Entenda acusações contra Biden que motivam pedido de impeachment nos EUA

Líder republicano na Câmara diz que governo carrega 'imagem da cultura de corrupção'; democrata nega irregularidades

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Luke Broadwater
Washington | The New York Times

O presidente da Câmara dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, instruiu na terça-feira (12) os principais republicanos do Congresso a abrir um inquérito de impeachment contra o democrata Joe Biden.

A decisão representou um recuo de McCarthy —antes ele defendia que uma investigação do presidente deveria ser iniciada apenas se aprovada na Câmara. Ao se posicionar pela abertura do processo, o líder republicano fez uma série de acusações contra Biden. Segundo ele, o governo carrega a "imagem da cultura de corrupção", o que justificaria o uso de ferramentas para tentar a destituição do democrata.

Um porta-voz da Casa Branca alegou que os republicanos não encontraram "evidências de conduta inadequada" e acusou McCarthy de abraçar a "política extrema" na sua pior versão.

Aqui está o que sabemos sobre as sete acusações que McCarthy fez contra Biden na terça, e como elas se alinham com os fatos que os republicanos descobriram —e não descobriram— até agora.

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante entrevista em Hanói, a capital do Vietnã
O presidente dos EUA, Joe Biden, durante entrevista em Hanói, a capital do Vietnã - Saul Loeb - 10.set.23/AFP

Biden fez declarações falsas ou excessivamente simplistas sobre os negócios de seu filho

A acusação de McCarthy: "O presidente Biden mentiu para o povo americano sobre seu próprio conhecimento dos negócios estrangeiros de sua família."

Os fatos: Não está claro se Biden distorceu intencionalmente fatos sobre os negócios de seu filho, Hunter Biden. A declaração incorreta mais proeminente que ele fez sobre o assunto ocorreu durante um debate presidencial em 2020, quando o democrata afirmou que seu filho não havia ganhado dinheiro na China. Desde então, foi revelado que ele havia ganhado.

Em 2019, Biden repetidamente afirmou que "nunca discutiu" e "nunca falou com" Hunter sobre seus negócios, e os republicanos não apresentaram evidências de que ele tenha sido informado sobre transações ou acordos específicos.

Os republicanos da Câmara descobriram provas de que o pai Biden estava ciente e conheceu alguns dos parceiros de negócios do filho, levantando questões sobre se as declarações do presidente foram enganosas. Mas uma testemunha-chave também testemunhou que tais conversas eram superficiais, limitando-se apenas a amenidades sobre clima ou pescaria.

Em livro, Hunter relata, depois de ter se juntado ao conselho da empresa de energia ucraniana Burisma, que seu pai ligou e o alertou: "Espero que você saiba o que está fazendo" —um reconhecimento de pelo menos uma conversa aparentemente sem relação com detalhes de quaisquer negociações comerciais.

Não há evidências diretas de que Biden tenha conseguido negócios para seu filho

A acusação de McCarthy: "Testemunhas oculares disseram que o presidente participou de várias chamadas telefônicas e teve várias interações" que "resultaram em carros e milhões de dólares para seus filhos e seus parceiros de negócios."

Os fatos: Os republicanos encontraram evidências de que Hunter Biden e seus parceiros de negócios levavam um estilo de vida luxuoso, graças à riqueza que tinham proveniente de seus negócios no exterior. Por exemplo, um associado de Hunter Biden confirmou que ele recebeu uma transferência de US$ 142,3 mil (R$ 700 mil) de Kenes Rakishev, um empresário cazaque, para pagar por um carro caro.

Além de Joe Biden trocar amenidades com associados de seu filho, os republicanos não apresentaram nenhuma evidência de que o democrata estivesse envolvido na concretização desses negócios ou participasse deles de alguma forma.

Hunter Biden e seus associados ganharam milhões de dólares

A acusação de McCarthy: "Sabemos que os registros bancários mostram que quase US$ 20 milhões [R$ 98,3 milhões] em pagamentos foram direcionados aos membros da família Biden e associados por meio de várias empresas de fachada."

