Migrantes procuram abrigos, mas Nova York para de oferecê-los silenciosamente

Cidade vem abandonando acordo de disponibilizar centros para essa população, que é legalmente obrigada a cumprir

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Andy Newman Raúl Vilchis
Nova York | The New York Times

Na quinta-feira, Vinicius Funes, um migrante hondurenho de 26 anos, saiu em busca de uma cama.

Ele havia passado duas noites esperando em uma cadeira no centro oficial de chegada de migrantes da cidade de Nova York no hotel Roosevelt, no centro de Manhattan.

Em seguida, ele recebeu um panfleto que o direcionava para o que ele pensava ser um abrigo para pessoas sem-teto.

Duas pessoas vistas de costas carregam malas em uma rua
Dois migrantes venezuelanos deixam um centro de acolhimento em busca de um abrigo - Andrés Kudacki/The New York Times

Mas era, na verdade, um escritório de "reemissão" de passagens, onde a cidade compra uma passagem só de ida para os migrantes saírem da cidade.

Sem ter para onde ir, Funes voltou para o Roosevelt, onde recebeu uma mensagem de texto de um amigo sobre um espaço em um abrigo no Bronx.Mas também não havia camas lá, apenas uma grande sala de espera.Funes passou a noite no chão.

Ele tinha muita companhia: pelo menos 50 homens fizeram o mesmo, com apenas cobertores azuis fornecidos pela cidade, disse Funes e outro migrante que se identificou apenas como Daniel A. e que gravou um vídeo que mostra as condições do local.

A cidade de Nova York é legalmente obrigada a fornecer uma cama para cada pessoa sem-teto que pedir, de acordo com um acordo judicial de décadas atrás. Mas, após 18 meses de uma crise migratória que não mostra sinais de diminuir, a cidade abandonou sua obrigação, ao menos para algumas pessoas.

A cidade, que está fornecendo abrigo de emergência para mais de 65 mil migrantes, não congue mais garantir camas para adultos solteiros que atingiram o limite de 30 ou 60 dias de estadia em qualquer abrigo da cidade.

"Estabelecemos áreas de espera para aqueles que deixaram nosso sistema de abrigo e agora estão pedindo para voltar", disse Kayla Mamelak, porta-voz do prefeito Eric Adams.

No caso de Funes e Daniel A., esse espaço era uma antiga clínica de saúde na Third Avenue, no Bronx.

Dezenas de migrantes também têm dormido no chão, por até cinco dias, em outra área de espera designada pela cidade, em uma igreja em Astoria, Queens, disse Kathryn Kliff, advogada da Legal Aid Society, que está lutando contra uma tentativa da cidade de suspender o chamado direito a abrigo.

Como aconteceu com Funes, que nunca esteve em um abrigo da cidade, Nova York também parece estar falhando com os solicitantes de primeira viagem.

"Eles querem que você fique cansado e desista, e estão conseguindo", disse ele.

Adams não se desculpou pela situação habitacional dos migrantes em uma coletiva de imprensa.

"Eu não sei como deixar isso mais claro", disse ele. "Quando você está sem espaço, isso significa que você está sem espaço."

Ele acrescentou que era inevitável que alguns migrantes acabassem sem abrigo. "Não é 'se' as pessoas vão dormir nas ruas, é 'quando'", disse o prefeito.

A falta de espaço foi agravada pelo recente fechamento de cinco abrigos pelo Departamento de Bombeiros, onde estavam centenas de migrantes, devido a vulnerabilidades.

A cidade disse que seu esforço para fazer com que os migrantes saiam dos abrigos está funcionando: dos cerca de 5.000 migrantes que atingiram o tempo limite em que poderiam ficar nos espaços, menos de 1.000 insistiram para ficar. O restante saiu.

O aumento de novas chegadas que acelerou nas últimas semanas também está diminuindo. Cerca de 2.500 migrantes deram entrada no centro de chegada na semana passada, abaixo dos mais de 3.500 por semana ao longo do último mês.

Mas o número de migrantes em abrigos continua a aumentar a cada mês desde o início da crise. Abrigá-los está custando à cidade mais de US$ 10 milhões por dia.

Recentemente, a administração de Adams discutiu a possibilidade de fornecer sacos de dormir e barracas para os migrantes e permitir que eles acampem em áreas previamente determinadas, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.

Adams pareceu fazer uma referência a isso, mencionando que a cidade estava procurando "espaços ao ar livre" onde poderia "tentar criar um ambiente controlado da melhor maneira possível". Ele acrescentou que a cidade garantiria que houvesse banheiros e chuveiros.

O objetivo, segundo Adams, era "concentrar" os esses acampamentos o máximo possível, para evitar "o que está acontecendo em outras cidades, onde você vê acampamentos de barracas surgindo por toda parte".

A abertura do centro de reemissão e das áreas de espera foi relatada pelo site de notícias The City. As discussões sobre barracas foi relatada pelo The Wall Street Journal.

Kliff disse que colocar pessoas em barracas, especialmente com a chegada do inverno, "é uma violação do que é aceitável" e causaria "danos físicos e traumas para pessoas que já passaram por imensas quantidades de trauma" ao percorrer a rota migratória pela América Latina até os Estados Unidos.

A cidade e a Legal Aid, juntamente com o estado de Nova York, estão agora passando por mediação no caso do direito a abrigo. Em toda a cidade, disse Kliff, os migrantes estão recebendo instruções contraditórias à medida que são transferidos de um lugar para outro.

"Há uma grande confusão agora", disse ela.

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