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Irã diz que Nobel da Paz para ativista presa é decisão política tendenciosa

ONU pede libertação de defensora dos direitos das mulheres Narges Mohammadi, que cumpre pena de 10 anos em cárcere

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São Paulo

O anúncio de que uma ativista presa pelo regime do Irã venceu o Nobel da Paz de 2023 nesta sexta-feira (6) enfureceu as autoridades do país, que chamaram a decisão de tendenciosa e politizada. "O comitê do Nobel da Paz concedeu o prêmio a uma pessoa condenada por repetidas violações da lei e atos criminais", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Nasser Kanaani, em comunicado reproduzido pela imprensa estatal.

A ganhadora, no caso, foi Narges Mohammadi, 51, presa em Teerã sob a acusação de "espalhar propaganda contra o Estado". A ativista foi detida 13 vezes pelas forças iranianas e condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas, de acordo com Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê do Nobel. A prisão mais recente, ocorrida em 2021, rendeu a ela uma pena de mais de dez anos de reclusão.

A ativista iraniana Narges Mohammadi em sua casa em Teerã, no ano de 2001
A ativista iraniana Narges Mohammadi em sua casa em Teerã, no ano de 2001 - Behrouz Mehri - 4.set.01/AFP

O texto divulgado pelo regime clerical acusa o Nobel de estar alinhado com políticas "intervencionistas e anti-iranianas de alguns governos europeus" —horas antes, a agência de notícias semioficial Fars tinha chamado a láurea de "prêmio dos ocidentais". Enquanto isso, a ONU pediu ao Estado islâmico a libertação de Mohammadi.

Ela é perseguida pelo regime há 30 anos por seu ativismo, iniciado quando ingressou na universidade, e por artigos escritos em favor dos direitos das mulheres no país.

Mohammadi já havia sido presa em 2009, quando ficou oito anos na cadeia. Libertada em 2020, voltou a ser detida em 2021, enquanto participava de cerimônia pela memória de uma pessoa morta durante protestos contra o regime islâmico em 2019. Ela cumpre pena de mais de dez anos.

A ativista é vice-chefe do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, uma organização não governamental liderada por sua conterrânea Shirin Ebadi, advogada, ex-juíza e também Nobel da Paz. Mesmo na prisão, Mohammadi mantém sua atuação política, e tem encorajado a organização de protestos e condenado a repressão a eles desde a morte de Mahsa Amini sob custódia da polícia moral, em setembro de 2022.

Amini havia sido detida por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da forma correta, e seu falecimento se deu em condições suspeitas. Embora as autoridades afirmem que ela sofreu um ataque cardíaco, sua família alega que ela foi agredida por agentes da chamada polícia moral, responsável por aplicar os códigos de conduta religiosos no país.

A morte desencadeou uma onda de protestos histórica em defesa dos direitos das mulheres e contra o regime clerical, e foi respondida com uma dura repressão. Pelo menos 22 mil pessoas foram detidas nas manifestações, e sete acabaram executadas pelo regime.

Segundo o comitê norueguês, o lema "Mulher, Vida, Liberdade" adotado pelos manifestantes durante os atos da época "expressa adequadamente a dedicação e o trabalho de Narges Mohammadi", tanto em termos de sua luta contra a opressão das mulheres quanto de sua busca por promover os direitos humanos e a liberdade para todos.

O Nobel deste ano reconhece, aliás, os milhares que foram às ruas para lutar contra as "políticas de discriminação e opressão" do regime islâmico. O anúncio da premiação ocorre no momento em que grupos de direitos humanos afirmam que uma adolescente iraniana foi hospitalizada e está em coma após ser agredida por agentes da polícia moral no metrô de Teerã por não usar o hijab. As autoridades do país negam as acusações.

Um ano depois dos atos motivados pela morte de Amini, as autoridades iranianas estão tomando medidas para evitar novos protestos. Ativistas relatam mais policiais nas ruas e restrições ao uso da internet. Além de bloquear milhares de páginas, o Irã ainda tem imposto uma espécie de toque de recolher digital, interrompendo o acesso virtual à noite, quando as manifestações são mais frequentes.

Apesar da repressão, cada vez mais mulheres iranianas têm saído às ruas com as cabeças descobertas, principalmente nas grandes cidades. Em resposta, as autoridades passaram a investir na instalação de câmeras nas ruas para identificar e punir quem desobedece o código de vestimenta.

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