Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Presidente do Parlamento do Canadá renuncia após homenagem a veterano nazista

Ex-militar, que foi membro das tropas de assalto de Hitler, havia sido aplaudido em sessão que teve a presença de Volodimir Zelenski

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São Paulo

O presidente do Parlamento do Canadá, Anthony Rota, renunciou ao cargo nesta terça-feira (26) após ser alvo de críticas por homenagear um ex-integrante de uma unidade militar nazista durante uma sessão na Câmara com a presença do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski.

Rota disse aos legisladores que cometeu um erro ao convidar o ex-soldado. "Aquele reconhecimento público causou dor a indivíduos e comunidades, incluindo a comunidade judaica no Canadá e ao redor do mundo. Aceito total responsabilidade por minhas ações", disse o membro do Partido Liberal, acrescentando que sua renúncia entrará em vigor na quarta-feira (27). Até lá, um vice-presidente assumirá o cargo.

Anthony Rota, agora ex-presidente do Parlamento do Canadá, durante sessão na Câmara
Anthony Rota, agora ex-presidente do Parlamento do Canadá, durante sessão na Câmara - Blair Gable - 25.set.23/Reuters

O episódio ocorreu na última sexta-feira (22), quando o presidente ucraniano participou de uma sessão na Câmara dos Comuns do Canadá, em Ottawa, ao lado do premiê Justin Trudeau. Em um dado momento, Anthony Rota destacou a presença na plateia de Iaroslav Hunka, 98.

Ele foi saudado como "um herói de guerra" que lutou pela Primeira Divisão Ucraniana. Zelenski acenou ao veterano e o aplaudiu em duas ocasiões de pé, acompanhado por Trudeau e pelos demais presentes.

A posição do presidente do Parlamento rapidamente se tornou insustentável depois que foi revelado que Hunka havia servido na Divisão Galícia, ou 14ª Divisão de Granadeiros das Waffen-SS, o braço militar das notórias tropas de assalto nazistas, a vanguarda ideológica do regime de Adolf Hitler (1889-1945).

Zelenski ao lado de Trudeau após discurso na Câmara dos Comuns em Ottawa, na sexta (22)
Zelenski ao lado de Trudeau após discurso na Câmara dos Comuns em Ottawa, na sexta (22) - Blair Gable - 22.set.2023/Reuters

Com a conquista de boa parte da Europa continental e a invasão da União Soviética em 1941, as Waffen-SS (SS armadas, em alemão) organizaram diversas divisões com colaboracionistas, muitos deles interessados em agendas próprias. No seu auge, a organização contou com quase 1 milhão de soldados.

A 14ª divisão era sediada na Galícia, região da Ucrânia, e foi organizada exclusivamente para combater soviéticos. Muitos de seus integrantes eram simpatizantes do líder fascista Stepan Bandera (1909-1959), outros eram anticomunistas que viam nos nazistas aliados úteis para tentar conquistar autonomia ante Moscou.

A divisão de Hunka tinha cerca de 15 mil homens. A Waffen-SS foi declarada uma organização culpada por crimes de guerra no Tribunal de Nuremberg, que julgou as atrocidades nazistas, mas não houve casos específicos associados à unidade ucraniana. Há relatos abundantes, contudo, de abusos e execuções.

Grupos judaicos canadenses, críticos históricos do abrigo dado no pós-guerra a 600 ucranianos da SS, condenaram a ovação em pé dada a Hunka. Antes de renunciar, Rota havia admitido o erro e pedido desculpas, dizendo que desconhecia o passado do convidado. O premiê Justin Trudeau disse que esse foi um episódio "constrangedor" para o Parlamento e todos os canadenses.

A polêmica ajudou a manchar a visita de Zelenski, que agradeceu ao Canadá pelos bilhões de dólares em ajuda e armas fornecidos desde a invasão russa em fevereiro de 2022. O ucraniano não comentou o caso. O veterano, por sua vez, também não se pronunciou. Não se sabe se ele teve envolvimento em qualquer crime de guerra.

O incidente ainda contribuiu para a narrativa promovida pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que ele enviou seu Exército para a Ucrânia no ano passado para "desmilitarizar e desnazificar" o país, uma acusação que Kiev e aliados ocidentais consideram infundada.

A ministra canadense das Relações Exteriores, Melanie Joly, disse anteriormente que Rota deveria renunciar, enquanto Trudeau havia pedido que ele refletisse sobre seu futuro. Embora os partidos de oposição tenham culpado o que chamaram de falhas do governo de Trudeau pelo incidente, Rota disse que assumia a responsabilidade exclusiva pelo que havia acontecido.

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