Memoriais do genocídio de Ruanda são declarados Patrimônio Mundial da Unesco

Locais em Nyamata, Murambi, Gisozi e Bisesero rememoram extermínio de minoria tutsi, em 1994, que matou mais de 800 mil

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Quatro memoriais do genocídio de 1994 em Ruanda, que resultou na morte de mais de 800 mil pessoas, foram adicionados à lista de Patrimônio Mundial da Unesco nesta quarta-feira (20). A agência da ONU fez o anúncio pela rede social X (antigo Twitter).

Os locais em Nyamata, Murambi, Gisozi e Bisesero rememoram os assassinatos em massa desencadeados pouco depois de o presidente da etnia hutu ter sido morto quando seu avião foi abatido em um ataque atribuído pelo governo aos rebeldes tutsis.

Entrada do Memorial do Genocídio de Nyamata adicionado à lista de Patrimônio Mundial da Unesco
Entrada do Memorial do Genocídio de Nyamata adicionado à lista de Patrimônio Mundial da Unesco - Jacques Nkinzingabo - 21.mar.19/AFP

"Essa decisão histórica ajudará a preservar a memória, combater a negação e fortalecer os esforços de prevenção do genocídio globalmente. #NuncaMais",publicou a porta-voz do governo ruandês, Yolande Makolo, no X.

A decisão da Unesco também foi bem recebida por Naphthali Ahishakiye, secretário-executivo da Ibuka, associação que representa os sobreviventes do genocídio. "Isso tornará o genocídio que foi cometido em Ruanda contra os tutsis mais conhecido em todo o mundo."

Crânios, fragmentos de ossos, roupas rasgadas e imagens de cadáveres empilhados confrontam os visitantes do Memorial do Genocídio de Kigali, em Gisozi, o local de descanso final de cerca de 250 mil mortos.

Em Nyamata, a cerca de 40 quilômetros ao sul de Kigali, 50 mil pessoas que buscavam refúgio em uma igreja foram assassinadas em um dia. A capela preserva roupas e rosários usados pelas vítimas, juntamente com as armas utilizadas pelos autores dos assassinatos.

Em Murambi, dezenas de milhares de pessoas foram estimuladas a se refugiar em uma escola técnica, para acabarem executadas em um dos episódios mais sangrentos do genocídio.

Em Bisesero, um "memorial da resistência", construído em 1998, presta homenagem aos tutsis que lutaram, enquanto os extremistas hutus matavam centenas de pessoas nos arredores.

Todos os anos, mais pessoas são enterradas à medida que novas sepulturas são descobertas em todo o país, estando os restos mortais também alojados na antiga igreja em Nyamata, no complexo escolar em Murambi e no centro de memória em Bisesero.

Além de restos mortais, os locais também apresentam evidências materiais da onda de assassinatos de cem dias perpetrada pelas forças extremistas hutus —lanças, facões, porretes e armas brancas.

"Esses testemunhos, histórias e evidências materiais serão bem preservados mesmo depois de nossas vidas. Eles estarão lá, eu diria, para sempre, ou enquanto for possível", disse a sobrevivente do genocídio, Marie Grace Mukabyagaju.

O extermínio deliberado, orquestrado por um regime extremista hutu e executado por autoridades locais e cidadãos comuns, visou principalmente a minoria tutsi, mas também hutus moderados que foram baleados, espancados ou mortos por radicais hutus entre abril e julho de 1994.

Os assassinatos só terminaram quando a Frente Patriótica Ruandesa (FPR), liderada por tutsis, assumiu o controle em julho de 1994, depois de derrotar os extremistas hutus.

Julgamentos de suspeitos de genocídio foram realizados em Ruanda, em um tribunal da ONU na cidade tanzaniana de Arusha, bem como na França, na Bélgica, e nos Estados Unidos, entre outros.

Na terça-feira (19), a Unesco também reconheceu o maior centro de tortura da ditadura na Argentina (1976 - 1983) como Patrimônio Mundial. O atual Museu e Espaço de Memória Esma, em Buenos Aires, funcionou como um centro clandestino de detenção, tortura e extermínio da ditadura militar por onde passaram cerca de cinco mil dos 30 mil presos desaparecidos no período.

A agência da ONU ainda anunciou nesta quarta-feira que 139 sítios funerários e de memória da Primeira Guerra Mundial na França e na Bélgica também entraram na lista de Patrimônios Mundiais. Os lugares nas regiões belgas de Flandres e Valônia e do norte e nordeste da França abrigam restos mortais de dezenas de milhares de soldados de várias nacionalidades, além de pequenos e simples cemitérios e memoriais isolados.

com AFP

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