'Querem me calar', diz repatriado de Gaza que apagou postagens contra Israel

Brasileiro-palestino diz sofrer ameaças por publicação de 2015 em que apoiava queimar ônibus israelenses

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Guarulhos (SP)

Um dos repatriados de Gaza que aterrissou em São Paulo nesta quarta-feira (15), o palestino-brasileiro Hasan Rabee disse estar recebendo uma série de ameaças online desde a quarta-feira (14). O motivo é uma postagem que ele fez em uma rede social em 2015 que recentemente voltou à tona.

Na publicação de oito anos atrás, ele sugeria que estava "no momento certo de explodir ônibus em Israel" junto de uma foto de um ônibus queimado. Rabee, 30, apagou o post pouco depois que internautas o redescobriram.

Questionado pela Folha sobre o assunto, ele disse que "estão usando a foto para nos calar, é isso que querem; eu era um dos únicos que estavam falando" [sobre a crise humanitária vivida na Faixa de Gaza em meio aos ataques de Israel na guerra atual].

Rabee reiterou que não se lembrava da publicação, e acrescentou que possivelmente a postou em um "momento de raiva". Ele fez a mesma declaração ao Jornal Nacional ao ser indagado sobre o tema, na terça-feira (14). Ao Jornal Nacional, da TV Globo, ele afirmou que não se lembra da publicação e que pode ter postado "com raiva". "Não sou a favor de violência nenhuma, sou a favor de conversa, sempre. Pode ser que eu tenha postado com raiva, mas, em 2015, não me lembro de nada", disse à emissora.

Em outras postagens, Rabee havia publicado charge que retrata líderes de Israel e Egito se cumprimentando, com legenda em que chama os dois países de "filhos da puta", e uma montagem de Binyamin Netanyahu, premiê israelense, vestido com uniforme nazista, na qual ele é chamado de "Adolf Netanyahu".

Homem de pele morena e barba, na faixa dos 35 anos, de pé dentro de um avião, aponta para outros passageiros nas poltronas.
Hasan Rabee, um dos brasileiros repatriados na Faixa de Gaza, mostra resto do grupo no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) destacado pelo governo para transportá-los de volta ao Brasil, em 13 de novembro de 2023. - Hasan Rabee no Instagram

Rabee chegou a Guarulhos com outros 25 repatriados de Gaza e, agora, vai para casa de parentes. Ele vive na capital paulista desde 2014 e vai reencontrar a família de sua esposa, depois da saga que se tornou a tentativa de voltar ao Brasil.

"[Quero retomar] minha vida normal. O trabalho, dia a dia, sábado e domingo para passar com as crianças. Na verdade, as crianças querem muito ir para o shopping, temos que fazer essa tarefa quando chegar. Eles sempre vão nos brinquedos do shopping", disse Rabee.

Ele nasceu em Gaza e tem cidadania brasileira. Em Brasília, afirmou que chegou a passar fome e sede na área em conflito. O repatriado havia viajado para o casamento da irmã e ficou preso no país após o início do conflito, em 7 de outubro, quando o Hamas atacou Israel e deixou 1.200 mortos, muitos deles civis.

Recebido, junto com os outros repatriados, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros do governo federal e comandantes das Forças Armadas na pista da Base Aérea de Brasília, Rabee falou à imprensa ao lado das autoridades, agradeceu ao Brasil e chamou de massacre o cenário em Gaza.

"O que está acontecendo lá é um massacre. Difícil para todos vocês entenderem o que a gente passou lá. As bombas caindo por todo lado, as minhas filhas ficaram muito chocadas lá, muito triste", disse.

"Ficamos lá 37 dias. Foi muito sofrimento. Às vezes, a gente até passava fome, passava sede. Queria agradecer à embaixada do Brasil, que nos deu bastante suporte, alimentação, recursos para a gente comprar comida", afirmou.

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