Descrição de chapéu imigrantes

'Esquecem que este país foi construído por imigrantes', diz voluntário que ajuda estrangeiros em NY

Na série 1ª Pessoa, o americano Power Malu fala sobre o trabalho na crise imigratória

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Nova York

Era 25 de dezembro, um domingo de manhã, e o americano Power Malu não estava em casa com a família para o dia de Natal. Estava numa rodoviária em Nova York recebendo um ônibus cheio de imigrantes sem documentação que haviam sido enviados do Texas.

Fundador da ONG Artists Athletes Activists, Malu trabalha com outros voluntários para oferecer uma chance a estrangeiros que decidiram tentar a vida nos Estados Unidos e se viram no meio de uma crise que opõe a gestão democrata de Joe Biden a governadores e prefeitos republicanos do sul do país.

Há mais de seis meses, eles vêm fretando ônibus e enviando milhares de imigrantes a cidades comandadas por democratas, como Nova York e Washington –que têm leis que garantem mais direitos a quem chega sem documentação.

Além do acesso a serviços básicos de saúde e das ameaças reduzidas de deportação, nesses lugares há políticas para que os estrangeiros tirem carteira de motorista e é comum que a comunidade incentive a integração dos recém-chegados.

O problema é que o país lida com recorde de entradas irregulares, e as medidas tomadas por Biden para tentar conter o fluxo –como a que ficou conhecida como Título 42, política da era Trump endurecida pelo atual governo, e propostas para reformar o sistema de migração– foram consideradas insuficientes pela oposição. E os republicanos passaram a agir por conta própria.

Capitaneados por Greg Abbott, governador do Texas, os conservadores argumentam que, até que o governo federal resolva o problema, cabe aos estados da linha de frente dispersar os imigrantes e garantir a segurança na fronteira.

Enquanto alguns viajantes embarcam nos ônibus em busca de familiares já instalados em outros estados, há quem nem saiba para onde está indo e acabe refém dos sistemas de acolhimento de seu destino.

"Infelizmente essas pessoas foram usadas como instrumento político, mandadas para grandes cidades para chamar atenção ao que estava acontecendo na fronteira", diz Malu, que ajuda a receber os requerentes de asilo nos terminais rodoviários e os direciona para audiências de imigração.

"Fomos nós, as organizações de base, que nos mobilizamos para alimentar essas pessoas, vesti-las e tratá-las com amor, respeito e empatia."

O envio de imigrantes para Nova York atingiu seu auge em outubro, mês em que a cidade recebeu entre oito e dez ônibus por dia.

Segundo a prefeitura, mais de 20 mil imigrantes sem documentação chegaram à cidade desde julho, batendo todos os recordes para esse período. O fluxo diminuiu na virada do ano, mas continua acontecendo durante a madrugada e sem nenhum aviso oficial.

Críticos de Abbott apontam que seu movimento é parte de uma chantagem para forçar o governo federal a rediscutir as regras vigentes, priorizando a segurança da fronteira sul e diminuindo o fluxo de entrada em estados como Texas, Arizona e Novo México.

Ao longo da crise, imigrantes já foram enviados do Texas para a casa da vice-presidente, Kamala Harris, em Washington, e da Flórida para uma ilha luxuosa em Massachusetts, iniciativa do governador Ron DeSantis, que fretou um avião para o translado. A ação foi duramente criticada pela Casa Branca, que acusou os republicanos de estarem usando imigrantes como "peões de um xadrez político".

"Kamala Harris afirma que nossa fronteira é 'segura' e nega a crise. Estamos enviando imigrantes para seu quintal para pedir ao governo Biden que faça seu trabalho e proteja a fronteira", escreveu Greg Abbott no Twitter.

O governo Biden também criticou a resistência de lideranças do Partido Republicano em apoiar a proposta de reforma do sistema de migração do país. O projeto foi apresentado nos dias iniciais do democrata na Presidência e, em linhas gerais, amplia o esforço para conceder permissão de residência a milhões de migrantes sem documentos.

"As pessoas esquecem que este país foi construído por imigrantes. Alguns desconhecem sua própria história, porque a história pode ser apagada", diz Malu, que nasceu em Nova York mas se considera um imigrante, com família em Porto Rico. "Se você não nasceu aqui há 500 anos, então você também é um imigrante."

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