Milei eleito agradece a líderes mundiais que insultou quando candidato

Novo presidente argentino já chamou papa de comunista, Biden de socialista e Boric de empobrecedor

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Buenos Aires

Aos líderes mundiais que insultou quando candidato, Javier Milei agora agradece enquanto presidente eleito. O ultraliberal argentino disse "obrigado" a uma lista de personalidades globais que lhe felicitaram pela vitória no pleito do último domingo (19), entre elas gente a quem ele já fez críticas no passado.

"Agradeço a cada um dos líderes mundiais que entraram em contato comigo para parabenizar nossa equipe e expressar seus bons votos para o futuro da Argentina", escreveu nesta quarta (22) o direitista nas redes sociais, marcando 22 nomes, entre presidentes e diretores de órgãos como o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Montagem de fotos do ultraliberal Javier Milei, presidente eleito da Argentina, tiradas durante ato de campanha em outubro - Luis Robayo - 18.out.23/AFP

O primeiro e mais notório deles é o também argentino papa Francisco, a quem ele já chamou de "representante do mal na terra". Mas há também o líder chileno de esquerda, Gabriel Boric, que caracterizou como "esquerdista" e "empobrecedor" no passado, e o francês Emmanuel Macron, a quem já se referiu pejorativamente como "progre" (progressista).

Outro a que ele agradeceu depois foi o americano Joe Biden, que o cumprimentou durante a tarde em uma ligação de cerca de 10 minutos onde os dois "discutiram a importância de continuar a fortalecer a relação entre os EUA e a Argentina". O ultraliberal disse em maio à CNN que o democrata é um "socialista moderado, mas é socialista".

A declaração foi dada ao jornalista argentino Andrés Oppenheimer, que lhe perguntou o que ele considerava socialismo. "Para mim, qualquer um que tenha um perfil onde coloque o coletivo à frente do individual entra na categoria de socialista [...] O Partido Democrata tem um perfil, digamos, socialista da nossa perspectiva", afirmou.

Já com Lula (PT) não houve contatos até aqui. Nesta quarta, porém, o argentino também amenizou seu discurso em relação ao brasileiro, dias depois de ter se referido a ele como comunista e corrupto. "Se Lula quiser vir à minha posse, será bem-vindo. Ele é o presidente do Brasil", afirmou ao canal argentino Todo Notícia.

Mesmo assim, a possibilidade de Lula comparecer à posse no dia 10 de dezembro continua sendo improvável, segundo ministros que despacham diariamente com ele. No dia das eleições, o presidente reconheceu rapidamente a vitória e deu parabéns "às instituições e ao povo argentino", mas não citou o nome do ultraliberal.

Após uma conversa de 8 minutos por telefone na terça (21), o papa Francisco agora ganhou um "agradecimento especial" e foi chamado de "Sua Santidade" por Milei, que o convidou a visitar a Argentina. Um tratamento bastante diferente em relação a dois meses atrás, quando disse que Jorge Bergoglio tinha "afinidade com comunistas assassinos".

"O papa joga politicamente, tem uma forte interferência política e demonstrou, além disso, uma grande afinidade com ditadores como [o cubano Raúl] Castro ou [o venezuelano Nicolás] Maduro. Ou seja, está do lado de ditaduras sangrentas", acusou Milei em entrevista ao jornalista americano conservador Tucker Carlson um mês depois de ganhar as eleições primárias e se tornar favorito.

"Na verdade, não os condena e é bastante condescendente também com a ditadura venezuelana. Ele é condescendente com todos os de esquerda, mesmo que sejam verdadeiros assassinos. Além disso, é alguém que considera a justiça social como um elemento central, e isso é muito complicado", afirmou na época, após diversos outros insultos no passado.

O chileno Boric, a quem ele agora expressou gratidão, também foi duramente criticado em julho deste ano num evento promovido pelo ativista liberal Axel Kaiser, em Santiago.

"Entre esquerdistas se unem, ou seja, entre empobrecedores se unem. E, assim como esperamos exterminar a praga kirchnerista, na verdade, toda a praga socialista que assola a Argentina por mais de cem anos, espero que vocês tenham a sorte e a altura para se livrarem também desse empobrecedor do Boric", discursou Milei na ocasião.

Macron foi outro que não escapou. Em junho de 2022, quando a Suprema Corte dos EUA suspendeu o direito constitucional ao aborto, o francês publicou: "O aborto é um direito fundamental para todas as mulheres. Deve ser protegido. Quero expressar minha solidariedade às mulheres cujas liberdades estão sendo minadas pela Suprema Corte dos Estados Unidos".

Milei, já em campanha pela Presidência, respondeu ao tuíte. "Aqui outro progre... Contra a vida, contra a biologia, contra a matemática, contra a lógica, contra o liberalismo. Para não falar do respeito às instituições, especialmente às de outros países... Com líderes assim, é um milagre que o planeta ainda exista", escreveu.

Na lista de agradecimentos está ainda Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, o qual o argentino não criticou diretamente, mas que entra no pacote de críticas ao Brics, bloco que o país integra junto ao Brasil, Rússia, China e África do Sul.

"Nosso alinhamento geopolítico é com os Estados Unidos e Israel. Essa é a nossa política internacional. Nós não vamos nos alinhar com comunistas", afirmou Milei em agosto, quando o atual presidente peronista Alberto Fernández anunciou que aceitaria o convite recebido para entrar no grupo.

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