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México vai passar a exigir visto para conexão a partir do dia 22

Mudança ocorre após casos de brasileiros que voltariam para casa pelo país latino-americano e foram barrados no Japão

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São Paulo

O México passará a exigir visto de estrangeiros que façam conexão no país a partir do próximo dia 22, afirmou a embaixada mexicana no Brasil na última sexta-feira (29). O anúncio ocorre após uma falha de comunicação barrar no Japão diversos turistas que voltariam ao Brasil pelo país latino-americano, no fim de setembro.

Até lá, quem tiver voos com conexões de até 24 horas no México continua desobrigado de apresentar autorização para entrar no país.

A partir do dia 22, só seguirão livres dessa exigência aqueles que tenham residência permanente ou visto válido em Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Irlanda do Norte, países que compõem o Espaço Schengen (que compreende a maior parte da União Europeia) ou Japão —a nação asiática, porém, deixou de exigir visto de brasileiros no último sábado (30).

Aeroporto Internacional Felipe Angeles, em Zumpango, no México - Pedro Pardo - 21.mar.21/AFP

Nesse dia, entrou em vigor um acordo firmado em agosto entre Brasil e Japão que, de forma recíproca, isenta de vistos viajantes dos dois países. A regra, que tem validade inicial de três anos, aplica-se a pessoas com viagens de turismo com duração de até 90 dias.

Aproximação semelhante foi ensaiada por Brasil e México em maio. Naquele mês, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou ter conversado com seu então homólogo mexicano, Marcelo Ebrard, e anunciou, sem mencionar uma data, que o México voltaria a isentar brasileiros da exigência de visto pelo princípio da reciprocidade, já que mexicanos não precisam de autorização para entrar no Brasil.

A ideia era retomar a política que vigorava até o fim de 2021, quando o México voltou a exigir vistos de viajantes brasileiros, interrompendo uma isenção acordada entre os dois países que vinha sendo aplicada desde 2013.

As barreiras para brasileiros entrarem no México, porém, parecem só aumentar. Em maio do ano passado, por exemplo, o sistema de vistos eletrônicos para viajar ao país emperrou, o que fez diversos brasileiros perderem viagens e até organizarem protestos nas portas de consulados.

A situação se agravou há cerca de duas semanas, quando brasileiros que estavam no Japão foram impedidos de voltar para casa passando pelo México sob a justificativa de que o país latino-americano não aceitava mais a entrada sem visto —ainda que eles apresentassem a autorização japonesa, como o exigido, e tivessem feito a viagem de ida pela mesma rota.

Questionado na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores do México atribuiu o transtorno à atualização de uma plataforma usada por companhias aéreas para verificar documentos e suspendeu a mudança até o dia 22 de outubro, quando não será mais possível entrar no país sem visto, ainda que para conexão.

No intervalo até os esclarecimentos, porém, o estrago já estava feito: há relatos de diversos turistas que precisaram comprar de surpresa passagens de volta por outras rotas —a Folha falou com dois deles que disseram ter desembolsado pelo menos R$ 10 mil para voltar. Outros conseguiram voltar dias depois pelo México, mas tiveram compromissos no Brasil afetados, como a professora de inglês Isabela Dias, 43.

Moradora de Volta Redonda (RJ), ela foi ao Japão no dia 2 de setembro e estava com a viagem de volta programada para 23 do mesmo mês, um dia depois que os primeiros brasileiros foram barrados pela Aeroméxico, companhia responsável pelos voos. Segundo ela, a justificativa da aérea é que seu visto era de entrada única —a embaixada do Japão no Brasil oferecia vistos de uma, dupla ou de múltiplas entradas.

A professora só conseguiu voltar na terça-feira passada (26), quando a medida foi suspensa. Pelo seu relato, porém, os brasileiros continuam enfrentando dificuldades na viagem.

Dias conta que ficou na sala de trânsito —em tese, reservada àqueles que não têm visto e estão em conexão— por quatro horas e só conseguiu ir ao banheiro após pedir chorando para uma das funcionárias do espaço. Além disso, seu passaporte foi retido pela Aeroméxico por todo o trajeto, algo que a reportagem ouviu de pelo menos outros quatro turistas.

Nem a companhia nem a chancelaria responderam se a apreensão do documento é uma orientação do governo mexicano. "Estamos trabalhando para que em breve seja possível tramitar um visto eletrônico para facilitar os fluxos de turistas brasileiros pelo México", disse a pasta.

O pano de fundo da confusão é a pressão do governo americano sobre o país latino-americano. Os EUA veem um fluxo de migração irregular sem precedentes na sua fronteira sul. Autoridades detiveram mais de 2 milhões de pessoas em 12 meses na fronteira, segundo dados divulgados em setembro.

A tensão se arrasta ainda para países da América Central —desde janeiro, o número de pessoas que cruzaram Darién, selva na fronteira entre a Colômbia e o Panamá, passou de 402 mil, segundo o Ministério de Segurança Pública panamenho.

As mudanças deixam apreensivo quem vai viajar nos próximos meses, como o representante comercial Luiz Silveira, 42, que passou a entrar no site da chancelaria mexicana diariamente para se informar sobre eventuais mudanças.

De viagem marcada para o Japão com passagem no México para dezembro, ele tentou agendar uma entrevista para retirada do visto para ele e sua família após a confusão das últimas semanas, mas não conseguiu e pagou uma assessoria para cuidar dos papéis, o que lhe custou cerca de R$ 800 ao todo.

"Quando eu comprei as passagens, no começo do ano, estava tranquilo, porque não precisava de visto para conexão", afirma. "Vi relatos de pessoas que foram humilhadas lá, fiquei chocado."

Pelo site da Secretaria de Relações Exteriores do México, a reportagem só conseguiu acessar o calendário para agendamento da retirada de visto no consulado do Rio de Janeiro, que tinha datas a partir de 17 de outubro, e não encontrou a opção de visto para trânsito, somente para visitante com ou sem permissão para realizar atividades remuneradas e para residente temporário ou permanente.

Na semana passada, a chancelaria mexicana afirmou à Folha que toma medidas para garantir que os direitos das pessoas estrangeiras ingressantes no país sejam respeitados. "O México promove a visita de turistas de todo o mundo e, em especial, buscamos que os brasileiros sejam recebidos de braços abertos em nosso país. Ao mesmo tempo, o México tem o objetivo de gerir fluxos migratórios ordenados, seguros e regulares", afirmou a pasta.

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