Descrição de chapéu Governo Biden

EUA trocam prisioneiros com Irã e liberam US$ 6 bilhões a Teerã

Acordo foi celebrado após meses de negociações a despeito das tensões entre os países na chamada Guerra Fria 2.0

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São Paulo

O governo dos Estados Unidos concordou em liberar US$ 6 bilhões (R$ 29,2 bilhões) em recursos congelados do Irã como parte de uma negociação para troca de prisioneiros, ocorrida nesta segunda-feira (18). A negociação, considerada histórica, foi concretizada a despeito das tensões entre os países —Teerã é alvo de sanções impostas por Washington e aliada da Rússia e da China na chamada Guerra Fria 2.0.

O acordo foi formalizado após dois anos de diálogos que acertaram a troca de cinco prisioneiros de cada lado. Dois dos iranianos libertados já chegaram a Doha, a capital do Qatar, que intermediou as conversas. De lá, eles deveriam partir para o Irã. Os outros três optaram por não voltar ao país do Oriente Médio, segundo a agência de notícias Tasnim —as autoridades não divulgaram o paradeiro deles.

Cidadãos americanos desembarcam em Doha após negociações entre Washington e Teerã
Cidadãos americanos desembarcam em Doha após negociações entre Washington e Teerã - Karim Jaafar/AFP

Os americanos liberados também desembarcaram na capital do Qatar antes de retornarem aos EUA. Segundo Washington, que não entrou em detalhes, eles haviam sido presos de forma injusta e estavam em condições precárias. Já o desbloqueio dos recursos foi uma das condições impostas para libertá-los.

"Hoje, cinco americanos inocentes que foram presos no Irã estão finalmente voltando para casa", disse o presidente dos EUA, Joe Biden, enfatizando que Washington continuará a "impor custos" ao regime iraniano, num sinal de que o acordo não representa um relaxamento das sanções contra Teerã.

Ainda não está claro se o acordo pode facilitar outras negociações em assuntos delicados aos dois países, caso do programa nuclear iraniano e a presença de tropas americanas na região do Golfo Pérsico, avaliam analistas.

Um funcionário do governo americano disse à agência Reuters que a troca de prisioneiros não muda a relação de Washington com Teerã, mas que "a porta estava aberta" para conversas sobre o programa nuclear iraniano. O enriquecimento de urânio na nação do Oriente Médio é alvo de preocupações da comunidade internacional —no ano passado, o regime disse que era tecnicamente capaz de fabricar uma bomba nuclear, mas que ainda não havia decidido se iria construir uma.

Sob a liderança de Barack Obama e Hasan Rowhani, Washington e Teerã assinaram, em 2015, um acordo nuclear. O tratado estipulou limites no enriquecimento de urânio, dificultou o acesso do país a combustíveis usados em armas, reduziu o número de centrífugas e programou inspeções regulares da Agência Internacional de Energia Atômica. Como contrapartida, sanções econômicas foram aliviadas e US$ 100 bilhões em ajuda ao Irã foram liberados.

O governo do ex-presidente Donald Trump, porém, mudou tudo. Em 2018, o republicano, que dizia que o acordo beneficiava demasiadamente os iranianos em detrimento dos americanos, deixou unilateralmente o tratado e impôs novas sanções. Já o democrata Biden tentou restabelecer o tratado ao longo de seu mandato, mas as negociações travaram, em parte devido à venda de drones iranianos à Rússia, que os utilizam em ataques contra a Ucrânia invadida.

Em comunicado, a Casa Branca rebateu as acusações de que o desbloqueio do fundo beneficia o regime iraniano. Segundo o governo do democrata, as sanções financeiras já em vigor impedirão o Irã de gastar o dinheiro em qualquer coisa, exceto alimentos, remédios e outros insumos básicos à população.

O acordo, porém, motivou críticas de republicanos, que acusam Biden de pagar uma espécie de resgate dos prisioneiros americanos e, assim, financiar organizações extremistas —Teerã aparece na lista americana de países que patrocinam o terrorismo.

"Os líderes do Irã vão pegar o dinheiro e fugir", escreveu o senador Tom Cotton, republicano do Arkansas, na plataforma X, o ex-Twitter. "O que Joe Biden achou que aconteceria?"

Além de prometer medidas duras contra Teerã, Biden anunciou novas sanções contra o ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad e funcionários do Ministério da Inteligência liderados por ele assim que o avião que transportava os cidadãos americanos aterrissou em Doha. Segundo o democrata, eles tiveram envolvimento nas "detenções injustas".

O atual líder iraniano, Ebrahim Raisi, por sua vez, disse que a libertação dos cinco americanos foi uma ação "puramente humanitária". "E, certamente, pode ser um passo no qual, no futuro, outras ações humanitárias poderão ser tomadas", acrescentou.

Os cidadãos americanos com dupla nacionalidade libertados são Siamak Namazi, 51, e Emad Sharqi, 59, ambos empresários, e Morad Tahbaz, 67, um ambientalista que também possui nacionalidade britânica. As outras duas pessoas não tiveram suas identidades reveladas. Eles foram presos acusados de espionagem em sentenças contestadas pela comunidade internacional.

Já os iranianos liberados foram identificados como Mehrdad Moin-Ansari, Kambiz Attar-Kashani, Reza Sarhangpour-Kafrani, Amin Hassanzadeh e Kaveh Afrasiabi.

Com Reuters, AFP e The New York Times

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