Descrição de chapéu Governo Biden

Presidente da Câmara dos EUA é derrubado do cargo pela 1ª vez na história

Kevin McCarthy se tornou alvo de rebelião de ala radical republicana após impedir uma paralisação do governo no sábado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos votou para derrubar do cargo seu presidente, o republicano Kevin McCarthy, nesta terça-feira (3) —a pedido de uma ala de seu próprio partido. O placar foi de 216 votos a favor e 210 votos contrários.

É a primeira vez na história que a Casa remove seu líder do cargo, e a primeira vez desde 1910 que um pedido do tipo foi votado. A solicitação foi apresentada por Matt Gaetz, deputado conservador da Flórida cujo histórico de rixas com o líder republicano extrapola o tablado político.

Os democratas votaram em bloco pela remoção do presidente. Apesar de ter o apoio da maior parte do Partido Republicano, McCarthy, o segundo na linha sucessória da Presidência americana, perdeu seu posto em decorrência do voto contrário de apenas oito colegas de partido. Ele havia sido alçado ao cargo em janeiro, após quatro dias e 15 votações —um impasse não visto em 164 anos na Casa.

O presidente da Câmara dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, volta ao seu escritório cercado pela imprensa no Capitólio, em Washington - Jonathan Ernst/Reuters

A votação nesta terça aconteceu por ordem alfabética, com cada deputado sendo chamado a declarar seu voto. O anúncio do resultado aconteceu após um período longo de silêncio tenso.

O republicano Patrick McHenry, da Carolina do Norte, foi nomeado presidente interino por meio de uma lista elaborada pelo próprio McCarthy quando ele tomou posse no cargo —uma exigência criada após o 11 de Setembro para evitar que o posto fique vago.

Uma nova votação para eleger um presidente da Casa será realizada em data ainda indefinida. As funções desse mandato temporário, portanto, limitam-se a essa tarefa e, enquanto ela não for cumprida, a Câmara não pode trabalhar em nenhum outro tema.

Não há ainda nenhuma aposta clara sobre quem pode suceder McCarthy —o presidente derrubado pode concorrer novamente, inclusive—, mas ele afirmou que não vai disputar o cargo de novo. Gaetz também disse que não pretende concorrer. Republicanos e democratas devem se reunir entre terça e quarta para discutir candidatos.

Falando a jornalistas na noite desta terça, McCarthy culpou os democratas por sua derrubada, mas também criticou seus correligionários. "Não teve nada a ver com gastos [do governo]. Foi sobre chamar atenção", disse ele sobre seu rival, Gaetz.

"Eu não tenho certeza se esses indivíduos estão buscando ser produtivos. Eu quero ser um republicano e conservador que governa", afirmou.

"Eu fiz história, não fiz?", disse sobre seu mandato.

Votaram contra seu líder, além de Gaetz, os republicanos Andy Biggs (Arizona), Ken Buck (Colorado), Tim Burchett (Tennessee), Eli Crane (Arizona), Bob Good (Virgínia), Nancy Mace (Carolina do Sul) e Matt Rosendale (Montana).

"Dado o desejo deles de [os republicanos] não se afastarem de forma autêntica e abrangente do extremismo Maga [Make America Great Again], a liderança democrata da Câmara votará a favor da pendente moção republicana de vacância da presidência", disse o líder da minoria na Casa, Hakeem Jeffries, em referência ao alinhamento da ala da oposição ao ex-presidente Donald Trump.

Mais cedo, ele havia afirmado que os adversários precisam "romper com os extremistas" e "encerrar o caos".

O movimento contra McCarthy acontece após o presidente aprovar, nas últimas horas do sábado, com apoio democrata, uma medida temporária para manter o governo funcionando enquanto as leis orçamentárias para o ano fiscal de 2024 não são ratificadas.

O feito impediu uma paralisação do governo no domingo, mas custou a McCarthy o apoio de um grupo mais radical de seu partido que exigia cortes de gastos mais profundos e já estava insatisfeito com a sua liderança desde o acordo fechado com a Casa Branca para elevar o teto da dívida pública no primeiro semestre.

