deixarem todas as bandeiras políticas de lado e fazerem um pacto social pela segurança."

Andrea González, 36, concentrou sua trajetória sobretudo na defesa do meio ambiente, lutando a favor dos oceanos e dos manguezais e contra o desmatamento e o tráfico de animais silvestres. Ela foi aliada de Villavicencio por vários anos, desde que ele trabalhava como jornalista investigativo antes de ser eleito para a Assembleia Nacional, em 2021.

Villavicencio atuava como parlamentar quando Lasso, então sob ameaça de impeachment, dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições, em maio. O fato de que o pleito foi motivado por condições extraordinárias explica porque seu governo manteve sua data prevista diante da comoção nacional pela morte do deputado, além de um estado de emergência de 60 dias declarado pouco depois do crime.

Não se sabe quem foram os mandantes do assassinato, mas o Ministério Público equatoriano acusou seis suspeitos pelo episódio na própria quarta-feira. Entre as evidências de sua participação no atentado estariam relatos de testemunhas, análise de vídeos de câmeras de segurança nas redondezas do local do incidente, e um laudo balístico. Eles também responderão por tráfico de drogas, de acordo com a imprensa local.

Villavicencio havia denunciado ao menos três ameaças feitas pelos Los Choneros durante sua campanha, a última delas há uma semana. Ele também sofrera um outro atentado, em 2 de setembro de 2022, quando seu carro foi alvejado por homens em carros.

Pouco depois do crime, apareceu nas redes sociais um vídeo em que homens encapuzados que diziam ser parte da facção criminosa Los Lobos, surgida na derrocada da Los Choneros, reivindicavam a autoria do atentado. Em seguida, outro registro, desta vez com homens vestidos de branco e com o rosto à mostra no que parecia ser um presídio, negaram a veracidade do primeiro vídeo, dizendo ser eles os integrantes do Los Lobos. Questionado, o governo do Equador disse não ter resposta sobre a autenticidade de nenhuma das duas gravações.

Já Lasso limitou-se a dizer que o candidato foi vítima do crime organizado. Mas, no amanhecer deste sábado, cerca de 4.000 soldados e policiais entraram na prisão onde está detido José Adolfo Macías, o Fito. As forças de segurança chegaram à penitenciária em Guayaquil uniformizadas, fortemente armadas e em veículos militares blindados, em uma demonstração do poder de repressão estatal.

Imagens compartilhadas por órgãos oficiais nas redes sociais mostram aquele que seria Macías, um homem gordo e barbudo. Em uma delas, ele aparece de frente com as mãos acima da cabeça. Em outras, está deitado, de cueca, no chão, seus braços amarrados, ao lado de dezenas de outros presos também seminus.

A Administração Penitenciária do Equador confirmou à agência de notícias AFP que de fato tratava-se de Fito, condenado a 34 anos de prisão por crime organizado, tráfico de drogas e homicídio e encarcerado ali desde 2011.

Mais tarde, Lasso informou numa rede social que Fito foi transferido de uma ala para outra no mesmo complexo prisional onde está detido. Ele controlava pelo menos um bloco de celas da prisão de onde foi tirado.

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