O governo de Taiwan apresentou nesta quinta-feira (28) seu primeiro submarino desenvolvido internamente. A embarcação faz parte de um ambicioso projeto de modernização das Forças Armadas da ilha, que vive sob ameaça constante de uma invasão da China.
A presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, participou da apresentação na cidade de Kaohsiung, no sul da ilha. Ela deu início ao plano de modernizar as Forças Armadas assim que assumiu o cargo, em 2016. Outros sete submarinos devem ser entregues pelo governo nos próximos anos.
"No passado, um submarino desenvolvido internamente era considerado uma tarefa impossível. Hoje, um submarino projetado e fabricado pelo povo do nosso país está diante dos nossos olhos", disse Tsai, acrescentando que a embarcação desempenharia um papel fundamental no fortalecimento da Marinha local.
Tsai disse que a nova embarcação militar passará por testes e deve entrar em serviço em 2025, juntando-se a outros submarinos dois comprados da Holanda na década de 1980. O programa de submarinos nacionais contou com a expertise e tecnologia de vários países –uma conquista para Taiwan, diplomaticamente isolada.
"Mesmo que haja riscos, e não importa quantos desafios existam, Taiwan deve dar este passo e permitir que a política de defesa nacional cresça", afirmou Tsai em frente ao submarino chamado Hai Kun, que em português significa "criatura marinha mítica". A bandeira vermelha de Taiwan foi colocada sobre a proa da embarcação.
O Hai Kun tem 80 metros de comprimento, pesa de 2.500 a 3.000 toneladas e conta com sistemas de combate e torpedos da empresa americana Lockheed Martin. Cheng Wen-lon, presidente da fabricante CSBC Corp, disse que o processo de construção durou sete anos e que sua equipe "trabalhou sem parar". Ele chamou a embarcação de "arma mágica em uma guerra assimétrica".
Sandra Oudkirk, a embaixadora dos EUA em Taiwan, também participou da cerimônia. Ela ressaltou a importância dos intercâmbios entre os governos americano e taiwanês —Washington não mantém laços diplomáticos formais com Taipé, porém é o maior fornecedor de armas da ilha e promete defendê-la em caso de uma eventual invasão chinesa.
Questionado sobre o novo submarino, Wu Qian, o porta-voz do Ministério da Defesa da China, minimizou o poderio ofensivo da embarcação. Ele disse que Taiwan estava "se superestimando e tentando algo impossível". "Quanto a falar sobre impedir o Exército de Libertação Popular [Forças Armadas da China] de entrar no Oceano Pacífico, isto é um disparate idiota", disse.
Sob a assertividade do líder chinês, Xi Jinping, Pequim vem aumentando as pressões militar e política contra Taiwan nos últimos meses. No último dia 17, o Ministério da Defesa da ilha afirmou ter detectado 103 aeronaves militares chinesas próximas a seu território em um período de 24 horas.
O ápice das tensões aconteceu em agosto de 2022, quando a então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, fez a primeira visita de uma alta autoridade americana em 25 anos à ilha. Depois, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, retribuiu a visita. Em represália, as forças chinesas simularam em abril um "cerco total" à ilha.
Diante de uma ameaça crescente da China, o ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, disse que o governo taiwanês não teve outra opção a não ser fortalecer suas defesas. "Ter um novo submarino é uma dessas estratégias. [...] É necessário para impedir que ocorra uma guerra", disse Wu.
O governo de Taiwan espera operar pelo menos dois submarinos desenvolvidos internamente até 2027 e equipar modelos posteriores com mísseis, segundo o chefe do programa nas Forças Armadas local.
O primeiro submarino, com preço de US$ 1,53 bilhão (R$ 7,7 bilhões) usará um sistema de combate da Lockheed Martin e transportará torpedos pesados Mark 48, fabricados nos EUA. Ele entrará em testes no mês que vem antes de ser entregue à Marinha no final de 2024.
O almirante Huang Shu-kuang, conselheiro de segurança de Tsai que lidera o programa, descreveu os submarinos como um "dissuasor estratégico", que também podem ajudar a manter a "tábua de salvação" da ilha no Pacífico, mantendo abertos os portos ao longo da costa leste num eventual conflito com Pequim.
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