Em nota, o governo afirmou que Joe Biden espera que a Câmara "eleja rapidamente um presidente" diante dos "desafios urgentes" que o país enfrenta. "O povo americano merece uma liderança que coloque as questões afetando suas vidas em primeiro lugar."

A principal preocupação da Casa Branca é a aprovação das leis orçamentárias para o ano fiscal iniciado em 1º de outubro. Caso o Congresso não consiga aprová-las nos próximos 42 dias, o governo federal não terá dinheiro para bancar seus gastos, um cenário conhecido como "shutdown". Enquanto um novo líder não for escolhido pela Câmara, não há como as medidas passarem.

Entre os republicanos, Trump condenou a briga interna de seu partido. "Por que os republicanos estão sempre brigando entre si? Por que eles não estão brigando com os democratas radicais de esquerda que estão destruindo nosso país?", disse em uma postagem em sua rede social Truth.

Outros pré-candidatos à nomeação republicana na eleição presidencial do próximo ano também criticaram os deputados de seu partido. Ron DeSantis questionou qual é o plano agora, enquanto Tim Scott afirmou que a briga interna não ajuda e acusou Gaetz de "causar muito prejuízo".

Antes de a destituição de McCarthy ir a votação, vários republicanos debateram a proposta no plenário, entre eles Gaetz, Good e Biggs pela derrubada do líder, e Tom Cole (Oklahoma), Tom Emmer (Minnesota).e Jim Jordan (Ohio). Good e Gaetz acusaram McCarthy de trair acordos e recuar diante de democratas em votações que, em sua visão, significam irresponsabilidade fiscal e levaram à disparada da dívida pública. O presidente da Câmara foi chamado de "caótico".

"Nós precisamos de um presidente que vai lutar por alguma coisa, qualquer coisa além de apenas ser presidente ou se tornar presidente", disse Good.

Já os defensores elogiaram o trabalho de McCarthy no cargo, e fizeram um apelo pela união do partido em torno de seu líder. Enquanto a discussão acontecia, o presidente da Câmara permaneceu no plenário, sentado em silêncio.

A moção para destituir o presidente da Câmara foi apresentada na noite de segunda. O uso do instrumento por um membro da Casa foi facilitado por McCarthy em janeiro, em um pacote de mudanças nas regras legislativas exigido por republicanos extremistas em troca de apoio ao seu pleito pela liderança.

"Uma das duas coisas vai acontecer: Kevin McCarthy não vai ser presidente da Câmara, ou ele vai ser o presidente da Câmara trabalhando de acordo com os desejos dos democratas", disse Gaetz a jornalistas após apresentar o pedido.

"Vem com tudo", afirmou McCarthy no X, ex-Twitter. "Acabei de ir", retrucou Gaetz.

Os republicanos têm uma maioria apertada na Câmara, de apenas nove votos. O grupo de Gaetz, mais à direita, abrange 20 deputados. Para ser aprovada, a moção exigia uma maioria simples entre os deputados presentes e votantes.

Assim, o destino de McCarthy estava, na prática, na mão dos democratas. Caso parte do partido votasse contra, ou simplesmente se abstivesse, o republicano poderia ter sobrevivido no cargo.

Para isso, no entanto, os democratas queriam que o presidente da Câmara fizesse concessões à altura desse apoio inusual –o que ele disse na manhã desta terça que não iria fazer.

Os membros do partido de Joe Biden tiveram uma reunião a portas fechadas durante a manhã para discutir o tema. Muitos deputados relataram a jornalistas na saída que não foi acordado nenhum plano para salvar o presidente da Câmara, que recentemente determinou a abertura de um processo de impeachment contra o presidente.

Uma resolução para cancelar a votação da moção foi apresentada no início da tarde, e derrotada por um placar de 218 votos contrários e 208 favoráveis, com os democratas votando em bloco contra McCarthy e outros 11 republicanos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.