Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Com Gaza em vias de colapso, Israel diz que manterá cerco até liberação de reféns

Sem eletricidade, hospitais de enclave palestino correm risco de virarem necrotério, afirma diretor regional da Cruz Vermelha

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São Paulo

Israel anunciou nesta quinta-feira (12) que não vai interromper seu cerco à Faixa de Gaza até que todos os reféns mantidos pelo Hamas sejam libertados —o país conseguiu confirmar a identidade de pelo menos 97 pessoas sequestradas desde que o grupo terrorista realizou uma brutal incursão ao território, no fim de semana.

"Ajuda humanitária para Gaza? Nenhum interruptor elétrico será ligado, nenhum hidrante de água será aberto e nenhum caminhão de combustível entrará até que os reféns israelenses sejam devolvidos para suas casas. Humanitário por humanitário. E que ninguém fale conosco sobre moralidade", escreveu o ministro de Energia, Israel Katz, no X, antigo Twitter.

Nuvens de fumaça durante ataques aéreos de Israel em Gaza - Mahmud Ham - 12.out.23/AFP

Mas Gaza, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, está em vias de colapso. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, organização humanitária que atende vítimas do conflito na região, afirmou, também nesta quinta, que ainda havia combustível no território, mas apenas por mais algumas horas.

"À medida que Gaza perde energia, os hospitais perdem energia, colocando recém-nascidos em incubadoras e pacientes idosos em risco. A diálise renal é interrompida e os raios-X não podem ser feitos. Sem eletricidade, os hospitais correm o risco de se transformar em necrotérios", afirmou Fabrizio Carboni, diretor regional da entidade para o Oriente Médio. "O sofrimento humano causada por essa escalada é abominável. Imploro às partes que reduzam o sofrimento dos civis."

A organização está em contato com ambos os lados do conflito para tentar negociar a liberação de reféns.

As vítimas foram sequestradas no sábado, quando cerca de mil combatentes palestinos invadiram, por ar e terra, ao menos 14 localidades no sul de Israel e mataram dezenas de civis e soldados. Milhares de foguetes foram disparados contra o território israelense naquele que já é o pior ataque sofrido pelo país em 50 anos.

A escala dos assassinatos foi melhor compreendida nos últimos dias, depois que as forças israelenses retomaram o controle das cidades e encontraram apenas corpos nas casas. Ao menos dois brasileiros estão entre os 260 mortos em uma rave que acontecia a poucos quilômetros de Gaza. Na vila de Kfar Aza, soldados descreveram uma cena de massacre que vitimou dezenas de israelenses, incluindo idosos, bebês e crianças.

Após a invasão, Israel impôs um bloqueio total ao estreito território, um dos mais densamente povoados do mundo, e cortou os serviços de água, eletricidade e gás. A potência militar lançou ainda a campanha de bombardeio mais poderosa da história de 75 anos do conflito israelo-palestino, destruindo bairros inteiros.

Até a tarde desta quinta, o conflito havia deixado mais de 2.700 mortos, 1.300 do lado israelense e 1.417 do lado palestino. Além disso, 6.268 palestinos ficaram feridos com os bombardeios de Israel, que empurraram mais de 218 mil pessoas para abrigos. Desde sábado, 11 funcionários palestinos da ONU (Organização das Nações Unidas) e quatro paramédicos da FICV (Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho) morreram em Gaza.

Aqueles que sobreviveram enfrentam dificuldades para enterrar os corpos de seus familiares, já que os ataques de Tel Aviv tornaram o acesso aos principais cemitérios locais perigoso. A saída é velar os mortos em cemitérios informais escavados em terrenos baldios.

O Cemitério dos Mártires, na cidade de Khan Younis, por exemplo, já estava quase cheio mesmo antes dos enfrentamentos iniciados no fim de semana. Como muitos outros cemitérios em Gaza, ele pendurou em sua grade uma placa em que se lê: "É proibido enterrar aqui".

"Mal podemos esperar para enterrar os corpos em locais apropriados. Temos que enterrá-los em áreas aleatórias espalhadas entre as casas ou em terrenos baldios doados pelos proprietários", disse Adel Hamada, voluntário que ajuda nos velórios desse cemitério no sul de Gaza.

Apesar da proibição, coveiros ainda conseguiam amontoar corpos no local nos últimos dias. Agora, porém, isso se tornou impossível —um bombardeio tornou as estradas para o Cemitério dos Mártires intransitáveis. Situada perto da fronteira, Khan Younis está perto da linha de frente de um aguardado ataque terrestre israelense.

Tel Aviv também bombardeou a passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito, impedindo operações normais na região. Nesta quinta, o país africano tentava receber voos de ajuda internacional para o território palestino. O aeroporto de Al Arish, a cerca de 45 km da fronteira de Gaza, se preparava para receber três voos de ajuda do Qatar e da Jordânia.

Duas fontes da área de Segurança do Egito disseram à agência de notícias Reuters que os aviões não decolariam até que corredores humanitários fossem estabelecidos e que os Estados Unidos teriam garantido a entrega da ajuda a Gaza, sem fornecer detalhes.

A ofensiva do Hamas foi lançada durante o feriado judaico de Simchat Torah e um dia depois do 50º aniversário da Guerra do Yom Kippur, entre Israel e países árabes. A ação pegou as Forças Armadas de Israel de surpresa, indicando uma possível falha dos serviços de inteligência do país.

Nesta quinta, o Hamas disse que disparou foguetes na direção de Tel Aviv em retaliação aos bombardeios israelenses em dois campos de refugiados na Faixa de Gaza. No de Al Shati, moradores peneiravam os escombros com as mãos em busca de corpos.

As equipes de resgate dizem que falta combustível e equipamentos para retirar sobreviventes dos prédios destruídos. Do outro lado da fronteira, em Ashkelon, sul de Israel, trabalhadores varriam os destroços de carros e prédios danificados por novos ataques de foguetes vindos de Gaza.

Um grupo de especialistas independentes da ONU condenou os "crimes horríveis cometidos pelo Hamas" e lamentou os "ataques militares indiscriminados contra o povo palestino exausto de Gaza". "Eles têm vivido sob um bloqueio ilegal por 16 anos e já passaram por cinco grandes guerras brutais, que permanecem impunes", disse o grupo em comunicado nesta quinta.

"Isso equivale a uma punição coletiva. Não há justificativa para a violência que alveja indiscriminadamente civis inocentes, seja pelo Hamas, seja pelas forças israelenses. Isso é absolutamente proibido pelo direito internacional e constitui um crime de guerra", continuaram os especialistas.

A guerra também desmoronou os esforços diplomáticos da região. Israel se preparava para chegar a um acordo para normalizar os laços com a Arábia Saudita, que, por sua vez, havia retomado laços com o Irã, seu rival regional, meses antes.

Teerã celebrou os ataques do Hamas, mas negou estar por trás deles. Mesmo assim, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que o envio de armamentos a Israel deveria ser visto pelo Irã como um sinal para ele permaneça fora do conflito.

Com Reuters e AFP

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