Canadá elege 1º presidente da Câmara negro após escândalo de homenagem a nazista

Greg Fergus substitui Anthony Rota, que renunciou após convite a veterano que integrou tropa hitlerista na 2ª Guerra

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Boa Vista

O Canadá elegeu nesta terça-feira (3) o primeiro presidente negro da história de seu Parlamento. Greg Fergus, do centrista Partido Liberal, substitui o correligionário Anthony Rota, que renunciou após a crise gerada pelo convite e homenagem a um veterano da Segunda Guerra Mundial que integrou uma tropa nazista na Ucrânia.

"O presidente [do Parlamento], para usar a antiga analogia do hóquei, não passa de um árbitro. E se tem uma coisa que eu sei é que ninguém paga para ver o árbitro. Eles vão ver as estrelas —vocês", disse ele em primeiro discurso na cadeira principal, prometendo fazer cumprir as regras e garantir que haja respeito mútuo na Câmara.

Presidente eleito do Parlamento canadense, Greg Fergus (centro), é aplaudido ao lado do premiê Justin Trudeau (direita) e do líder do Partido Conservador Pierre Poilievre (esquerda)
O pPresidente eleito do Parlamento canadense, Greg Fergus (centro), é aplaudido ao lado do premiê Justin Trudeau (direita) e do líder do Partido Conservador, Pierre Poilievre (esquerda) - Blair Gable - 3.ou.23/Reuters

O cargo tem função arbitral no processo parlamentar —é dele eventual voto de desempate para questões discutidas na Câmara— e busca manter a ordem e o decoro na Casa durante debates, além de representar a instituição legislativa.

"A menos que haja um entendimento mútuo de respeito, não será possível compreender os argumentos para que suas opiniões sejam ouvidas. A menos que todos concordemos em estender uns aos outros esse senso de respeito e decoro", afirmou.

Em seguida à fala de Fergus, o premiê canadense, Justin Trudeau, também do Partido Liberal, celebrou o pioneirismo do presidente do Parlamento. "Isso deve inspirar todos os canadenses, especialmente as gerações mais jovens que desejam se envolver na política", disse.

No último dia 26, o então presidente da Casa, Anthony Rota, renunciou após duras críticas por convidar e saudar como "herói de guerra" o veterano Iaroslav Hunka, 98, durante visita do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, a Ottawa. Na ocasião, o Parlamento canadense aplaudiu Hunka de pé.

Ucraniano nascido na Polônia, o ex-militar integrou a chamada Divisão Galícia, ou 14ª Divisão de Granadeiros das Waffen-SS, o braço militar das tropas de assalto nazistas, vanguarda ideológica do regime de Adolf Hitler (1889-1945).

A divisão de Hunka tinha cerca de 15 mil homens e participou do enfrentamento aos soviéticos. A Waffen-SS foi declarada uma organização culpada por crimes de guerra no Tribunal de Nuremberg, que julgou as atrocidades nazistas, mas não houve casos específicos associados à unidade ucraniana. Há relatos abundantes, contudo, de abusos e execuções.

Após críticas de grupos judaicos canadenses, Rota admitiu o erro e pediu desculpas, dizendo que desconhecia o passado do convidado, antes de renunciar. Trudeau afirmou que esse foi um episódio "constrangedor" para o Parlamento e todos os canadenses.

A polêmica ajudou a manchar a visita de Zelenski, que agradeceu ao Canadá pelos bilhões de dólares em ajuda e armas fornecidos desde o início da invasão russa, mas não comentou o caso. O veterano, por sua vez, também não se pronunciou. Não se sabe se ele teve envolvimento direto em crimes de guerra.

O incidente encaixou na narrativa promovida pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que a "operação militar especial", eufemismo para justificar a invasão, é realizada para "desnazificar a Ucrânia, acusação considerada infundada por Kiev e aliados.

Com Reuters

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