Cabines telefônicas britânicas são restauradas e viram minibiblioteca e cafeteria

Símbolo de Londres, peças caíram em desuso após popularização de celulares; atualmente há apenas 3.000 unidades no país

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Mathilde Bellenger Anastasia Clark
King's Lynn (Reino Unido) | AFP

Em sua oficina cheia de relíquias, tanques de gasolina enferrujados e placas esmaltadas, Carl Burge dá os últimos retoques em uma cabine telefônica vermelha, um emblema no Reino Unido.

Há mais de duas décadas, esse homem de 54 anos restaura e dá uma segunda vida a essas peças lendárias que envelhecem por causa do clima úmido britânico. "Se você enviar um cartão postal para qualquer lugar do mundo com a foto de uma cabine telefônica vermelha, 95% das pessoas saberão que é da Inglaterra", afirma Burge à agência de notícias AFP.

Carl Burge restaura uma cabine telefônica em sua oficina em King's Lynn, no leste da Inglaterra - Daniel Leal - 11.ago.2023/AFP

Desde sua aparição, nos anos 1920, esses objetos se tornaram um dos principais símbolos de Londres, mas a maioria desapareceu da paisagem britânica após o surgimento dos celulares.

Nos anos 1990, havia 100 mil telefones públicos na nação; atualmente, restam apenas 20 mil em funcionamento, incluindo 3.000 cabines vermelhas, de acordo com o grupo BT, operadora estatal britânica.

Mais de 7.000 dessas cabines foram parar nas mãos de comunidades, associações ou igrejas e se transformaram em minibibliotecas, quiosques de informações turísticas e até mesmo desfibriladores.

Outras que perderam sua função original podem ser alugadas por pequenas empresas, como a que agora exibe opções de tiramisu da marca "Walkmisu", no centro de Londres. O proprietário da empresa, Daniele Benedettini, instalou duas cabines telefônicas vermelhas perto da Russell Square para vender a famosa sobremesa italiana.

"Acho ótimo poder misturar a tradição inglesa com a italiana", explica ela à AFP. Suas duas cabines foram renovadas e equipadas com prateleiras, uma geladeira e uma máquina de café, mas ainda preservam sua aparência externa.

Abrir um comércio em uma antiga cabine, alugada de um proprietário privado, custa menos do que alugar um espaço tradicional, diz o empresário de 29 anos. Atualmente, além de coordenar o Walkmisu, Benedettini abriu um café nas proximidades.

Segundo Burge, restaurar uma cabine leva em média seis semanas. Mas o tempo de trabalho depende de como a peça chega em suas mãos —muitas das cabines que passaram por sua oficina em King's Lynn, no leste da Inglaterra, estavam quebradas, sem vidros e com portas de madeira apodrecidas.

Para reformá-las, o britânico usa a experiência que adquiriu no mundo automobilístico, no qual trabalhou no início de sua carreira. Ele mudou de área para poder trabalhar com sua paixão por objetos de coleção britânicos e fundou uma pequena empresa de restauração conhecida como "Remember When UK".

No início, ele comprou e restaurou uma cabine telefônica e a expôs em seu jardim. Depois de vendê-la, porém, ficou triste ao perceber que "sentia falta dela". Ao tornar-se um restaurador profissional, começou a trabalhar em várias cabines ao mesmo tempo.

Entre elas está um exemplar da famosa K2, o primeiro modelo de cabine telefônica vermelha introduzido em 1926 e projetado pelo arquiteto britânico Giles Gilbert Scott, conhecido por seu trabalho em prédios públicos de Londres.

Depois de duas décadas atuando no setor, Burge não perdeu sua paixão. "Estou ficando um pouco velho, tudo parece ser mais difícil para mim, mas acho que mantenho o mesmo entusiasmo", declara. "Na verdade, acho que minha vontade é ainda maior."

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