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Como Javier Milei pretende estancar crise econômica na Argentina

Ultraliberal quer dolarizar o país, acabar com obras públicas e privatizar 'tudo o que puder'

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Buenos Aires

O ultraliberal Javier Milei foi eleito presidente da Argentina neste domingo (19) falando basicamente de economia, tema que, de longe, mais aflige os argentinos. Os pilares de sua campanha nos últimos dois anos para baixar a inflação foram a dolarização, o fechamento do Banco Central, o enxugamento do Estado e uma onda de privatizações.

Essas promessas se mantiveram agora que o direitista finalmente chegou à Casa Rosada. Mas algumas de suas posições radicais —que inclusive constavam em seu primeiro plano de governo— sofreram modificações desde que ele começou a ver chances reais de ser eleito, por isso ainda há muita incerteza do que ele realmente fará.

Javier Milei, presidente eleito da Argentina, em discurso após a vitória no segundo turno
Javier Milei, presidente eleito da Argentina, em discurso após a vitória no segundo turno - Luis Robayo - 19.nov.23/AFP

É o caso, por exemplo, da entrega de vouchers na educação e da privatização da saúde. Apesar de já ter defendido as ideias, hoje ele diz que não seria algo a curto ou médio prazo ou que não é competência do governo federal. Ele também propunha a desregulamentação do mercado legal de armas, permitindo seu "uso legítimo", mas depois passou a afirmar que a liberação não está no seu programa.

Entenda abaixo o que se sabe sobre suas principais propostas.

1. Dolarizar o país

O plano de Milei é baseado no livro "Dolarização", do economista Emilio Ocampo, que deve assumir o Banco Central em seu governo com a missão de fechá-lo. Ele propõe um modelo de livre concorrência entre as moedas, como ocorreu em El Salvador, ou seja, que o peso continue coexistindo com o dólar —moeda já bastante usada pelos argentinos— até uma transição total.

Também defende que "nenhuma reforma monetária pode funcionar se não forem neutralizadas as duas fontes de impressão de dinheiro: o déficit fiscal [despesas públicas maiores que receitas] e o déficit quase fiscal", a dívida interna do próprio Banco Central.

O órgão vende títulos públicos aos bancos para retirar de circulação os pesos que ele próprio imprimiu e precisa pagar juros, gerando mais dívida. Parte do plano de Milei consiste em comprar esses títulos (chamados de Leliqs) de volta, parar de imprimir dinheiro e depois liberar o comércio de dólares, hoje muito limitado.

As principais críticas de economistas são que, primeiro, será muito difícil colocar o plano em prática num país que não tem reservas da moeda americana, por suas recorrentes crises e dívidas externas. Segundo, a dolarização poderá empobrecer fortemente grande parte da população que não tem dólares guardados.


2. Eliminar gastos públicos

Milei defende um "plano motosserra" no Estado, termo que foi sumindo de seu vocabulário nas últimas semanas. Num passado não tão distante, ele já defendeu que "quem recebe planos sociais deveria ir trabalhar", mas na reta final da campanha passou a negar que vá cortar subsídios e planos sociais, por isso ainda não se sabe o que ele fará.

O que ele já confirmou é que vai manter o plano de reduzir os atuais 18 ministérios para 8 —com a extinção de pastas como Cultura, Mulheres e Ciência e Tecnologia— e privatizar "tudo o que puder", incluindo a petroleira YPF, a TV Pública, a Rádio Nacional e a agência de comunicações Télam. Também confirmou que vai "levar a zero" as obras públicas, abrindo licitações.


3. Abrir a economia

Milei promete uma abertura comercial unilateral "à la chilena" ao mercado mundial. Aposta que as reformas tornarão as empresas argentinas competitivas, o que hoje não são. Ele quer reduzir fortemente os impostos, diminuir taxas e direitos de exportação e eliminar tarifas de importação para insumos, ajudando o campo a "voltar a ser o celeiro do mundo".

Apesar da vontade de se abrir, já afirmou que sairia do Mercosul e que deixaria de falar com os presidentes do Brasil e da China, mas que isso não afetaria as relações entre empresas. Coube à sua provável chanceler, Diana Mondino, dizer que a ruptura com o bloco não será tão brusca. Mas ela admite que um eventual governo Milei buscaria acordos de livre comércio fora do bloco sul-americano, o que é contra o estatuto do grupo.

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