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Caso similar ao de Mahsa Amini mobiliza ativistas do Irã em meio a Nobel da Paz

Armita Geravand, 16, teria sido espancada por agentes da polícia moral por não usar o hijab, o véu islâmico

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Paris | AFP e Reuters

Pouco antes de a ativista iraniana Narges Mohammadi, 51, ser laureada com o Prêmio Nobel da Paz, nesta sexta-feira (6), organizações de direitos humanos no Irã denunciavam suspeitas de que a polícia moral do país agredira uma jovem até ela entrar em coma. O caso remete ao de Mahsa Amini, jovem curda cuja morte sob custódia de agentes estatais, no ano passado, motivou uma histórica onda de protestos.

Segundo o grupo Hengaw, com sede na Noruega, a adolescente Armita Geravand, 16, foi espancada e "gravemente ferida" no último domingo (1º) pela entidade responsável por aplicar os códigos de conduta religiosos no país. As agressões teriam ocorrido no metrô de Teerã, onde Geravand supostamente foi abordada por não usar o hijab, o véu islâmico. As autoridades negam as acusações.

Iraniana supostamente agredida é carregada para fora de vagão no Irã
Iraniana supostamente agredida é carregada para fora de vagão no Irã - Reprodução

Imagens de uma câmera de segurança divulgadas nas redes sociais mostram Geravand entrando no vagão do metrô. Pouco depois, ela é carregada para fora do trem, já aparentemente inconsciente, e outras mulheres a socorrem na plataforma da estação. No vídeo, não é possível ver as supostas agressões.

Ativistas disseram à agência de notícias Reuters que Geravand entrou em coma e foi internada no hospital Fajr, que tem segurança reforçada. Nesta quinta-feira (5), grupos de direitos humanos disseram que a mãe da adolescente, Shahin Ahmadi, havia sido detida por protestar contra restrições de visita à unidade —o regime, que não divulgou detalhes sobre a evolução do estado da jovem, nega que isso tenha ocorrido.

De acordo com o Hengaw, Geravand nasceu em Kermanshah, cidade majoritariamente curda no oeste do país, e mora em Teerã. No início da semana, a agência de notícias oficial iraniana, Irna, afirmou que ela perdeu a consciência depois de sofrer uma queda no metrô. A versão foi ecoada pelo diretor-geral de transportes da capital, Masood Dorosti, que negou qualquer "desentendimento verbal ou físico" entre a adolescente "e passageiros ou empregados do metrô".

Na quarta-feira (4), Alemanha e Estados Unidos manifestaram preocupação com o caso da adolescente. "No Irã, uma jovem luta por sua vida apenas porque seu cabelo estava à mostra no metrô. Isso é intolerável", escreveu a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, na plataforma X, o antigo Twitter.

Abram Paley, enviado especial dos EUA ao Irã, endossou as críticas, declarando que Washington estava "preocupado com as informações de que a chamada polícia da moral iraniana agrediu" a jovem.

A repressão contra mulheres que se recusam a usar o véu islâmico no Irã tem aumentado recentemente. No mês passado, o Parlamento aprovou um texto que acusa mulheres sem a vestimenta de "promoverem nudez" e, em alguns casos, de "zombarem do hijab".

A nova legislação determina o uso da peça inclusive no interior de veículos. Donos de empresas cujas funcionárias desrespeitarem a regra também poderão ser punidos com multas e até serem proibidos de deixar o país.

A votação no Parlamento aconteceu quatro dias após o aniversário de um ano da morte de Mahsa Amini. Os protestos motivados pelo episódio foram respondidos com uma dura repressão por parte do regime. Pelo menos 22 mil pessoas foram detidas nas manifestações, e sete acabaram executadas.

Um ano depois dos atos, as autoridades iranianas estão tomando medidas para evitar novos protestos. Ativistas relatam observar mais policiais nas ruas e restrições ao uso da internet. Além de bloquear milhares de páginas, o Irã ainda tem imposto uma espécie de toque de recolher digital, interrompendo o acesso virtual à noite, quando as manifestações são mais frequentes.

Apesar da repressão, cada vez mais mulheres iranianas têm saído às ruas com as cabeças descobertas, principalmente nas grandes cidades. Autoridades passaram a tentar coibir o comportamento investindo na instalação de câmeras nas ruas para identificar e punir quem desobedece o código de vestimenta.

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