Descrição de chapéu China G20

China conclui participação na ONU com discurso tão apagado quanto sua presença

Sem Xi Jinping, coube ao vice do líder chinês fazer fala curta e protocolar na Assembleia-Geral, em Nova York

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Boa Vista

Não coube nem a Xi Jinping, nem ao experiente ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, fazer o discurso da China na Assembleia-Geral da ONU nesta quinta-feira (21). Foi o vice de Xi, Han Zheng, quem subiu ao púlpito com novas ameaças a Taiwan, críticas aos Estados Unidos e acenos ao chamado Sul Global, o grupo dos países emergentes.

Nada que fosse além das expectativas para a participação chinesa em Nova York, no entanto. Sem as duas principais figuras políticas internacionais do país no evento, coube a Han basicamente elencar, sem maiores comprometimentos e ênfases, os pontos principais da política externa da China em pouco mais de 13 minutos —o protocolo pede que os discursos não excedam 15 minutos.

Han Zheng, vice de Xi Jinping à frente da China, antes de seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York
Han Zheng, vice de Xi Jinping à frente da China, antes de seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York - Eduardo Muñoz - 21.set.23/Reuters

A fala reforçou pontos de tensão com o Ocidente, notadamente os Estados Unidos, ao renovar as ameaças a Taiwan e criticar o que Han chamou de uso da democracia e dos direitos humanos para interferência em assuntos internos —referência velada à reprovação internacional do tratamento dado por Pequim à minoria étnica uigur em Xinjiang—, sinalizações costumeiras e sem variações do tom habitual.

"Existe apenas uma China no mundo. Taiwan tem sido uma parte inalienável do território chinês, e ninguém, nenhuma força, deve subestimar o poder do povo chinês de garantir a sua soberania e integridade territorial", afirmou Han. Na prática, um eco da política de uma só China, formalmente adotada pelas Nações Unidas ao não reconhecer Taiwan, considerada uma província rebelde por Pequim, como integrante da organização desde 1971.

No discurso, Pequim também cutucou os EUA com críticas indiretas a seu grande rival na Guerra Fria 2.0. "Um pequeno número de países arbitrariamente impôs sanções unilaterais ilegais. A comunidade internacional deve resistir conjuntamente a esses atos", afirmou Han, reprovação que também funciona como aceno a aliados que vão da Coreia do Norte e Rússia a Irã e Cuba, que também foi elogiada pelos "esforços no combate ao terrorismo" —Washington inclui o país caribenho na lista de Estados que, ao contrário, apoiam o terrorismo.

Em eventos paralelos à Assembleia, a delegação chinesa evitou participar de painéis com críticas diretas à política de direitos humanos em Xinjiang e no Tibete e não trouxe contribuições substantivas para o debate sobre prevenção a pandemias —depois de anos sendo repetidamente acusada de omitir informações sobre a origem da Covid-19— ou novas metas contra as mudanças climáticas —a China ainda é o país que mais emite carbono no mundo; só perde para os EUA se consideradas as séries históricas.

A presença de Han no púlpito em Nova York reflete ainda a decisão de Pequim de dar menos importância à reunião anual das Nações Unidas enquanto trabalha para fortalecer outros fóruns e iniciativas multilaterais, como a cúpula do Brics, ampliada em agosto em movimento diplomático visto como vitória da China no bloco.

Os recados e críticas somam-se ao fortalecimento simultâneo de laços com párias no Ocidente. Nesta quinta, Xi Jinping preferiu patrocinar a nova investida do ditador sírio, Bashar al-Assad, de romper seu isolamento diplomático ao recebê-lo em Pequim.

Assad não visitava o país asiático desde 2004 e chegou em um avião da Air China para sua terceira viagem oficial desde que a guerra civil em seu país começou, em 2011.

Foi também nesta quinta que o ministro Wang Yi, substituto esperado na Assembleia-Geral na ausência de Xi, encerrou uma viagem de quatro dias a Moscou, onde se reuniu com o presidente Vladimir Putin para "aprimorar a confiança estratégica mútua" e "aprofundar a cooperação prática" entre os dois países.

É para a China que Putin, outro ausente em Nova York, deve fazer sua primeira viagem oficial, em outubro, desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em março um mandado de prisão contra ele por supostos crimes de guerra na Ucrânia. Nenhuma das duas nações é signatária do Estatuto de Roma, que criou o tribunal.

O líder chinês também escolheu não participar da última cúpula do G20, realizada em Nova Déli, decisão que foi vista pelo governo indiano como uma manobra para retirar o peso da reunião em meio a fissuras entre seus integrantes em assuntos como a Guerra da Ucrânia, a corrida pela produção de chips e questões de segurança regionais.

Colaborou Igor Patrick

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.