Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Bombardeios no sul de Gaza fazem palestinos voltarem para norte após ultimato

Passagem de Rafah continua fechada, e caminhões com mantimentos aguardam abertura do lado egípcio

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São Paulo

Palestinos que haviam se deslocado do norte para o sul da Faixa de Gaza após um ultimato de Israel para esvaziar a área começam a retornar para suas casas, mesmo sob risco de ataques. A informação é de um relatório da ONU sobre a situação dos deslocados pelo conflito iniciado no dia 7, após os atentados terroristas do Hamas em solo israelense.

Segundo o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, os bombardeios que as forças israelenses têm feito no sul e as condições precárias de acomodação para os que saíram de suas casas estão entre os motivos para os palestinos decidirem se arriscar e voltar ao norte.

Palestinos andam em meio a escombros na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
Palestinos andam em meio a escombros na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - Said Khatib - 10.out.23/AFP

Entre os que continuam nas cidades ao norte, na área sob ordem de esvaziamento de Tel Aviv, há ainda o temor de que nunca sejam autorizados a retornar, em caso de uma invasão terrestre de Israel.

Desde o início da guerra, de acordo com a ONU, o número de deslocados em Gaza é de aproximadamente 1 milhão. Desse total, mais da metade (527 mil) está nas 147 estruturas emergenciais de abrigo montadas pelas Nações Unidas, a maioria delas na região central ou no sul de Gaza. Superlotadas, essas instalações de acolhimento sofrem com escassez de água, de comida e de medicamentos.

Segundo a ONU, na maioria dos abrigos há racionamento de água potável, com fornecimento de no máximo um litro diário por pessoa —o padrão internacional mínimo é de 15 litros diários por pessoa. Ao menos três estações de abastecimento, um reservatório e uma usina de dessalinização de água foram atingidos total ou parcialmente pelos ataques, prejudicando a distribuição para mais de 1,1 milhão de pessoas, o que representa metade da população total de Gaza.

Em condições precárias, os palestinos no sul e no norte continuam sem acesso à ajuda humanitária. A passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, permanecia fechada até esta sexta. Cerca de 200 caminhões, com aproximadamente 3.000 toneladas de mantimentos, aguardavam do lado egípcio a formalização de um acordo para entrar na Faixa de Gaza —embora as tratativas com Israel prevejam a passagem de apenas 20 veículos.

Mas a incerteza em relação à entrega de suprimentos continua. Segundo o subsecretário-geral das Nações Unidas para assuntos humanitários, Martin Griffiths, os caminhões devem ser liberados neste sábado (21) "ou depois". Antes, o canal de TV AlQahera News, próximo dos serviços de inteligência egípcios, havia divulgado que a passagem seria aberta nesta sexta.

"Nós estamos em negociações profundas e avançadas com todas as partes relevantes para garantir que uma operação de ajuda em Gaza comece o mais rápido possível. [...] A primeira entrega deve começar amanhã ou depois", disse Griffiths, em Genebra.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito, Ahmed Abu Zeid, isentou nesta sexta-feira as autoridades do país da responsabilidade pelo fechamento da passagem de Rafah. "O Egito não é responsável por obstruir a saída de cidadãos de países terceiros", escreveu ele na plataforma X (ex-Twitter), "apesar dos ataques direcionados israelenses e da recusa da entrada de ajuda".

Nos últimos dias, ONGs direcionaram caminhões para Rafah porque a passagem é o único ponto de acesso ao território palestino fora do controle direto de Israel. Somente na quarta (18), porém, sob mediação dos EUA, Tel Aviv afirmou que permitiria a entrada de ajuda humanitária.

Israel não tem presença militar ou aduaneira no local desde que desocupou a Faixa de Gaza, em 2005, mas controla, na prática, quem entra e quem sai pela passagem. Um acordo, costurado por Estados Unidos e União Europeia, entre Tel Aviv, o Cairo e a Autoridade Palestina em novembro daquele ano lançou as bases para o funcionamento da fronteira.

A passagem não havia sido oficialmente fechada, mas tornou-se inoperante devido aos ataques aéreos israelenses no lado de Gaza. De acordo com o chanceler egípcio, Sameh Shoukry, o posto de controle precisa de reparos para entrar em funcionamento pleno devido aos danos causados pela ofensiva.

Autoridades de segurança disseram à agência de notícias Reuters nesta quinta que o Egito estava enviando maquinários para o sul da Faixa de Gaza para restaurar estradas.

António Guterres, o secretário-geral da ONU, também chegou à passagem nesta sexta numa tentativa de pressionar pela abertura.

"Esses caminhões não são apenas caminhões. Eles são uma espécie de tábua de salvação, a diferença entre a vida e a morte para muitas pessoas em Gaza", disse ele, enquanto centenas de pessoas, incluindo motoristas e trabalhadores voluntários, gritavam slogans pró-Palestina e agitavam faixas ao redor dele.

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