Israel vai entender apoio como licença para matar, diz representante palestino na ONU

Diplomata criticou abandono dos palestinos pela comunidade internacional e defendeu que paz só é viável se direito à autodeterminação for respeitado

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Washington

O observador permanente do Estado da Palestina nas Nações Unidas, Riyad Mansour, fez um apelo neste domingo (8) para que a comunidade internacional não chancele a ofensiva militar de Israel em resposta aos ataques do grupo extremista islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza.

O diplomata defendeu que a paz e a segurança só serão alcançadas na região se o direito à autodeterminação for respeitado, condenando a ocupação por Israel de territórios palestinos.

O observador permanente do Estado da Palestina nas Nações Unidas, Riyad Mansour, durante discurso na ONU neste domingo (8) - Getty Images via AFP

"Nosso povo enfrenta um ano mortal após o outro. Nós alertamos o Conselho de Segurança [das Nações Unidas] mês após mês para as consequências da impunidade de Israel", disse o diplomata pouco antes de uma reunião de emergência do órgão, na tarde deste domingo (8).

A expectativa de Israel era que o conselho condenasse os ataques do Hamas como crimes de guerra e manifestasse apoio ao direito do país, que declarou guerra neste sábado, de se defender.

"Você não pode dizer que nada justifica matar israelenses, e depois fornecer uma justificativa para matar palestinos. Nós não somos subhumanos. Nunca aceitaremos uma retórica que negue nossa humanidade e nossos direitos. Uma retórica que ignora a ocupação da nossa terra e a opressão do nosso povo", afirmou Mansour.

O representante alertou que um endosso do Conselho de Segurança ao direito de defesa israelense seria interpretado pelo país como uma "licença para matar" palestinos.

"Não é a hora de deixar Israel apostar mais em suas escolhas terríveis. É hora de dizer a ele que precisa mudar de trajetória. Há um caminho para a paz, em que nem palestinos e nem israelenses são mortos, e ele é diametralmente oposto ao que Israel embarcou", disse.

Ele condenou o bloqueio feito pelo país a Gaza –os ataques disparados pelo Hamas a partir da região mostrariam justamente que a imposição é ineficaz em garantir segurança, servindo apenas para infligir sofrimento à população, disse.

Mansour criticou ainda o que descreve como um abandono dos palestinos pela comunidade internacional.

"Onde está a proteção internacional à qual o povo palestino tem direito quando um poder ocupador viola a lei e fere aqueles que ela é obrigada a proteger?", questionou. "Por que nada é feito quando os mortos são palestinos? Esses [países] apoiando Israel conseguem ignorar sua agenda colonialista e racista?"

"Isso é o caminho para a derrota", afirmou.

Apesar das expectativas israelenses de apoio, a reunião do Conselho de Segurança –a portas fechadas– terminou sem emitir nenhuma declaração, o que exigiria consenso entre todos os seus membros.

Os Estados Unidos são o principal aliado israelense no órgão, e seu representante na ONU afirmou pouco antes do encontro que o país apoia o direito de defesa. O governo de Joe Biden está oferecendo recursos militares.

O representante chinês, por sua vez, falando brevemente antes da reunião do conselho, disse que o país é contra um escalonamento do conflito e que condena ataques "a todos os civis" –sugerindo ser contra tanto os perpetrados por israelenses quanto por palestinos.

O Brasil, que presidente o Conselho de Segurança neste mês, defende que a negociação é o único caminho para que a solução de dois estados seja concretizada, conforme as fronteiras internacionalmente reconhecidas.

"[A posição do Brasil] foi no sentido de manifestar preocupação e defesa pelo que está acontecendo, e sobretudo olhar um pouco as causas de todo esse processo que de violência que vem marcando a vida da região, e para a possibilidade de voltar a um trilho negociador", afirmou o embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, após a reunião.

Terroristas do Hamas mataram pelo menos 600 israelenses e feriram mais de 2.000 em um ataque surpresa lançado por por terra, água e mar no sábado (7). Também levaram mais de cem reféns israelenses para a Faixa de Gaza. Israel revidou com ataques aéreos e matou 413 palestinos, incluindo 20 crianças, além de deixar 2.300 feridos, de acordo com o Ministério da Saúde palestino.

O conflito já se espraia para o norte de Israel, que na manhã de domingo sofreu ataques de foguetes do grupo xiita Hizbullah, apoiado pelo Irã. Não havia registros de mortos na ação. Israel revidou com bombardeios no sul do Líbano e ordenou a retirada de moradores da região de fronteira.

Na Faixa de Gaza, que concentra 2 milhões de palestinos, moradores relatam desespero sob os bombardeios isralenses. Ao menos 20 mil pessoas buscaram abrigo em escolas administradas pela UNWRA, agência das Nações Unidas que administra campos de refugiados na região.

Segundo a emissora qatari Al Jazeera, um bombardeio da Israel matou ao menos 22 membros de uma mesma família em Khan Younis, no sul do enclave palestino. Os membros da família Abu Daqqa estavam em suas casas quando elas foram atingidas por mísseis israelenses.

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