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Redes sociais e ativismo da hashtag mataram os protestos

Para certo tipo de ativista, política foi reduzida a mera performance com interesses mais pessoais do que coletivos

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Robert Shrimsley

Comentarista político e editor do Financial Times no Reino Unido

Financial Times

Houve alguns segundos em que meu coração parou. Enquanto dois manifestantes levantavam com sua faixa e gritavam durante um evento que eu participava, várias ideias passaram pela minha cabeça —nenhuma relacionada ao poder do pensamento positivo.

O episódio ocorreu no FT Weekend Festival enquanto eu moderava um painel sobre o Partido Trabalhista britânico. A convidada principal era a parlamentar Rachel Reeves, ministra "sombra" da pasta das Finanças —responsável por fiscalizar o cargo—, a quem eu havia acabado de perguntar sobre sua recente decisão de descartar um novo imposto sobre a riqueza, quando dois manifestantes se expressaram.

Manifestantes durante protesto em frente a Downing Street, a sede do governo do Reino Unido, em Londres, pedem mais ações do governo do premiê Rishi Sunak para a mitigação da emergência climática
Manifestantes durante protesto em frente a Downing Street, a sede do governo do Reino Unido, em Londres, pedem mais ações do governo do premiê Rishi Sunak para a mitigação da emergência climática - Juntin Tallis - 3.ago.23/AFP

Após o pânico e os pensamentos inapropriados, perguntas inundaram minha mente. Como posso acelerar o fim dessa interrupção? Quem são essas pessoas? Que tipo de manifestantes ricos podem pagar o ingresso de três dígitos para entrar no FT Weekend Festival?

Fui salvo pela minha própria irritação. Afinal, eu havia acabado de fazer a pergunta que eles queriam fazer. Perguntei se eles gostariam de ouvir a resposta ou se queriam apenas gritar. Aparentemente surpresos, eles hesitaram antes de notar que queriam gritar. A hesitação foi fatal, e continuamos até que a equipe do festival chegou, momento em que eles se calaram e saíram mansamente.

Depois, porém, minha principal emoção foi o desprezo. Esses eram manifestantes inúteis. Havia palavras demais em sua faixa, e até agora não consigo me lembrar do nome de sua organização. Pior ainda: eles se renderam ao primeiro sinal de autoridade. Já vi uma resistência mais enérgica dos meus filhos quando pedimos que nos ajudem nas tarefas domésticas.

Talvez eu esteja sendo injusto. Talvez houvesse algo na tenda de culinária ou artes que eles não queriam perder, então eles fizeram um protesto rápido e, depois, correram para a palestra sobre vinhos.

Para um certo tipo de ativista, a política foi reduzida a uma forma de arte performática. Dois minutos de interrupção, um vídeo e um comunicado de imprensa estão tomando o lugar de qualquer tentativa de conquistar corações e mentes.

Se esse for o caminho que os protestos seguirão no futuro, talvez possamos chegar a um acordo em que atrasamos o início de qualquer evento por dois minutos para que alguns manifestantes possam obter algumas imagens de si mesmos gritando o slogan que eles elaboraram enquanto bebiam um copo de Casillero del Diablo.

Essa política dos gestos sempre esteve presente, mas o que é impressionante em tantas demonstrações impulsionadas pelas redes sociais é a falta de qualquer estratégia política subjacente. É como se a performance fosse o único objetivo. Não há plano para persuadir e, em alguns casos —especialmente nos protestos climáticos que bloqueiam estradas—, parece haver um esforço consciente para alienar as pessoas comuns e perder apoio, embora pelo menos aqueles que bloqueiam estradas estejam dispostos a serem presos e julgados.

Isso se resume a jogar confetes laranja em um ex-político em seu casamento, um ato tão sem sentido que a performance é o único objetivo possível. Você chama a atenção, mas, se não houver um plano para converter essa atenção em apoio que os políticos tenham que levar a sério, você é apenas mais um buscando atenção.

Assim como o ativismo de hashtag nas redes sociais, muitas campanhas políticas parecem ser sobre o ativista e não sobre a causa. É sobre uma foto para o seu feed do Instagram. É o tipo de política que não muda nada, mas faz você se sentir bem consigo mesmo. É uma campanha para aqueles que querem se considerar ativistas, mas não estão realmente dispostos a levar isso adiante.

Por outro lado, como alguém que participa de eventos públicos, talvez eu não deva reclamar. Esse é o tipo de intervenção de baixo impacto que agrada a todos.

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