Netanyahu dá como certa paz entre Israel e Arábia Saudita em discurso na ONU

Tema havia dominado encontro entre premiê e Joe Biden às margens de Assembleia-Geral

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São Paulo e Boa Vista

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, deu a entender que o estabelecimento de relações diplomáticas entre seu país e a Arábia Saudita é iminente em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta sexta-feira (22).

O premiê defendeu os Acordos de Abraão, que permitiram a Israel inaugurar laços diplomáticos com Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos, ante a chamada solução de dois Estados, que prevê a criação de um Estado da Palestina. Ele descreveu a aproximação entre Tel Aviv e Riad, como um novo capítulo dos tratados, com resultados ainda mais dramáticos para a região.

Premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante fala na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York; o mapa do Oriente Médio destaca Israel e alguns países árabes de seu entorno sob o título "o novo Oriente Médio"
Premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante fala na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York; o mapa do Oriente Médio destaca Israel e alguns países árabes de seu entorno sob o título "o novo Oriente Médio" - Michael M. Santiago/Getty Images/AFP

"Essa paz fará muito para encerrar o conflito árabe-israelense. Inspirará outros Estados árabes a normalizar suas relações com Israel. Aumentará as chances de paz com os palestinos. Encorajará uma reconciliação mais ampla entre o judaísmo e o islamismo", afirmou.

O impacto da fala foi enfatizado por um ato teatral de Bibi, como o líder é conhecido, que em dado momento, exibiu dois mapas. Em um deles, Israel aparecia isolada em meio aos seus vizinhos árabes. No outro, intitulado "o novo Oriente Médio", ele e seus aliados diplomáticos (já incluindo a Arábia Saudita) aparecem coloridos em verde. O premiê então desenhou com uma caneta vermelha uma linha representando o que chamou de "corredor de paz e prosperidade" que conectaria Ásia e Europa passando por Emirados Árabes, Arábia Saudita, Jordânia e Israel.

Os sauditas, por enquanto, parecem menos entusiasmados. Embora o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, tenha afirmado na quarta-feira (20) que seu país está "cada dia mais perto" de chegar a um acordo com Israel, ele ressaltou que o reino ainda busca garantias em relação aos direitos dos palestinos para assinar um eventual tratado de reconhecimento. Segundo a programação da Assembleia-Geral, Riad, representada por seu ministro das Relações Exteriores, estará no púlpito da ONU neste sábado (23).

O tema da aproximação entre Israel e Arábia Saudita dominou o encontro que Netanyahu teve com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no início da semana —o primeiro desde que o premiê israelense voltou ao poder, em dezembro passado. Bibi fez menção à reunião no discurso, afirmando que o democrata compartilha com ele o otimismo em relação à questão.

O acordo seria de grande vantagem para Washington, uma vez que Tel Aviv e Riad são seus dois maiores aliados no Oriente Médio. Com o domínio dessas questões diplomáticas no Oriente Médio sobre a conversa, porém, os dois líderes discutiram apenas superficialmente a crise interna que Israel vive desde o início do ano em razão de uma reforma judicial que, defendida pela coalizão de ultradireita de Netanyahu, representa uma ameaça ao Estado de Direito segundo juristas.

Mesmo assim, a reunião em Nova York representou uma vitória agridoce para o premiê, que esperava um convite para ir a Washington antes da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Biden só o convidou para ir à Casa Branca depois do encontro.

Bibi ainda aproveitou sua presença na ONU nesta sexta para criticar diretamente o presidente da Autoridade Palestina, Mohammad Abbas— que, também na Assembleia-Geral, na quinta (21), chamou Israel de racista pediu às Nações Unidas que fossem mais enfáticas contra Tel Aviv. O premiê israelense lembrou a última declaração controversa do líder árabe, em que afirmou que o Holocausto promovido por Adolf Hitler não estava relacionado com antissemitismo, e acusou sua administração de financiar e aplaudir terroristas.

A coalizão que ascendeu ao poder com Bibi tem sido responsável por multiplicar o número de incursões do Exército israelense à Cisjordânia ocupada. Segundo cálculos da agência de notícias AFP, só desde o início do ano os conflitos já causaram a morte de ao menos 226 palestinos, além de 32 israelenses.

Netanyahu finalizou seu discurso com um apelo ao desenvolvimento ético e responsável da inteligência artificial. "Nosso objetivo deve ser que a IA traga mais liberdade, e não menos; previna guerras, em vez de começá-las; e garanta que pessoas vivam vidas melhores, mais longas, saudáveis e produtivas", afirmou.

Empresários do setor de tecnologia de Israel têm sido críticos à reforma judicial que o governo do premiê tenta avançar, acusando a medida de afastar investimentos estrangeiros. O shekel, moeda local, sofreu desvalorização de 9% em comparação com o dólar desde o início do ano.

Antes de ir a Nova York, Bibi se encontrou com Elon Musk, dono do X (ex-Twitter) na Califórnia e pressionou o bilionário em transmissão ao vivo na plataforma para frear discurso antissemita no site. Ao mesmo tempo, o premiê elogiou o empresário e afirmou que tentaria convencê-lo a investir em Israel, em aceno ao setor tecnológico do país.

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