Os fatos: Os republicanos têm registros que refletem que os Bidens, incluindo Hunter Biden e o irmão do presidente, Jimmy Biden, receberam milhões de dólares de interesses comerciais no exterior, mas esse total inclui dinheiro que foi para associados, não exclusivamente para membros da família. Eles não apresentaram evidência de que quaisquer relacionamentos comerciais –como o assento de Hunter no conselho da Burisma– fosse ilegal.

Os republicanos também apontaram o fato de que Hunter Biden e seus associados formaram sociedades de responsabilidade limitada para acusá-los de criar "empresas de fachada". Mas tais entidades são comuns em novos empreendimentos comerciais.

Algumas atividades comerciais da família Biden foram sinalizadas como suspeitas, mas nada disso resultou em acusações

A acusação de McCarthy: "Apenas o Departamento do Tesouro tem mais de 150 transações envolvendo a família Biden e outros associados comerciais que foram sinalizadas como atividade suspeita pelos bancos dos EUA".

Os fatos: Os republicanos da Câmara revisaram registros de relatórios das atividades suspeitas relacionados a transações comerciais da família Biden. Esses documentos são descritos como "informações preliminares e não verificadas de dicas e informações" que os bancos são obrigados a registrar para qualquer transação que possa ser um sinal de alerta para lavagem de dinheiro, incluindo qualquer transação em dinheiro acima de US$ 10 mil (R$ 49,1 mil).

Investigadores do Senado e o Departamento de Justiça também revisaram esses relatórios, mas eles não resultaram em acusação criminal.

Um empresário ucraniano negou uma alegação não verificada de que os Bidens tentaram suborná-lo

A afirmação de McCarthy: "Até mesmo um informante confiável do FBI apontou um suborno à família Biden."

Os fatos: O FBI recebeu uma acusação não verificada de que Biden, enquanto vice-presidente, e Hunter Biden aceitaram um suborno de US$ 5 milhões (R$ 24,5 milhões) de um oficial da Burisma. Desde então, essa acusação foi enfraquecida por outras evidências, incluindo o depoimento de um empresário ucraniano que supostamente esteve envolvido e afirmou que nenhum suborno ocorreu.

Biden publicamente negou as acusações de que os negócios de seu filho na Ucrânia influenciaram as políticas de sua administração

A afirmação de McCarthy: "Biden usou seu cargo oficial para coordenar com os parceiros de negócios de Hunter Biden sobre o papel do filho na Burisma."

Os fatos: Isso se refere a emails de 2015 entre um ex-porta-voz de Biden e um associado de negócios de Hunter Biden discutindo como responder a um artigo no jornal americano The New York Times. Em comunicado, o porta-voz afirmou que o democrata não teve envolvimento com a empresa de seu filho e que ele pressionou durante anos para que a Ucrânia investigasse e processasse a corrupção.

Não há evidências de que Biden tenha ordenado que seu filho recebesse tratamento especial em qualquer investigação

A afirmação de McCarthy: "Por fim, apesar das graves acusações, parece que a família do presidente recebeu tratamento especial pela própria administração de Biden, tratamento que não teriam recebido se não fossem parentes do presidente."

Os fatos: Investigadores que estavam examinando os impostos de Hunter Biden testemunharam que sua investigação foi retardada e obstruída em alguns momentos. No entanto, eles também afirmaram que muitas de suas reclamações surgiram durante a administração do ex-presidente Donald Trump e não fizeram nenhuma acusação de que o presidente tentou obstruir a investigação.

Kevin McCarthy é um homem branco. Ele fala por trás de um púlpito, em frente ao seu gabinete
O presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, anuncia pedido de abertura de um processo de impeachment contra Biden em frente ao seu gabinete - Haiyun Jiang/The New York Times
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