Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Vai acontecer um massacre, diz brasileiro que está com a família na Faixa de Gaza

Hasan Rabee, 30, viajou ao território para visitar parentes e está encurralado após confrontos

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São Paulo

O palestino com cidadania brasileira Hasan Rabee, 30, não dorme há uma semana. Ele está encurralado na Faixa de Gaza, território controlado pelo grupo terrorista Hamas, e teme um massacre em caso de invasão das forças israelenses por terra.

"Muitos inocentes serão mortos no norte de Gaza. Tenho certeza de que vai acontecer um massacre", afirma à Folha Rabee, que está na região de Khan Yunis, no sul do território.

Ataque de Israel na Faixa de Gaza
Ataque de Israel na Faixa de Gaza - Rizek Abdeljawad - 12.out.23/Xinhua

Não é a primeira vez que o palestino vive momentos de terror na região. Nascido em Gaza, Rabee teve de fugir da região em 2014, quando as forças israelenses lançaram a operação Margem Protetora para destruir foguetes e túneis usados pelos terroristas. Em 50 dias de confronto, 2.270 palestinos e 82 israelenses morreram.

Rabee então veio para o Brasil, onde recebeu o status de refugiado e arrumou emprego na cidade de São Paulo como vendedor de acessórios para celulares. Há 15 dias, ele voltou a Gaza para visitar parentes. Acabou surpreendido pelo confronto e ficou encurralado. Agora, teme pela vida da esposa e das filhas de três e seis anos, que são brasileiras e o acompanharam na viagem.

A família tem se deslocado por casas de parentes e amigos desde que os conflitos começaram, sempre tentando fugir dos bombardeios diários. Agora eles estão na casa de uma das irmãs de Rabee, com cerca de outras 50 pessoas. "Estamos todos apavorados. Muitos dos que estão aqui são recém-chegados do norte de Gaza, de onde Israel ordenou que saíssem."

Desde que Tel Aviv anunciou o cerco total a Gaza, na última segunda-feira (9), o território está às escuras e faltam água potável e alimentos. "Até o leite está acabando", diz.

O sofrimento é ainda mais intenso à noite, quando as explosões aumentam. Ele afirma que, se conseguir voltar ao Brasil, vai procurar ajuda psicológica para as crianças. "À noite, elas ficam no meu colo e tampo os ouvidos delas para não escutarem o barulho das bombas", afirma.

Ele tenta acalmar as crianças dizendo que são rojões usados em festas de aniversário. "A pequena ainda fica quietinha, mas a maior, quando ouve o barulho, já diz: ‘papai, olha o avião, vai lançar bomba’."

Rabee diz que mantém contato com o governo brasileiro e apela para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convença as autoridades do Egito a abrirem a fronteira ao sul, por onde poderia deixar Gaza com a família.

Procurado pela Folha, o Itaramaty não respondeu se Rabee e sua família estão na lista de brasileiros que pediram ajuda para sair de Gaza.

A comunidade brasileira em Gaza tem cerca de 40 pessoas. Parte do grupo está abrigado em uma escola católica, ao norte do território, e vai tentar sair do local na manhã de sábado (14), quando já expira o ultimato dado pelas Forças de Defesa de Israel para a retirada de civis antes de uma ofensiva militar.

Na noite desta quinta (12), o Exército de Israel informou as Nações Unidas que todos os palestinos vivendo na porção norte da Faixa de Gaza devem ir ao sul do território em 24 horas, sugerindo uma provável invasão da região. Cerca de 1,1 milhão de pessoas moram na área indicada —no total, a Faixa de Gaza tem 2,1 milhões.

Durante toda a entrevista de Rabee por telefone, foi possível ouvir barulho de aviões que sobrevoavam Gaza. Ele diz que as aeronaves que passam pelo território durante o dia são usadas principalmente para monitoramento e comunicação de possíveis alvos. "E, à noite, as bombas caem. Vira um inferno."

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